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– Dizem, e ensinam nas escolas, que o teatro nasceu na Grécia. O teatro que nasceu na Grécia é o teatro grego.
Só existe uma coisa melhor do que ler a obra de Ariano Suassuna. É um encontro com ele, contato direto, ao vivo. Uma dessas oportunidades ocorreu na quarta-feira, quando o autor do Auto da Compadecida, 85 anos, deu palestra em Brasília.

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Cultura antes de 1500

Valorizando a cultura brasileira, reivindicou o Brasil como berço de sua própria manifestação cultural.
– Os jesuítas trouxeram uma contribuição maravilhosa ao teatro, mas quando aqui chegaram, já encontraram o teatro. Já encontraram uma música, uma dança. A cultura brasileira vem de muito antes do ano de 1500.
E, citando Machado de Assis (“no Brasil existem dois países, o oficial e o real”), deu uma aula: “Todos nós somos criados, formados e deformados pelo Brasil oficial. Mas a gente tem que olhar para o Brasil real”.

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Quando Suassuna virou cobra

Na palestra, ou descontraído bate-papo, afirmou que “a massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto… Nunca vi um gênio com gosto médio.
Ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, Suassuna contou, entre (muitos) outros casos, que seu grito final de revolta só ocorreu, mesmo, no dia em que abriu uma enciclopédia e lá encontrou seu nome escrito como Ariano Suaçuna:
– Ariano Suaçuna, que, sem dúvida, mais parece nome de cobra que de gente. Foi a partir daí que tomei a decisão de só escrever o que quero, e como quero. São minhas heranças barrocas, populares e simbolistas que explicam entre outras coisas minhas maiúsculas “arbitrárias” e meus hífens “não autorizados”.

Avião só com viagem tediosa

Depois de falar sobre religião, a sua paixão pelo circo, confessou o medo de viajar de avião. Sempre com bom humor:
– Uma vez, uma moça me recebeu no aeroporto e disse professor, a viagem foi boa? Eu disse: minha filha, eu não conheço viagem de avião boa. Só conheço dois tipos de viagens de avião: as tediosas e as fatais. Avião é uma coisa tão ruim que a gente reza para a viagem ser tediosa.
Mostrou fotos antigas de cantadores nordestinos e de uma cena de teatro indígena, “com a riqueza cultural do país, muitas vezes esquecida”, segundo ele.
Ao escrever o Auto da Compadecida, “olhei para a literatura do povo brasileiro e procurei me manter fiel a ela”. Até porque, como ressalta, “a humanidade é uma só”.

O teatro na farsa desta vida

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Ao criticar a falta de referência ao próprio país, contou que, ao falar para estudantes de nível superior, todos conheciam o filósofo alemão Immanuel Kant, mas ninguém conhecia Matias Aires, filósofo brasileiro e contemporâneo de Kant.
– A universidade brasileira ensina de costas para o país e para o povo. Eles todos já ouviram falar em Kant, mas não em Matias Aires, o maior pensador de língua portuguesa do século 18. A gente não dá importância a um pensador da qualidade de Matias Aires.
Suassuna, então, leu um texto de Matias Aires:
– Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto nem cortejo e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece.
Ao fim da palestra, professor Afronsius, Natureza Morta e o próprio Beronha aplaudiram Suassuna entusiasticamente. Mesmo diante do televisor. E recomendaram a quem interessar possa a matéria sobre a palestra em Brasília, de Marcelo Brandão, no site da Agência Brasil.

ENQUANTO ISSO…