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Tupi or not tupi?

Alta efervescência. Feito Sonrisal em copo d’água, como prefere Beronha. Aquela semana de 11 a 18 de fevereiro, há 90 anos, daria o que falar. Até hoje.
E foi pensando na Semana de Arte Moderna que Natureza Morta acordou. Antes mesmo do café, para o qual nosso anti-herói de plantão já estava na fila, seguiu para o anexo 2 da biblioteca da mansão da Vila Piroquinha.
Com a ajuda da seção Achados&Perdidos, voltou no tempo.
– O Teatro Municipal de São Paulo reunia escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos com o objetivo de renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com “a perfeita demonstração do que há em matéria de escultura, arquitetura, música e literatura em nosso meio, sob o ponto de vista rigorosamente atual”, conforme o Correio Paulistano.

Novos rumos

O Brasil comemorava o primeiro centenário da Independência. Os jovens modernistas pretendiam redescobrir o país, “libertando-o das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros”.
O desafio tinha sido lançado por Oswald de Andrade, no Manifesto Pau-Brasil.
– Tupi or not tupi, that is the question.
As artes brasileiras mudariam de endereço, deixando Paris?
Nem todos fizeram as trouxas. Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Vicente do Rego Monteiro voltaram para a França e lá ficaram. “Restou, porém, a ideia de um Brasil verdadeiramente brasileiro – e isso mexeu com tudo”, como registrou o livro “80 Anos de Brasil”, publicado em 1983 pela Souza Cruz.
– A elite da época assistiu à cisão do movimento modernista, dividido em vários grupos, reunidos em torno de revistas como Klaxon, Estética, Revista de Antropofagia e Anta.
– Anta? Gostei dessa – comemorou Beronha.
– Todos inimigos, mas nacionalistas, alguns até o exagero, como o Verde-Amarelismo, do qual participou Plínio Salgado.

Um vasto painel

Da pintura de Tarsila do Amaral, que veio da Europa para “descobrir o Brasil”, às primeiras experiências com filmes cantados, entre 1927/1929, que utilizavam discos mal sincronizados, até o samba teve grande impulso. Um exemplo: o conjunto Flor do Tempo, com a fina flor dos rapazes da Vila Isabel, no Rio. Entre eles, Noel Rosa e Almirante.
A música clássica conheceu Nhô Chico, que Luciano Gallet compôs para piano, em 1927, enquanto Vila-Lobos empregava técnicas novas e temas nacionais. Em Minas Gerais, florescia o cinema de Humberto Mauro, com o ciclo de Cataguazes (Tesouro Perdido, Brasa Dormida e Sangue Mineiro).
– Um imenso trabalho, até certo ponto espontâneo, que consolidou a arte brasileira. No início da década de 30, o Brasil já aceitava a si mesmo e o governo – com Getúlio Vargas, nacionalista, à frente – aceitava o modernismo.

Opinião do mestre Álvaro Lins

Em dezembro de 1940, Álvaro Lins, um dos maiores intelectuais do país, escrevia sobre a Semana – “Saga de São Paulo”, conforme “Os Mortos de Sobrecassaca”, 1963, Editora Civilização Brasileira:
– Diante do movimento modernista estamos colocados em duas situações diferentes: 1.ª) a certeza de que foi transitório e representou um papel mais político (de política literária, quero dizer) do que propriamente artístico; 2.ª) que está hoje ultrapassado, mas não repudiado, pois somos a sua continuação num sentido que sintetizo, imperfeitamente, desta maneira: o decênio 1930-1940 realizou, em obras, o que o decênio 1920-1930 aspirou e não pôde concretizar.
Ainda do mestre: “Toda a importância do modernismo decorre da circunstância de ter sido um movimento de destruição e não de criação”. (…)
“De maneira nenhuma, porém, será justo falar de fracasso ou inutilidade a propósito do modernismo. Ao contrário. A sua vitória programática na destruição de fórmulas caducas, de valores equívocos, de uma falsa e vazia tradição literária que só vivia de artifícios – foi absoluta”.

ENQUANTO ISSO…


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