Nas proximidades da mansão da Vila Piroquinha há um edifício em construção. Nada de anormal ou espantoso. O espantoso é o operário que trabalha assobiando A Marselhesa sem parar. Para Natureza Morta, já virou um tipo inesquecível.
Professor Afronsius concordou, fazendo um adendo: o hino nacional da França, La Marseillaise, como prefere, foi composto pelo oficial Claude Joseph Rouget de Lisle, em 1792.
O solitário da Vila Piroquinha aproveitou para lembrar, também, uma das grandes cenas de Casablanca, 1942, de Michael Curtiz. Quando oficiais nazistas entram no Rick’s Cafe, um grupo começa a cantar baixinho A Marselhesa, que acaba tomando conta do bar de Rick Blaine (Humphrey Bogart).
Vai daí que…
Junto à cerca (viva), a dupla – ou parelha, como diz Beronha – continuou elencando tipos inesquecíveis. Menos gloriosos do que o operário em construção. Foi citado um sujeito que troca o prenome do professor Afronsius cada vez que o encontra:
– Já fui saudado como Abronsius, Francisco, Paulo, Afonso, José Adair, Aristóbal, Merclides…
Também não dá para esquecer dois vizinhos que, quando se encontram na rua, travam um brevíssimo diálogo no que seria o “como vai? Tudo bem?”:
– Que tal?
– Lindo. E tu?
Não pode ficar de fora o funcionário da limpeza pública que cuida do quarteirão como se fosse a sua casa, nos mínimos detalhes. Quimba na calçada? Quem perpetrou tal ato de vandalismo toma bronca e corre o risco de levar uma vassourada no traseiro.
Igualmente inesquecível é o funcionário público que concorre a toda e qualquer eleição. É que, pela legislação eleitoral, tem direito a 3 meses de licença – com vencimentos integrais. O benefício vigora até 10 dias depois do pleito.
– Nunca ganhou, mas não desiste, é claro. Se bobear, tira licença até para disputar o cargo de síndico. Ou de vice-treco de coisa nenhuma. Por que será, hein?
Dos tempos de Adhemar
Existe na galeria um eterno eleitor de Adhemar de Barros. Décadas e décadas depois, insiste no bordão adhemarista de 1960, quando tentou pela segunda vez chegar à presidência.
– Desta vez, vamos!
Não foi, como tinha ocorrido em 1955.
Mas o bordão ganhou a simpatia de muita gente, que continua indo. Ou acreditando que vai.
Beronha, que tinha acabado de chegar, quer saber qual o tema da conversa.
– Tipos como você.
– Ah! Obrigado. Bondade dos amigos…
– Mas isso fica para amanhã, com a Seleções do Reader’s Digest e a origem do meu tipo inesquecível.
– Seleções? Se é sobre a minha augusta pessoa, acho que a Caras é mais indicada.
ENQUANTO ISSO…
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