Depois de conferir o noticiário da briosa, brava e indormida imprensa, impactado com tantas coisas impactantes, Natureza Morta recolheu-se à biblioteca da mansão da Vila Piroquinha.
Atrás da Revista X-9.
Beronha, que chegava para serrar as sobras da ceia de Natal, quis detalhes.
X-9 era uma revista. Surgiu no fim da década de 1940 e, acha fôlego (ou sangue), sobreviveu até 1970. Trazia contos e histórias policiais, de mistério e quadrinhos. Mas, como hoje, de maneira generalizada, o básico era a violência. E os crimes com muito sangue.
– Com o detalhe que, na capa, estampava um solene aviso: “Impróprio para menores até 18 anos”. Anos depois, já que era alvo críticas e reprimendas, principalmente por parte de setores religiosos, o alerta ficou mais incisivo: “Para adultos”. Hoje, uma advertência inócua. Tudo corre livremente.
Haja impacto
As capas eram feitas em cima de fotos ou de desenhos. Algumas, dignas de cartazes de filmes. Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, as aprovaria, certamente. Para fugir do macarthismo tupiniquim, as edições não eram expostas ostensivamente nas bancas.
A revista circulava quinzenalmente e chegava a ter 100 páginas. Papel jornal.
O que ajudou a marcar a existência da X-9 foi o Suplemento Amarelo do Crime, que prometia “narrativas verídicas e completas dos crimes que mais chocaram a opinião pública nacional”. Narrativas em páginas amarelas, claro. Evita-se o marrom.
– Por motivos óbvios, mas esta já é outra história – acrescentou o solitário da Vila Piroquinha. A imprensa marrom já corria – ou mordia – à solta.
Estilo violência made in USA
Numa edição de janeiro de 1949, a capa era “Jornada suicida”; noutra, de 1957, “Não adianta chorar!” e, numa de 1958, “Marcados para a morte”.
A maior parte das matérias era cópia de revistas similares americanas. Autores brasileiros raramente compareciam à cena do crime.
– No caso, o crime compensava. Inteiramente – ressaltou Natureza, antes de lamentar que, hoje, faltaria espaço em revistas ou jornais para focalizar e denunciar e analisar tantos crimes.
– Ah, só com o passar do tempo X-9 virou sinônimo de dedo-duro. Principalmente às vésperas e depois do golpe civil/militar de 64 – encerrou.
– Elementar, meu caro…
ENQUANTO ISSO…
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