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O que pode resultar a união (intelectual e financeira) de um banqueiro, um comunista, escritores e um editor? Diante da pergunta de Natureza Morta, até o professor Afronsius patinou, sem falar do Beronha, nosso anti-herói de plantão.

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– A difusão de grandes obras da literatura – tratou de responder o solitário da Vila Piroquinha, que exibia O Ateneu, de Raul Pompéia.

O livro – de bolso – faz parte da BUP – Biblioteca Universal Popular -, volume 24, Editora Civilização Brasileira, 1963.

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A obra e os detalhes

Além da obra, escrita pelo romancista aos 24 anos e publicada inicialmente em 1888, às vésperas da Abolição e da República, na série da BUP a apresentação também é primorosa. Igualmente chama a atenção o comunicado do editor, Ênio Silveira:

– A produção deste livro de qualidade literária e de grande valor cultural ou recreativo, mas de preço acessível a todas as bolsas, foi possível graças à colaboração de José Luiz de Magalhães Lins, um banqueiro a serviço do Brasil e dos interesses nacionais.

José Luiz Magalhães Lins (Banco Nacional de Minas Gerais) não se limitava a livros. Sobre ele, por exemplo, afirmou Glauber Rocha:

– O exemplo do sr. José Luiz Magalhães Lins é de extraordinária importância neste momento que vive o cinema brasileiro, o mais fértil de sua história, o mais definido pela qualidade cada vez maior de seus filmes.

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Um banqueiro diferente

Alguns pensamentos de Magalhães Lins:

– Se na caverna houvesse água e comida, o homem ainda estaria lá.

– Quando passa a carruagem, você pensa no cocheiro ou no passageiro?

– No regime capitalista, mais importante do que um bom emprego é uma boa poupança.

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Ateneu e os reféns

A apresentação de O Ateneu ficou por conta de Astrojildo Pereira, aliás, Astrojildo Pereira Duarte Silva. Escritor, jornalista.

Sua atividade política vai de 1913 a 1965. Foi fundador do Partido Comunista Brasileiro e do Partido Comunista do Brasil e um dos fundadores do Jornal a Classe Operária.

Sua paixão: a organização dos intelectuais e da procura das raízes nacional-populares da cultura brasileira. O instrumento de trabalho foi a revista Literatura. O seu último grande empreendimento, a revista Estudos Sociais. Em 1964, com o golpe civil-militar, Astrojildo foi preso. Morreu no ano seguinte.

Na apresentação, classifica O Ateneu como uma obra una e múltipla. “O drama de Raul Pompéia, e muito particularmente neste livro, resulta do conflito entre o sentimento da solidão e o senso da solidariedade humana”.

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– E o livro? – quis saber o professor Afronsius.

– Mostra adolescentes recolhidos a um internato, na ebulição da personalidade, em meio às tentações da idade e aos rigores da instituição. Muita crítica social. Como destaca Astrojildo, uma obra dotada de um simbólico final revolucionário. Posso emprestá-lo, com a condição de que você me empreste um outro livro também. Depois, a gente faz a troca de reféns, como aconselha o Jorjão. Devolvo o seu e você devolve o meu.

Foi aí que Beronha não entendeu mais nada.

PS: o texto acima foi publicado no início de 2012, na Gazeta do Povo. Voltou à baila após uma conversa entre jornalistas, escritores e leitores insaciáveis, nesta semana, num dos bares de Curitiba.

ENQUANTO ISSO…

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