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Não é de hoje que a turma desce a lenha nos políticos. Mas, por supuesto, há  políticos e políticos. Caso de Graciliano Ramos, que virou prefeito. O autor de Vidas Secas e Memórias do Cárcere, entre outras obras, revolucionou a literatura e a prefeitura de Palmeira dos Índios, Alagoas.

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A propósito, a Seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, logrou mais um achado: a edição de maio de 2000 da revista República, que tinha como editor Luiz Felipe d’Avila e, como diretor de redação, Wagner Carelli. Lá, uma preciosidade, a matéria A princesa nua e suja de Graciliano, texto de José Luiz Vitu do Carmo, que esteve em Palmeira dos Índios, também por supuesto.

Conta ele:

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– O escritor arredio foi um tocador de obras que enfrentou fazendeiros e moralizou o comércio.

– Prefeito a contragosto, mandou os pedintes quebrar pedras em troca de dinheiro. Eles não foram mais vistos na cidade.

– Um fiscal hesitou em multar o pai de Graciliano. “Prefeito não tem pai”, ouviu do Velho Graça.

“Poço de azedume”

“Tido ora como brincalhão, ora como um poço de azedume”, Graciliano foi eleito prefeito em 1927 e empossado no ano seguinte. Em 1932, renunciou e se transferiu para Maceió, onde foi nomeado diretor da Imprensa Oficial. Nascido em 27 de outubro de 1892, em Quebrangulo, sertão de Alagoas, era o primeiro dos dezesseis filhos de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos.

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Graciliano foi eleito com 433 votos. Não teve adversário. Imperava o voto de cabresto, só votava quem estava na lista elaborada pelos donos do poder. Aceitou concorrer depois de muito hesitar, sendo afinal convencido por amigos de diferentes grupos políticos de que, por sua honradez, era o único nome de consenso. Não participou da campanha eleitoral, não fez promessas nem se envolveu em composições políticas para a escolha dos conselheiros municipais (vereadores).

E diria, depois:

– Se a minha estada na prefeitura dependesse de plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos.

Enquadrando os fazendeiros

Fazendeiros poderosos desrespeitavam as terras dos vizinhos. Graciliano os enquadrou. E promoveu demissões para ajustar sua equipe e teve superávit de quase 20% nos dois anos em que foi prefeito.

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Era um mundo governado pelo bacamarte, mas ele pôs em vigor um Código de Posturas, que igualava pobres e riscos, impedia a venda de carne estragada e cobrava impostos de pecuaristas mal-acostumados. Um destes, que também era conselheiro municipal, cargo equivalente ao atual de vereador, foi cobrar-lhe explicações, dizendo que nunca vira semelhante desproposito. Graciliano respondeu que convinha pagar logo o tributo, ou seria acrescido de multa. A lei existia, explicou, e até o reclamante era um dos que a tinham subscrito:

– Não tenho culpa de você ser burro e assinar papel sem ler.

Ainda do texto de José Luiz:

– É improvável que nos próximos anos – 70 ou mais – a literatura brasileira produza muitos outros exemplares da espécie de Graciliano Ramos. Já a política brasileira, essa nem parece interessada.

Para finalizar, professor Afronsius citou de cabeça um texto de Graciliano:

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– Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer.

Portanto, não vamos ficar parados.

ENQUANTO ISSO…

 

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