É rico – infelizmente – o folclore sobre a compra de votos no país. Do par de sapatos de um pé só para o eleitor à promessa de nomeação como fantasma – para receber polpudo salário regiamente pago pelos cofres públicos. “Ninguém vai ficar sabendo, não se preocupe”.
No primeiro caso, o cidadão ganhava o pé direito (ou esquerdo) do calçado. O outro só seria entregue, é claro, depois da eleição. E se o patrocinador vencesse, obviamente.
Calça nova?
A compra de votos era tão escancarada que as piadas se multiplicavam, a maioria calcada – não calçada – em fatos e episódios reais. Uma delas, chamada de “a vingança do pipoqueiro” por Natureza Morta, teria ocorrido durante um comício. Você pode escolher qualquer cidade do Brasil como cenário. Praça cheia, o candidato, todo entusiasmado, fala do combate à corrupção. Combate sem tréguas. Para carimbar solenemente seu compromisso com a honestidade, largou no microfone, apontando para a própria calça:
– Nesse bolso nunca entrou dinheiro público!
Alguém no meio da multidão rebateu na hora, gritando bem alto:
– Calça nova, hein?!
Gargalhada geral, aplausos dignos do Cirque du Soleil.
Tramóia informatizada
De trambique em trambique, chegamos a um que demonstrava o alto grau de sofisticação que já imperava. Caso Proconsult. Foi em 1982, quando Leonel Brizola (PDT) disputava o governo do Rio de Janeiro. O sistema informatizado de apuração dos votos transferia votos nulos ou em branco para o adversário do doutor Leonel, o candidato Moreira Franco (PDS, antiga Arena).
Pela legislação da época, quando se votava para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador, os votos só teriam validade se os candidatos fossem do mesmo partido. Previa-se, assim, um altíssimo índice de votos nulos.
Graças à apuração paralela desenvolvida pelo PDT, foi possível denunciar a tramóia. Os números da apuração paralela e da oficial não batiam de jeito nenhum.
Parte da imprensa ajudou a denunciar a mutreta.
Segundo Natureza, o sistema captava voto e mudava o destino.
– Era como o sacristão sacana que, ao receber de um devoto um franguinho assado, para entregar ao santo, garantia: pode deixar que eu entrego…
ENQUANTO ISSO…
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