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Tempos bicudos – e de pedaladas

O jornalista Luiz Cláudio Cunha, em recente cerimônia, ao receber o título de professor de “notório saber” da Universidade de Brasília abordou a lei da anistia. Citou a Operação Condor, que ele, como repórter, conheceu bem de perto. “O Brasil é o único que anistiou os torturadores do regime militar, que atuaram, por exemplo, na dita operação”, lembrou. E, ainda agora, o jornalista denuncia que um ex-agente do DOPS gaúcho, de codinome Irno, entrou com recurso na Justiça para condenar testemunha do seqüestro dos uruguaios Universindo Díaz, Lílian Celiberti e seus dois filhos, Camila e Francesca. Foi em Porto Alegre, em 1978. O julgamento do pedido de indenização, por “danos morais”, ocorreu na quarta-feira passada, na 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Foi negado por unanimidade.

Viver é perigoso

Para quem não acompanhou o caso, ou não leu o livro “Operação Condor – O Sequestro dos Uruguaios”, do jornalista Luiz Cláudio Cunha, lançado em novembro de 2008, e que deu origem ao pedido de indenização, a investida policial-militar foi abortada graças à coragem e perseverança de jornalistas. Fracassou porque os jornalitas Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo João Baptista Scalco, então da sucursal da revista Veja na capital gaúcha, entraram em cena. Um telefonema anônimo levou a dupla ao apartamento do casal, onde topou com homens armados, frustrando a investida da repressão. Apesar da censura e das forças ocultas, a imprensa local, depois da Veja, aos poucos entrou em campo e ampliou a cobertura.

Pequena contribuição

Na reconstituição e acompanhamento do episódio, a partir da identidificação dos policiais brasileiros envolvidos na operação desencadeada pela ditadura uruguaia, entrou igualmente o vibrante CooJornal, editado pela Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre. E aí foi a vez de um jornal paranaense, “O Estado do Paraná”. Certo dia, um jornalista liga de Porto Alegre. Está à cata de uma foto de Orandir Ortassi Lucas. – Quem? – O ex-jogador do Atlético Paranaense. – Quem? O setorista – repórter que cobria o clube diariamente – matou a charada de imediato. É o Didi Pedalada. Havia muitas fotos de Didi no arquivo. Em 1973/74, era titular e ganhou fama pelas “pedaladas” sobre a bola antes de dar o drible rumo ao gol. Jogavam na época Sicupira, Buião, Júlio, Torino, Alfredo, Neuri, Madureira e Sérgio Lopes. Como arquivo não deve ser jogado fora, nunca, o pedido pôde ser prontamente atendido. A foto, batida bem de perto, quase fechada no rosto – Didi à beira do campo, durante um treinamento – foi mandada às pressas para Porto Alegre. Um dos acusados do sequestro em Porto Alegre ganhava rosto.

Desfecho. Desfecho?

Além do então delegado Pedro Seelig, do DOPS, foram denunciados, entre outros, os policiais Orandir e João Augusto da Rosa, o Irno. Em 1980, Orandir e João Augusto foram a julgamento. Didi Pedalada morreu no dia 1.° de janeiro de 2005, aos 60 anos. O sequestro de Universindo Díaz e Lílian Celiberti, no entanto, ainda não é um caso encerrado.

ENQUANTO ISSO…


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