Informado por alguém (de corpo presente) da realização em Curitiba do II Encontro de Blogueiros, Redes Sociais e Cultura Digital do Paraná, ou 2º ParanáBlogs, professor Afronsius levou o assunto para o bate-papo com Natureza Morta e Beronha. Junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, por supuesto.
Depois de lembrar, en passant, que até o Papa Bento XVI, em dezembro passado, tinha sido abduzido pela alta tecnologia do twitter, Natureza tratou de mandar a conversa pra lateral:
– Macaco velho não põe a mão em cumbuca.
Periquito come milho…
O solitário da Vila Piroquinha acionou a Seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, que prontamente sacou do fundo do baú um exemplar do Esquinas de S.P. – jornal laboratório da Faculdade Cásper Líbero, número 28, dezembro de 2002. Um número especial dedicado aos 80 anos do rádio no Brasil, que já foi o máximo do máximo. O texto, assinado por Diego Klautau, rende homenagem a uma das vítimas no tiroteio da comunicação, o padre Landell de Moura.
Trechos do texto que leva o título “De herege a herói”, de Klautau:
– A patente oficial do domínio técnico da transmissão de ondas de rádio é do italiano Guglielmo Marconi, em 1896. Contudo, em 1892, um brasileiro já transmitia ondas de rádio no interior de São Paulo. A afirmação é de historiadores sérios, que garantem que o padre gaúcho Roberto Landell de Moura teria realizado as mesmas transmissões de Marconi quatro anos antes, em Campinas e em São Paulo.
– Enquanto a patente de Marconi se referia apenas à transmissão de mensagens (radiotelegrafia), o padre Landell teria avançado em sua pesquisa, atingindo a transmissão de som (radiofonia). Mesmo só tendo sido registrada em 1906, pelo canadense Reginald Aubrey Fessenden, documentos históricos comprovam que a técnica da radiofonia foi inventada pelo padre Landell em 1900.
– Nascido em Porto Alegre (21 de janeiro de 1861), Landell iniciou seus estudos religiosos em Roma, em 1879, no Colégio PioAmericano, e na área de ciências químicas e físicas, na Universidade Gregoriana.
Bruxo, herege, louco, espírita…
Ainda o texto de Klautau:
– A maior dificuldade de padre Landell foi conciliar os ofícios de sacerdote e cientista. Suas pesquisas eram vistas com muita desconfiança pela fé popular e com rigor pela comunidade científica. Mesmo acusado diversas vezes de bruxo, herege, louco, padre renegado e espírita, mantinha-se firme com seus projetos científicos.
– Em 1900, na paróquia de Santana, na capital paulista, ao retornar de uma visita a um doente, encontrou seu laboratório destruído e suas anotações queimadas por um grupo de descontentes com seu “padre impostor e herege”.
Os conflitos se multiplicavam, inclusive com o bispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, “que o considerava um praticante do candomblé e do espiritismo”. O jeito foi seguir para Nova Iorque, onde aperfeiçoou suas teorias, construiu modelos de seus equipamentos e em 1904 obteve três patentes oficiais norte-americanas: a do transmissor de ondas, a do telégrafo sem fio e a do telefone sem fio.
Até “comunicações planetárias”
De volta ao Brasil em 1905, padre Landell esteve em audiência com o presidente Rodrigues Alves. Precisava de dois navios para demonstração pública de seus experimentos. Tudo bem encaminhado. Klautau com a palavra:
– Um emissário do presidente quis detalhes, como a distância que os navios deveriam ficar um do outro: Landell respondeu que em qualquer parte da Terra, “e que no futuro suas pesquisas permitiriam até mesmo comunicações interplanetárias”.
No dia seguinte, um telegrama da Presidência da República anunciaria que estava cancelado o evento, e que o padre deveria esperar “uma próxima oportunidade”. A partir de então, afastou-se cada vez mais de suas pesquisas, dedicando-se ao sacerdócio. Em julho de 1928, o já monsenhor Roberto Landell de Moura falece na Beneficência Portuguesa de Porto Alegre.
Natureza, encerrando o papo – ou transcrição, apelou para Galileu:
– E pur se muove, tenha ele dito isso ou não.
ENQUANTO ISSO…