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1968, dezembro. Época tenebrosa, tempos bicudos. No dia 13, enquanto o general de plantão, Costa e Silva, baixava o AI-5, outros brasileiros defendiam as liberdades democráticas. Cláudio Corrêa e Castro, por exemplo, após ensaio geral, entrava no tablado do Teatro Oficina/São Paulo. Era Galileu na montagem do texto de Bertolt Brecht, Galileu Galilei. Em determinado momento, ou no grande momento, o personagem tomava vinho e, ligeiramente alterado, soltava o verbo, mandava bala – para desespero da censura. “É preciso dar um basta, prender esse tal de Galileu”.

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Algum tempo e várias apresentações depois, o ator concedeu entrevista a um jornalista de O Estado do Paraná. O papo foi do sério, altamente sério, a episódios de bastidores. Um deles: para a famosa cena da bebedeira, o contrarregra preparava uma mistura, mas errou na dose, carregando no suco de uva, que teria de ser bem administrado para dar apenas um leve colorido à bebida.

Cláudio, ou Galileu, toma um copo e sente que algo está errado. Mas vai em frente, sofrendo para vencer a salivação pastosa. Algo torturante como aquele band-aid no calcanhar. Grande ator e profissional, superou o contratempo. E, como nas demais sessões de Galileu Galilei, sem a trapalhada da jarra de vinho, foi calorosamente aplaudido. Em cena aberta e no final.

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– Sofri, mas Galileu certamente deve ter sofrido muito mais – comentou no bate-papo com o repórter da província.

Xi! Esqueci minha fala

Outra história contada por Cláudio Corrêa e Castro: cadê a dália? Explicando: dália, além de flor, é um pedaço de cartolina com algum texto. Estrategicamente colocado em algum ponto do cenário, de modo que o público não o veja, serve para socorrer os atores caso venham a esquecer uma fala ou um gesto mais arrebatador exigido pelo diretor. Não raras vezes, para fazer troça com colegas já notórios esquecedores (“me deu um branco”), alguns brincalhões, durante o desenrolar da peça, deslocavam a dália de um lugar para outro. Geralmente, via de regra, ela ficava em uma mesa, atrás de um vaso ou arranjo de flores, mas poderia ir parar no encosto de uma cadeira… Coisas que o distinto público normalmente não ficava sabendo. Pelo menos naqueles tempos. E, pelo que corria por trás das cortinas, na falta de mordomo a culpa era sempre do contrarregra.

ENQUANTO ISSO… (I)

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 ENQUANTO ISSO… (II)