Depois de desligar (batendo o telefone), o lamento:
– Mais uma vez não foi desta vez…
Beronha, nosso anti-herói de plantão, virou um ser inconsolável. Culpa da Mega Sena acumulada e que insistiu em acumular milhões e milhões como prêmio. Recebeu a notícia do fiasco pelo telefone, posto que, preguiçoso, não vai até a lotérica. Mesmo quando corre o risco de embolsar uma tremenda bolada. Mas não desiste de fazer sua fezinha.
Não é de hoje, por supuesto, a paixão do brasileiro pelo jogo. Não só pelo oficial como pelo imbatível no paralelo.
Basta ver que até rendeu um samba carnavalesco que entrou para a história em 1917: Pelo Telephone.
– O chefe de polícia pelo telefone mandou me avisar que na carioca tem uma roleta para se jogar…
Segundo o livro 80 Anos de Brasil, editado em 1983 pela Souza Cruz, era tudo verdade. Ou quase. No Largo da Carioca, no Rio, existia realmente roleta – e não só uma, mas várias.
Elas tinham sido instaladas pelo jornal A Noite, num desafio – ou pilhéria mesmo – ao chefe de polícia, Aureliano Leal. É que, em 1916, doutor Aureliano tinha mandado fechar todas as roletas. Pelo telefone. Assim, no ano seguinte, no Carnaval, a população cantava o grande sucesso da época. Música de Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) e Mauro de Almeida, este, um jornalista, autor da letra.
Gravado na Casa Edison, caiu nas graças do povo.
Pelo registro da composição no Departamento de Direitos Autorais, da Biblioteca Nacional, com data de 6 de novembro de 1916, havia ainda uma partitura para piano assinada por Pixinguinha. Gênero: samba.
O primeiro, aliás, a ser gravado.
Naqueles tempos, azar mesmo era de quem não registrasse a autoria de uma música. Letra de música era como passarinho: quem pegasse virava dono.
ENQUANTO ISSO…