Apesar de todos os avanços, existe gente que ainda mantém o radinho de pilha sempre à mão. Até mesmo quando tem futebol na televisão do bar VIP da Vila Piroquinha. Alguns assíduos frequentadores do boteco não gostam da “concorrência”, e com certa razão. Afinal, há uma pequena diferença entre a “chegada” da transmissão radiofônica e a da televisão. A do rádio leva vantagem. Questão de fração de segundo, mas, principalmente no futebol, dentro e fora de campo, poucos segundos podem fazer uma tremenda diferença.
Daí, segundo testemunho de Beronha, embora o nosso anti-herói de plantão insista de pés juntos que não é chegado a bater ponto naquele boteco, houve alguns probremas.
Exemplo: cobrança de escanteio, a bola sobe e, antes de chegar à área, alguém (radinho Spicca no ouvido) já comemora ruidosamente: gol! – para espanto dos demais, que permaneciam de olho na imagem da televisão.
– A turma se sentiu prejudicada e exigiu que o radinho fosse desligado. Ou que o torcedor não comemorasse nada, nada mesmo, antes da televisão trazer o lance.
– E aí, como ficou?
– Decidiram retirar as pilhas do radinho do incômodo torcedor. Só seriam devolvidas depois dos 90 minutos, “para ouvir os comentários” – informou Beronha.
– Tudo certo, então?
– Nem tanto. O homem do radinho ameaçou jogar uma pilha na cabeça da torcida adversária, mas decidiu tirar o time e nunca mais voltar ao boteco.
– É, o rádio mantém seu encanto e fiéis seguidores.
Alguns grandes momentos
Sobre o velho e sofrido rádio, a seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, buscou um de seus momentos mágicos. A data: 28 de agosto de 1941, exatamente às 12h55. Foi a estreia – na época estréia com acento – do Repórter Esso, na Rádio Nacional, do Rio.
Fanfarras e clarins compunham o prefixo que ficaria famoso. O plim-plim da época. O locutor da primeira edição do RE foi Romeu Fernandes, que anunciou o ataque da RAF, a Real Força Aérea britânica, à Normandia. E a inauguração do Palácio da Guerra, na Praça da República, no Rio de Janeiro. O radiojornal – “o primeiro a dar as últimas” – permaneceu no ar por 27 anos.
A voz grave e solene
A partir de 1944, prosseguindo até 1962, o locutor titular do Repórter Esso foi Heron Domingues. Tornou-se a fase áurea do noticioso, que, aproveitando as novas técnicas ditadas pela escola de comunicação radiofônica dos Estados Unidos, trazia notícia curtas e objetivas. A mesma escola que nos deu o lead e o sublead no noticiário da imprensa escrita – e dá-lhe Frazie Bond nos estudantes de jornalismo.
– Nada de encher linguiça – acrescentou Natureza Morta. Linguiça que, aliás, além de servir para amarrar cachorro, levava trema.
“Testemunha ocular da História”
A última transmissão do Repórter Esso, já sem a narração grave e solene de Heron Domingues, ocorreu no dia 31 de dezembro de 1969. O locutor, Roberto Figueiredo, começou a chorar quando leu a última notícia daquele dia. Era o fim, o adeus do Repórter Esso, a “testemunha ocular da História”.
Muita gente também chorou pelo Brasil afora.
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