Lendo a edição deste mês da (sempre imperdível) Revista de História da Biblioteca Nacional, professor Afronsius e Natureza Morta encontraram na página 90 um artigo sobre a época em que “matar cachorros na rua era a política pública para evitar a raiva no Rio. E o governo ainda incentivava o método, digamos, mais barato”, como ressalta a autora do texto “A pauladas”, Rafaella Bettamio, da Fundação Biblioteca Nacional.
– Imagine hoje. Tempos de pet shop e desenfreada opção preferencial pelos cães, haveria uma convulsão social – arriscou comentar Natureza.
Assunto corriqueiro
Trecho: “Vinte e seis cães: 2.800 réis; paus para matança: 480 réis; vinte e oito cães: 2.800 réis. As despesas foram apresentadas à Câmara Municipal da Corte em 20 de maio de 1851. Longe de espantar alguém, os itens dessa prestação de contas eram assunto corriqueiro para o poder público. A matança de cães à paulada já foi prática comum e institucionalizada no Rio de Janeiro”.
“Encarados como uma ameaça de proliferação da raiva, os cães que fossem flagrados na rua poderiam ser surpreendidos pela carrocinha. Mesmo aqueles com donos e coleira. Não interessava à Câmara Municipal da Corte quais seriam os meios de extermínio, o importante era limpar esses animais do espaço público, de preferência barateando o serviço. Matar a paulada era talvez a solução mais barata possível. E, portanto, a mais atraente”.
Prestação de contas
O “Ofício remetendo a conta das despesas feitas com a matança de cães, na freguesia do Sacramento, foi encaminhado por Bernardino José de Souza, então fiscal das freguesias da Glória e do Sacramento, região que abrangia grande parte do atual centro da cidade do Rio de Janeiro. Pertencente ao Fundo Câmara Municipal da Corte, este documento pode ser consultado na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional”.
Fechando o texto, Rafaella Bettamio ressalta que o crescimento dos movimentos em defesa dos animais até os dias de hoje demonstra que, “embora a espécie humana não prime pela humildade, às vezes acaba se curvando ao conhecimento e ao bom senso. A convivência com os animais, quem diria, nos ensina a ser menos bárbaros”.
ENQUANTO ISSO…
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