Mal comparando, o noticiário sobre o completo abandono do antigo prédio da Polícia Civil, em Curitiba, remete a outros casos de incúria na preservação do patrimônio histórico. A Fordlândia, por exemplo, como revela Revista de História da Biblioteca Nacional, edição de setembro.
O texto de Antonio Marcos Duarte Jr, professor do IBMEC/RJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que leva o título E a selva venceu o capital, é rico em detalhes e ilustrado com fotos igualmente impressionantes. Como a de um grupo de trabalhadores (brasileiros) e a de casas típicas de uma pequena cidade norte-americana, com hidrantes vermelhos nas calçadas.
A ordem era “civilizar os brasileiros”
Henry Ford tinha 40 anos quando, com 11 sócios, fundou a Ford Motor Company, em 1903. Garantir a borracha natural era um desafio, conta o professor Duarte Jr, posto que o monopólio era dos britânicos. Para “incontida satisfação” dos governos federal e estadual, surgiu em outubro de 1927 a Companhia Ford Industrial do Brasil. Mas, na “audaciosa empreitada tropical”, Henry Ford fracassaria.
– Dois navios levaram tudo o que se imaginava necessário para a construção de uma cidade (na região do Rio Tapajós, Pará). Mas nenhum arquiteto, urbanista ou engenheiro sanitário.
– Na selva, 1934, os trabalhadores brasileiros eram tidos como preguiçosos pelos americanos e objetos de ação civilizatória do Departamento Sociológico.
– Em 1942, o chamado “mal das folhas”, provocado pelo fungo Microcylus ulei, reduziu à metade os seringais – em 1932, eram 4 mil hectares de seringueiras.
Os problemas se multiplicavam. Em 1945, quando assumiu o comando da Ford Motor Company, Henry Ford II decidiu vender a Fordlândia e a hoje cidade de Belterra.
– O governo brasileiro pagou US$ 250 mil pelas instalações, que, segundo os norte-americanos, valiam trinta vezes mais. A Fordlândia virou um distrito do município de Aveiro. Estima-se que a Ford tenha investido, em valores atuais, cerca de US$ 1 bilhão na aventura. Como retorno, conseguiu produzir e enviar aos EUA menos de mil toneladas de borracha natural.
Conclui o professor Duarte Jr.: deterioradas pela chuva e umidade e sofrendo repetidos furtos, as instalações industriais encontram-se hoje em ruínas, sem a adequada proteção por parte dos poderes públicos.
No caso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Depois de ler e aplaudir o trabalho da RHBN, professor Afronsius não resistiu. E citou o livro Zorba, o Grego. Dando uma prensa no jovem empreendedor inglês, desanimado com um fracasso, Zorba mandou ver:
– Você é ou não é um maldito capitalista?
ENQUANTO ISSO…