No tiroteio sobre biografias – autorizadas ou não – esqueceram um episódio: o de “Rui – O Homem e o Mito”, de Raimundo Magalhães Júnior, autor de obras sobre Machado de Assis, José do Patrocínio e Marechal Osório, entre outros vultos históricos.
A polêmica provocou um feroz contra-ataque, o livro “Um Piolho na Asa da Águia: Biografia de Rui Barbosa”, que rebate as “aleivosias assacadas contra o gênio da raça”.
Muitos assistiam, todos aplaudiam
A Conferência de Haia começou no dia 15 de junho de 1907, reunindo representantes de 44 nações, 18 latino-americanas.
No livro “Rui – O homem e o mito”, Raimundo Magalhães Júnior, jornalista e pesquisador incansável, traça outro retrato de Rui Barbosa, ao contrário de Luiz Viana Filho e Américo Jacobina Lacombe, para quem Rui era “o maior líder do país, poliedro de luz e de devoção aos ideais”.
Por outro lado, como Magalhães Júnior, o escritor Álvaro Moreyra classificava a oratória de Rui como “uma mistura de classicismo e pernosticismo que deleitava, impressionava, extasiava, mas que poucos compreendiam, muitos assistiam e todos aplaudiam”.
Brasil x Argentina
Para Magalhães Júnior, a verdadeira Águia de Haia tinha sido Drago, Luís Maria Drago, então ministro das Relações Exteriores da Argentina. Ao contestar o culto prestado a Rui Barbosa, “Rui, o Homem e o Mito”, de 1964, foi tachado de “antipatriótico”. E logo veio a lume “Um Piolho na Asa da Águia: Biografia de Rui Barbosa”, de Salomão Jorge, Editora Saraiva, 1965, “defendendo Ruy Barbosa das aleivosias assacadas contra a Águia de Haia”.
Já embarcou como águia
Aliás, um artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional, edição de setembro de 2007, revela que, “ao salvaguardar os interesses do Brasil, Rui Barbosa acabou se destacando também como defensor da soberania dos países menores, merecendo aquela alcunha de “Águia de Haia” que tinha sido criada para ele pelo barão do Rio Branco ainda em ocasião do embarque da delegação brasileira para a Europa”.
Na Conferência, entre outras preocupações, havia também “o temor de que a Argentina consolidasse uma liderança entre os Estados latino-americanos”, conforme o texto da RHBN, de Christiane Laidler de Souza, professora de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa.
O déficit de reflexão
A revista Carta Capital desta semana, aliás, publica uma excelente matéria sobre biografias (“A aposta biográfica), texto de Elias Thomé Saliba. Destaca ele que “o pesquisador que busca a verdade expõe suas fontes e se nega a transformar os sentimentos em objetos públicos”.
Mais: “A maioria desses textos apoiados em muita pesquisa legitima-se pela aceitação do mercado; no Brasil, só se fala de biografias nas polêmicas. Em terra onde todos são barões, o acordo coletivo não é durável”.
E arremata:
– No caso brasileiro, as biografias sofrem um déficit de reflexão inversamente proporcional ao seu sucesso.
ENQUANTO ISSO…
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