Depois de estacionar o carro no Juvevê e seguir a pé até um banco, no meio do caminho um cabôco parou e tratou de voltar, acelerado:
– Xi! Esqueci de colocar o cartão do EstaR…
Ao se aproximar do veículo, um susto: sobre o vidro dianteiro havia dezenas de papéis. Tremeu na base: levei uma enxurrada de multas.
Nada disso. Eram os tais santinhos pedindo votos para candidatos a vereador. Refeito do susto e depois de retirá-los para dar lugar e visibilidade à folha do EstaR, por curiosidade o nosso cabôco deu uma espiada num dos santinhos. O candidato todo sorridente, seu número, uma breve biografia e muitas promessas, por supuesto. O que chamou mesmo sua atenção, no entanto, foi um brevíssimo texto, duas linhas, num cantinho, escondido, letras bem miudinhas.
– Impressão: Gráfica tal – tiragem: 1.000.000 unidades.
1 milhão de exemplares com muitas imagens e totalmente em policromia.
Quase na porta do banco, parou e ficou a imaginar: qual seria o custo da tiragem (declarada) daquele santinho, até porque, pela legislação vigente, em Curitiba o limite de gastos foi fixado pelo TSE em R$ 465 mil (para vereador) e R$ 9,5 milhões (prefeito).
Na sequência, de concreto mesmo só descobriu uma coisa: o tal santinho já fez por merecer até registro nos Dicionários Houaiss e Aurélio:
– Santinho s.m. Pequeno prospecto de propaganda eleitoral com foto e número do candidato a cargo público.
Quanto à origem, o nome decorre de uma prática relacionada à Igreja. Antigamente, em qualquer época do ano, os padres distribuíam pequenos papeis com imagens coloridas de santos, que passaram a ser chamados de santinhos.
Dos santos santos aos santos mas não nem tanto foi um pulo.
Ah, dos dois dicionários constam os igualmente famosos santinhos de pau oco.
– Pessoa que se esconde atrás de uma falsa imagem.
ENQUANTO ISSO…