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Os porteiros da noite (e do dia)

Como bem registrou Wálter Fanganiello Maierovitch na coluna Linha de Frente, que assina na revista Carta Capital, a Justiça, no Brasil, parece tatear às cegas na escuridão. E citou 3 exemplos: o mais notório, conforme Natureza Morta, enquadra o deputado Paulo Maluf. No dedo de prosa com o professor Afronsius e Beronha, junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, Natureza abriu aspas: “juristas convocados pelo Senado acabaram de concluir um necessário anteprojeto de reforma do nosso vetusto Código Penal. Este anteprojeto será apreciado pelo deputado Paulo Maluf, que também integra a Comissão de Constituição e Justiça. O deputado é considerado criminoso internacional e, se deixar o Brasil será preso por mandado de captura expedido pela Interpol”.

Condenado viaja de ônibus

Na sequência, Natureza contou que, de absurdos, temos um amplo leque. Ainda na semana passada, pegou um ônibus para ir ao centro de Curitiba. Ao entrar no biarticulado, eis que dá de cara com uma pessoa que não via há muitos anos, mas sabia de sua existência pelo noticiário policial. O indigitado cidadão foi condenado no mês de maio a 35 anos de prisão, além do pagamento de 398 dias-multa (54 mil reais) e à perda do cargo público. – Nossa, que paulada – reagiu Beronha. O solitário da Vila Piroquinha contou, então, que o crime tinha sido fraudes em contas fiscais referentes ao recolhimento de ICMS. A mutreta foi descoberta pela Corregedoria da Receita. Ocorreu de 2008 ao início de 2010. – Ué, mas não estava no lugar errado, dentro de um ônibus? – escandalizou-se também o professor Afronsius. – Pois é… O gozado é que quem se sentiu mal fui eu, desconfortável, abalado, coberto de vergonha, arrasado, atingido pela nódoa infamante. Baixei a cabeça e desci no primeiro tubo. – E ele? – Aparentemente, tranquilão.

Lamentável reencontro

Ainda sobre o desagradável reencontro, Natureza disse que o súbito mal-estar fez com que se lembrasse de um filme, O Porteiro da Noite, de Liliana Cavani, com Dirk Bogarde e Charlotte Rampling. Em Viena, 1957, a sobrevivente de um campo de concentração encontra trabalhando como porteiro um ex-oficial nazista, torturador. Como reagir, o que fazer se um criminoso de guerra não foi punido e permanecia solto? – Mal comparando, foi o que senti.

ENQUANTO ISSO…


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