Por conta da propaganda, Beronha passou a utilizar palito dental de bambu. “É natural, e zoologicamente correto”, explicou, sendo imediatamente corrigido por Natureza:
– Você quis dizer politicamente correto.
– Sim, politicamente correto ou zoologicamente correto dá no mesmo, pois não? A turma não vive dizendo que política é um zoológico?
De certa maneira, o solitário da Vila Piroquinha teve de concordar. Mas quis saber o motivo da mudança de comportamento do nosso anti-herói de plantão.
– Deixei de usar o palito de madeira tradicional…
Na verdade, ele palitava os dentes com lascas da tampa da mesa da cozinha. Ao final das refeições, pegava uma faca e tchum! Tirava um fiapo de madeira.
A mesa de cozinha da mansão da Vila Piroquinha estava reduzida a uma mesinha de passar roupa. Resultado de anos e anos de visitas diárias para almoçar, tomar o café da tarde (café com mistura) e jantar.
Natureza resolveu apoiar a mudança, mas Beronha disse que não gostou da novidade: bambu se desfaz em fiapos que parecem agulhas. “Engoliu uma daquelas, babau”.
De fato: bambu é flexível, resistente. Tanto que, na guerra do Vietnã, algumas das armadilhas dos vietcongues eram buracos com bambus pontiagudos fincados no solo, feito pequenas estacas. Furavam a sola do coturno dos invasores.
A propaganda
Tentando falar sério, Natureza mudou de assunto. Comentou a recente pesquisa que apontou um problema. Quase 80% dos pais de crianças de até 11 anos acreditam que a publicidade de fast food e outros “alimentos não saudáveis” prejudica os hábitos alimentares de seus filhos. Segundo o Instituto Datafolha, os entrevistados também afirmam que esse tipo de propaganda dificulta os esforços para ensinar os filhos a ter uma alimentação saudável (76%) e leva as crianças a amolar os pais (sic) para que comprem os produtos anunciados (78%).
Ah, “alimentos não saudáveis” são aqueles com alto teor de gordura, sódio ou açúcar.
Uma das responsáveis pela encomenda da pesquisa diz que vivemos “uma epidemia de obesidade e existe um esforço da sociedade para ensinar as crianças a se alimentarem melhor, mas a indústria de alimentos vai na contra-mão ao estimular as crianças a consumir produtos ricos em calorias e pobres em nutrientes. “A pesquisa mostra que os pais estão pedindo ajuda, mas, sozinhos, não conseguem frear esse bombardeio.”
O outro lado (do prato)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discute desde 2006 a regulamentação da publicidade de alimentos não saudáveis. No ano passado, a agência publicou uma resolução determinando que esse tipo de propaganda fosse acompanhado de alertas para possíveis riscos à saúde, no caso de consumo excessivo. Mas essa regra foi suspensa graças a uma liminar concedida pela Justiça Federal em favor da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).
Para o presidente da Abia, Edmundo Klotz, “discutir a publicidade de alimentos é uma coisa do passado”. A indústria, segundo ele, está trabalhando para deixar seus produtos mais saudáveis em vez de discutir teorias. “Praticamente eliminamos a gordura trans.
”Agora é reduzido o teor de sódio. Até 2020, pretende-se atingir um ideal de “saudabilidade”.
Enquanto 2020 não chega, continuaremos consumindo o que nos é empurrado goela abaixo.
E Beronha voltará a usar lascas da mesa para cavocar os dentes.
ENQUANTO ISSO…