Por algum obscuro motivo, ainda desconhecido, Beronha bateu à porta do professor Afronsius. Queria saber se uma determinada palavra levava hífen. Adepto do provérbio chinês “não dê o peixe, ensine a pescar”, Afronsius recomendou que consultasse o dicionário.
– Já fiz isso. Não tem o que eu procuro…
As tais que sumiram do mapa
Surpreso, já que o nosso anti-herói de plantão é avesso a livros, escrita e dicionários, ficou sabendo depois que a dica “procure um dicionário” tinha sido passada por Natureza Morta.
Intrigado, pulga atrás da orelha, até porque curtiu e tem guardado em lugar seguro o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Morta – Palavras que sumiram do mapa, de Alberto Villas, 2012, Editora Globo, foi atrás do tal dicionário. Tratava-se do Mini Aurélio.
De fato, a tal palavra que Beronha buscava (toca discos!) não consta. Já no velho Aurélio, o Aurelião, eis que ela permanece:
– Toca-discos: S. m. Aparelho elétrico provido de um dispositivo que imprime movimento giratório constante e regular em discos fonográficos, e que, ligado a certos tipos de receptor de rádio, substitui o fonógrafo, a vitrola, etc.
Pela reforma ortográfica, é claro, além dos discos, perdeu o hífen, posto que o primeiro elemento termina com vogal e o segundo começa com consoante. Embora ocorram exceções, caso de anti-herói e sobre-humano e outras poucas.
Talvez, quem sabe, para compensar uma palavra que “sumiu do mapa”, tablet consta do Mini.
– Tablet (téblet) {Iingl.}, s. m.: computador que dispensa o uso do mouse ou teclado, já que é acessado com toque dos dedos ou com uma caneta especial.
Natureza, então, quis saber de algumas palavras que, sumidas do mapa, foram resgatadas pelo jornalista e escritor Alberto Vilas. De cabeça, professor Afronsius citou:
– Chulear (esta roupa), Homessa!, Kaol, maricas (vizinho é meio), patavina, quiproquó, sirigaita, tantã, urinol, xumbrega (está meio)… – e mandou o amigo ler o livro.
Quanto ao enigmático (morfologicamente) toca discos do Beronha, ele próprio, o Beronha, explicou mais tarde, com ares de Academia Brasileira de Letras:
– Tudo não passou de lamentável lapsus linguae de minha parte.
ENQUANTO ISSO…
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