Cada vez mais perplexo e acuado pelo admirável mundo novo, professor Afronsius não deixou por menos:
– Estou, como se dizia antigamente, com a alma lavada. E assino embaixo.
Referia-se ao texto Qual é a senha?, do blog de David Coimbra, no jornal Zero Hora. Coimbra começa lembrando o uso da senha durante as guerras, quando o desprevenido corria o risco de levar chumbo. E fogo amigo:
– A senha! Qual é a senha? Diga a senha ou eu atiro!
Bum! Ou bang.
“É assim que me sinto, no mundo da internet. Já tentei ter uma única senha, que me desse acesso a todos os recônditos virtuais em que preciso ingressar, mas não deu certo. Alguns sites pedem senhas com letras maiúsculas e minúsculas, outros não aceitam maiúsculas, há os que exigem números e letras e os que não deixam você ir em frente se você não colocar uma arroba ou um cifrão no meio da palavra. Resultado: tenho dezenas de senhas, quiçá centenas. Aí, volta e meia esqueço alguma, erro uma vez, duas e o site avisa: “Se você errar a terceira, sua conta será bloqueada”. Jesus! Começo a suar. Posso ver a arma apontada para meu peito e ouvir os gritos:
– Qual é a senha? Qual é a senha?”
Paciência oriental
Conta ainda David Coimbra que, nos Estados Unidos, “você só resolve suas pendências pela internet. E, como americano tem obsessão por segurança, você precisa de paciência oriental para se cadastrar num site”.
Um episódio: “Para pagar a conta de energia, tive de responder a tantas demandas, que, quando terminei, cheguei a ouvir a musiquinha do Senna: tatatá! Tudo isso para, depois, esquecer a senha. E, quando lembro, eles me fazem uma “pergunta de segurança”: Qual é o nome do seu melhor amigo de infância?”.
“De repente, por algum motivo, tenho que fazer um download. Detesto download. É um troço angustiante, cheio de fases. Numa delas, pode haver vírus. Tenho muito medo de vírus. Mas, não adianta, tudo é pela internet”.
Finaliza: “De fato, não saberia de tantas coisas, se não fosse a internet. Tenho de reconhecer. Mas não estou certo se vale a pena. A vida em que você só usava senha na guerra era mais simples de ser vivida”.
Professor Afronsius faz questão de ressaltar:
– E olha que autor é um sujeito ainda bem jovem. E, “entre tantas coisas” que ficou sabendo graças à internet, ele cita um monte de besteiras.
ENQUANTO ISSO…