Aeroportos lotados, aquela correria e afobação características da época. Na cabeça de quem aguarda o embarque, a dúvida atroz:
– Vai dar para sair do chão?
A partir disso, conforme o noticário da briosa, brava e indormida imprensa, Natureza Morta alçou voo – em outra direção.
Em 1906, mais precisamente no dia 23 de outubro, em Paris, a ensiedade e expectativa tinham outro motivo: um homem vai tentar voar. E o maluco, é claro, é um brasileiro.
Trabalhar é preciso
Para dar serviço ao pessoal da seção Achados&Perdidos, que anda numa moleza tremenda – “moleza de sempre”, segundo Beronha, nosso anti-herói de plantão, o solitário da Vila Piroquinha pediu mais detalhes da façanha de Alberto Santos Dumont.
Milhares de pessoas foram ao campo de Bagatelle, arredores de Paris (“ué, lá também tinha a Vila Piroquinha?”, surpreendeu-se Beronha).
Tudo por causa do brasileiro e a tentativa de voar num veículo que pesa muita vezes mais do que o próprio ar.
Consta que a multidão queria testemunhar o insucesso. Não era para menos. Treze tentativas anteriores fracassaram.
Beronha:
– Era a turma que vai ao cinema para torcer pelo bandido.
Mas, como registra o livro “80 Anos de Brasil”, o que se viu foi um grande espetáculo:
– Lentamente, a engenhoca se move. É o 14 Bis, 10 metros de comprimento, 12 de envergadura, superfície total de 80 metros quadrados. O peso: 160 quilos, que devem ser suspensos por um motor de 14 HP. Impossível!
Um grande passo para a humanidade
Mas, surpresa, a máquina começa a se erguer.
– Está a dois ou três metros acima de todas as cabeças. E percorre nada menos que 60 metros no campo de Bagatelle. O homem conseguiu o improvável, fez o primeiro voo mecânico do mundo – devidamente homologado.
Aplausos, chapéus jogados para o ar, lenços agitados. Santos Dumont é o Pai da Aviação.
Título de matéria publicada pela imprensa da época: “Uma improbabilidade técnica nos céus de Paris”.
E Natureza aproveitou para lembrar que na galeria dos ilustres torcedores do Clube Atlético Paranaense está Santos Dumont.
Diante do sorriso maroto de Beronha, explicou que o Pai da Aviação era torcedor do Internacional Foot Ball Club.
No dia 28 de maio de 1916, Santos Dumont preencheu de próprio punho a proposta de sócio do Internacional. Depois, virou atleticano com a fusão de Internacional e América, em 1924.
– Esse time só me dá alegria – comemorou Beronha.
ENQUANTO ISSO…