Certos episódios ganham mais cores e contornos e ficam mais vivos com o passar do tempo. E, por supuesto, devidamente reforçados a cada campanha eleitoral. Basta ler (ou reler) as histórias reunidas no livro Folclore Político, do jornalista Sebastião Nery, Geração Editorial, 2002 – 651 páginas.
Lições a começar pela apresentação: “O ex-deputado e jornalista Sebastião Nery mostra que existem duas histórias políticas do cotidiano – uma é a oficial, pomposa, solene, que toma conta do noticiário dos jornais e das revistas, com declarações calculadas por parte dos políticos, denúncias, articulações, tramas e notas nem sempre verídicas – tudo coberto por um manto de grave seriedade; a outra é risonha, marota, contada em segredo nos gabinetes fechados, na sala do cafezinho do Senado e da Câmara, nos grotões mais distantes e até nas alcovas”.
Um ano com 13 meses
De fato. Um dos casos, que leva o título Honestidade não se compra.
Segue o relato de Nery:
– José Bonifácio e Martim Francisco, os irmãos Andrada e Silva, eram ministros de D. Pedro I. Cada um ganhava quatro contos e 800 mil-réis por ano.
No fim do mês, José Bonifácio recebeu 400 mil-réis, guardou-os no fundo de seu chapéu e foi para o teatro. Como safado é que nem capim e dá em qualquer lugar, alguém acabou roubando o chapéu e o dinheiro. Ao saber da história, o imperador chamou Martim Francisco, ministro da Fazenda, e ordenou que pagasse novamente a José Bonifácio. Mas Martim Francisco foi contra:
– Não, majestade. O ano tem doze meses, e não treze para os protegidos.
Conclusão: Martim Francisco teve que pegar o seu salário e dividi-lo com o irmão José Bonifácio.
ENQUANTO ISSO…