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Como todas as greves, a que paralisou o transporte coletivo em Curitiba trouxe algumas lições. Uma delas, segundo Beronha, foi ouvida no Bar VIP, aquele mesmo:
– A logística não é um problema só da Ambev na hora de entregar a cerveja. É também de Curitiba. Não se encontrava táxis na cidade, muito menos carros particulares para circular como lotação.
De fato, concordou Natureza Morta. No primeiro dia de paralisação, parte da frota (30%) deveria circular. Deveria. No segundo dia, quarta-feira, a determinação da Justiça do Trabalho para que circulasse 70% dos ônibus em horário de pico e 50% em horário normal bateu na trave.
– Era mais fácil encontrar um milionário da Mega-Sena do que um ônibus nas ruas – emendou Beronha.

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Operação Capitão Gancho

Nosso anti-herói de plantão disse que foi um salve-se quem puder. No Bar VIP, aquele que ele diz frequentar “só ocasionalmente todos os dias”, os funcionários deram o cano. Para manter a cozinha funcionando, Rosbife, o proprietário, encontrou a solução nos filmes de piratas.
– Como? – o solitário da Vila Piroquinha demonstrou curiosidade.
– Simples. Para completar a tripulação, o capitão mandava um grupo recolher pinguços caídos na saída e dentro das tabernas. Quanto mais bebum, melhor. O infeliz acordava no outro dia, ainda balão, dentro do navio, em mar aberto, e devidamente incorporado. Fazer o quê? Pular e voltar a nado?
– É, um alistamento altamente compulsório…
– Só que a marujada do Rosbife foi recolhida no próprio boteco e nas bodegas próximas… Problema foi no dia seguinte. Os pinguços sumiram. Faltou quorum…

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Repressão e conquistas

Para voltar a falar sério, Natureza acionou a seção
Achados&Perdidos, exclusiva do blog. O número de greves no Brasil sofreu uma redução a partir de 1913. Certamente até pelo prenúncio da I Guerra Mundial (1914 -1918).
Menos greves, porém com mais força e organização. Em 1917, um exemplo, em São Paulo. Os operários da fábrica de tecidos Crespi decidiram parar: reivindicavam aumento salarial de 25% diante da decisão da empresa de prolongar o trabalho noturno. Baixaram para 20% e nada obtiveram. O movimento cresceu com a repressão policial, que feriu quatro operários e matou um. Outras indústrias e empresas de serviço aderiram à greve, que se alastrou, chegando ao interior. Um mês depois, 70 mil trabalhadores estavam parados. A capital ficou sem luz e bondes; comércio e indústria paralisados.

Direito a férias anuais

O acordo só veio 45 dias depois. As exigências foram atendidas: aumento salarial, jornada de 8 horas de trabalho, proibição do trabalho para menores de 18 anos, libertação dos grevistas presos e concessão do direito de organização em associações reconhecidas.
Foi uma das maiores greves da história do país. E rendeu mais frutos: no fim de 1917, o governo regulamentou o trabalho feminino e infantil. Estabeleceu cargas horárias e vetou o trabalho de menores de 12 anos, de mulheres no período noturno, e de grávidas um mês antes e um mês após o parto.
Em 1919 e 1920 voltaram as greves. A classe trabalhadora conquistaria aumento para várias categorias, seguro social em caso de acidente e até o compromisso de férias anuais.
– É importante conhecer um pouco da dura luta do trabalho – finalizou Natureza.

ENQUANTO ISSO…

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