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Sobre cerveja e Judas

Em torno de uma cerveja. Ou, como prefere Beronha, entorno uma cerveja. Depois de ouvir muitas reclamações no feriadão, no Bar VIP da Vila Piroquinha, por conta da cerveja que, via de regra, nunca vem “estupidamente gelada” para contentar a distinta clientela, professor Afronsius foi beber – Epa! De novo? – da sabedoria de Natureza Morta.
As divergências são um tema antigo, explicou o solitário da Vila Piroquinha. Mas, para não voltar muito mais no tempo, fixou-se em 1967, quando a discussão mereceu considerações de dois mestres no assunto: Carlos Leonam e Stanislaw Ponte Preta.

Estupidamente ou estúpido?

À página 97 da Revista do Lalau, uma seleção de raridades, textos dispersos e inéditos de Sérgio Porto, o homem que inventou Stanislaw Ponte Preta e o país do Febeapá, Agir Editora, 2008, temos a reprodução de uma crônica.
– Carlos Leonam – (Crítico de cervejas) – “Quem bebe cerveja estupidamente gelada pode considerar-se um estúpido. Gelada em excesso, a cerveja perde mais de três quartas partes de seu sabor. A temperatura ideal está por volta dos oito graus centígrados.”
Resposta do Lalau:
– Tá bem, Leonam! Entra num boteco e pede uma cerveja na temperatura de oito graus centígrados pra ver só o que o garçom faz com o teu termômetro.

Antes do sábado de Aleluia

Ainda em 1967, Lalau informou que, “muito antes do sábado de Aleluia, as autoridades policiais do DOPS distribuíram uma circular muito bacaninha aos diversos departamentos: É terminantemente proibido malhar Judas que lembrem figuras políticas, governadores, presidente da República, ministros militares etc.”
– O pessoal do Dops até que está ficando esclarecido. Antes mesmo do sábado de Aleluia eles já estavam sabendo o bicho de ia dar – arrematou.

Outro ano para não esquecer

Natureza aproveitou para “refrescar a memória” de Beronha, nosso anti-herói de plantão:
– Muita coragem do Stanislaw. Afinal, 67 foi o último ano de plantão em Brasília do general Humberto de Alencar Castello Branco, quando foi baixado o Ato Institucional (AI) número 4, obrigando o Congresso a aprovar Constituição que estabelecia mais contornos autoritários ao regime civil-militar. No mesmo ano, Castello também promulgou a nova Lei de Segurança Nacional. Estava aberto o caminho para o AI-5.
Alegando estar abalado com as informações, Beronha anunciou que iria para o Bar VIP.
– Vou aceitar uma cervejinha do jeito que ela vier. Desde que não esteja quente…

ENQUANTO ISSO…


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