O frio muda o comportamento das pessoas. De grande parte, é claro, já que os (renitentes) frequentadores do Bar VIP da Vila Piroquinha continuam batendo ponto, embora sem a clássica e fulminante solicitação “uma bem gelada”. Agora, o que ecoa no recinto é:
– Uma, no ponto, temperatura ambiente.
Isso depois de consumir um cafezinho. Underberg com ou sem cachaça, ou, então, Raízes Amargas – um tal de Conhaque de Gerenciana.
Quem sabe para despistar alguma câmera indiscreta. O problema, no entanto, é encarar cerveja de luva e cachecol. Sem falar do banheiro.
E foi lá que professor Afronsius ouviu o seguinte comentário:
– Se continuar assim, vai falta frio para o próximo inverno curitibano.
Procede, alguém concordou, e, para justificar sua presença no boteco em pleno horário comercial, repicou:
– Não dá para trabalhar em casa com o computador.
– Ué? Congelou?
– O computador ainda não, mas a ponta dos dedos…
Do frio à Guerra Fria
Mais precavido, Natureza Morta, supostamente visto sobraçando um garrafão de vinho da colônia, recolheu-se à mansão da Vila Piroquinha. Afinal, com o vento cortando mais do que a língua da sogra…
Antes, porém, repassou aos “ocasionalmente todos os dias” usuários do Bar VIP o que dizem os mais experientes: evitem o balcão, vão beber na cozinha, junto ao fogão a lenha. Resta o problema de sempre: fazer xixi.
E disse mais:
– O tempo está bom para pegar fitas na locadora. Minha sugestão: O Espião Que Saiu do Frio (The Spy Who Came in from the Cold), 1975, de Martin Ritt. Adaptação do romance de John Le Carré, conta a aventura de um espião britânico em plena Guerra Fria, Alec Leamas, interpretado por Richard Burton. Aliás, na vida real, um pinguço assumido. Missão de Leamas: trabalhar como agente duplo. Ou seria dose dupla?
– E tem ainda a bela Claire Bloom, excelente atriz – emendou professor Afronsius.
Mais uma sugestão, agora por conta do professor Afronsius. Escalda-pés. A receita:
– Água quente, mergulhe os pés na bacia até onde der. Ideal é na altura do tornozelo. Conforme a medicina chinesa, a água ativa as defesas do corpo e relaxa os músculos. Ajuda a aliviar as dores no corpo, típicas da gripe. O ideal é manter os pés na água bem quente, mas suportável, de 5 a 15 minutos. Para não pegar friagem, após o pedilúvio enxugue os pés e coloque meias, bem grossas.
– Pedilúvio? – interveio Beronha.
– Pedilúvio, banho dos pés.
– Prefiro um pedilúvio via oral. Esquenta o corpo inteiro já no primeiro copo…
– Não serve um vinho?
– Vinho? Vinho me faz mal ao fígueiredo…
ENQUANTO ISSO…