Retrospectiva de 2014. A revista da OAB-PR inclui o ato público que marcou a passagem dos 50 anos do golpe civil militar de 64. Com a devida homenagem aos advogados que atuaram na defesa de presos políticos, principalmente na Auditoria da 5.ª Região Militar, em Curitiba, então instalada no quartel que existia na Praça Rui Barbosa.
Com edição da jornalista Ana Luzia Palka e reportagens de Gisele Rossi Ferreira e Raffaela Ortiz, temos que foram homenageados os advogados Antonio Acir Breda, René Ariel Dotti, Cláudio Ribeiro, Edésio Passos, Clair da Flora Martins, Vitório Sorotiuk, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, Elio Nazeri, João Bonifácio Cabral, Eduardo Rocha Virmond, Antenor Bonfim, José Rodrigues Vieira Netto, entre nomes da advocacia paranaense que “lutaram pelo Estado Democrático de Direito”.
Inclusive, e, agora, o registro fica por minha conta, eles abriam mão de honorários, como no caso do IPM dos Jornalistas da Última Hora.
Houve homenagem, igualmente, “àqueles que sofreram perseguição política, aos mortos e desaparecidos durante o regime militar no Paraná”.
A programação da OAB se estendeu até o final do mês de abril, com uma série de palestras nas principais universidades de Curitiba abordando o período militar e o processo de redemocratização.
– Para que não se esqueça, para que não mais aconteça.
A neta do coronel
1965/1966. Jornal O Estado do Paraná, Rua Barão do Rio Branco. Um jovem repórter cobria a espinhosa área militar. Onde era possível, no caso, no comando da 5.ª Região Militar, Rua Carlos Cavalcanti, 533, depois Solar do Barão e, hoje, também sede da Gibiteca. Além da Auditoria Militar, instalada no quartel da Praça Rui Barbosa.
Certo dia (sempre tem isso), setorista da área militar, eis que, na Auditoria, o tal jovem repórter e o fotógrafo Oswaldo Jansen ficam sabendo que, pela pauta de audiências, o coronel Jefferson Cardim Osório estaria no bancos dos réus.
Cardim chefiara um grupo na tentativa de derrubada do regime instaurado em 64. Num dos confrontos, Sudoeste do Paraná, tinha sido morto Carlos Argemiro Camargo, sargento do Exército.
E eis que, nos degraus da Auditoria, tímida e de passos temerosos, surge uma senhora. Com ela, uma criança, neta de Cardim Osório, que, envolvido e preso na guerra de guerrilhas, ainda não conhecia a menina.
O juiz auditor, Célio Lobão, permitiu um breve encontro de Cardim Osório com a neta. Oswaldo faz uma série de fotos. Uma delas, o ex-militar com a netinha no colo. Ambos esboçando um sorriso. No dia seguinte, a foto, com destaque, ilustra a matéria de O Estado do Paraná.
A reação foi imediata, violenta, ameaçadora. Que o diga a turma da TFP…
Onde já se viu humanizar um terrível inimigo, altamente subversivo e sanguinário? O jornal, porém, não se curvaria. Enfrentou a tempestade, não entregou seus profissionais. Que também receberam a pronta ajuda de advogados como o professor René Dotti, Elio Narezi e Acir Breda, para evitar o pior.
Como se diria mais tarde, tempos (deveras) bicudos.
ENQUANTO ISSO…
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