Como a rodada do feriadão foi das mais calientes, esquentando a orelha principalmente de torcedores de determinados times, que levaram chumbo grosso, o assunto, hoje, seria futebol. Inevitavelmente.
Um dos brindados por derrotas (“não acertaria nenhum de seus prognósticos nem com palpite triplo”), o professor Afronsius (ao que se sabe torcedor do Barueri, Flamengo e Palmeiras), chegou citando Nietzsche, tentando despistar:
– Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.
De Zaratustra a Prancha
Natureza Morta explicou para um ressaqueado Beronha (“culpa do feriadão”) que Nietzsche, ou Friedrich Nietzsche, é o filósofo alemão que escreveu “Assim Falou Zaratustra”, isso entre 1883 e 1885. No original, Also sprach Zarathustra, esnobou. Beronha, que não estava entendendo nada, continuou sem entender menos ainda.
O solitário da Vila Piroquinha preferiu, então, recorrer a outro livro que traz falou no título: “Assim Falou Nenem Prancha”, de Pedro Zamora, Editora Crítica, 1975, com prefácio de João Saldanha.
Algo mais acessível, ou entendível, como prefere nosso anti-herói de plantão, posto que futebolístico. “E no campo da bola todos nós somos doutores”.
Perigo de gol
Ensinava nosso maior filósofo do futebol, Antonio Franco de Oliveira, o Nenem Prancha: “Jogue a bola para cima, pois enquanto ela estiver no céu, não tem perigo de gol”. E por aí vai, ou vamos:
– Não maltrates a menina que ela nunca fez mal a você.
– O futebol é simples; o difícil é querer jogar bonito.
– Jogador é o Didi, ele joga bola como quem chupa laranja.
Peladeiro de origem
Zamora diz que o futebol nasceu peladeiro. “Peladeiro, porém ofensivo. Os jogadores se mandavam todos com a bola para o ataque. Iam em bando e em bando voltavam”.
Mudou muito de lá para cá. Mas vale a observação de Dácio de Almeida. Quando pintou na área o chamado futebol total, com deslocamentos vertiginosos dos holandeses de Cruyff, foi preciso:
– É uma pelada organizada.
Nenem Prancha assinaria embaixo.
E vem a lição de Pelé: “O segredo do grande jogador é jogar com entusiasmo e, sobretudo, pensar cada jogada antes da bola lhe chegar aos pés. O importante, portanto, não é ver a jogada, mas antever”.
Hora do apito final
Para encerrar, já que o professor Afronsius continuava de cabeça inchada e Beronha disparava prolongados bocejos, Natureza, ainda de posse do livro sobre Nenem Prancha, citou Armando Nogueira, o mestre:
– A paixão do futebol tem me pesado a vida, de tantas emoções que já não tenho direito de lastimar se um dia a morte me queira surpreender no instante de um gol.
Como o talento, paixão não tem limite nem fronteiras.
ENQUANTO ISSO…
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