Como se sabe, é pouco aconselhável fazer piada com certos assuntos e, em determinados lugares, especialmente em certas conjunturas políticas, pior ainda. Basta ver o que aconteceu no mês passado, na Espanha. Como registrou a revista Carta Capital desta semana, a estudante de história Cassandra Vera, 21 anos, foi condenada pela Justiça a 1 ano de prisão e sete de inabilitação, com perda de direito a bolsa de estudos, voto e cargos públicos.
É que a jovem publicou tuítes irônicos a respeito do atentado do ETA que, em 1973, matou o almirante Luis Carrero Blanco, chefe do governo franquista. A explosão fez seu carro voar, literalmente, dezenas de metros.
A revista lamenta que “uma pena como essa, a uma pessoa tão jovem, já soaria desproporcional se fosse um atentado mais recente com uma vítima mais inofensiva”. Ou seja, “tratando-se do corresponsável e herdeiro designado de uma ditadura assassina cujos crimes nunca foram julgados, o juízo torna-se um atentado aos direitos humanos muito mais grave do que aquele que alega punir”.
Republicando a foto do momento da explosão, que arremessou o carro a uma altura impressionante, a revista, por supuesto, reproduziu uma das piadas de Cassandra, a mais venenosa:
– A ETA promoveu uma política contra carros oficiais combinada com um programa espacial.
Ainda sobre o episódio: o atentado ocorreu nas imediações da Castellana, zona nobre de Madri. Operação Ogro era o nome do plano a ser executado. Membros da organização separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna – Pátria Basca e Liberdade) alugaram um porão no número 104 da Rua Claudio Coello e escavaram um túnel até o centro da quadra, onde colocaram o artefato (100 quilos de carga explosiva), detonado exatamente quando da passagem de Carrero Blanco.
O Dodge 3700 GT chegou a uma altura equivalente à do quinto andar de um edifício próximo, caindo no terraço. Logo depois, entre os inimigos de Franco passou a correr um novo grito de guerra:
– Arriba Franco, más alto que Carrero Blanco!
ENQUANTO ISSO…