Agosto é sempre um mês prolífico nos meios editoriais. Talvez porque seja o começo do segundo semestre e autores e editoras finalmente resolvem botar na rua o resultado do trabalho em que estavam imersos no primeiro semestre. No dia 30 desse mês o escritor Glauco Delinski lança seu primeiro livro – Inerte por Opção e outras histórias – na livraria Curitiba do Shopping Palladium, em Ponta Grossa, às 19h30. O livro tem 96 páginas e é da editora Todapalavra. Custa módicos 25 pilas.
Conheço o Glauco desde o vestibular de 1995 para o curso de Jornalismo. Nos ignoramos desde o primeiro momento, mas tínhamos dois amigos em comum que quebravam o gelo da convivência. Ele não sabia, mas eu tinha adorado um texto que ele havia escrito no fanzine de música, skate e quadrinhos Squeeze Wax de um de nossos amigos, Maycon Amoroso ( o outro era o Irinêo Netto, hoje editor de Mundo na Gazeta do povo). Quando descobri que fora ele quem havia escrito o texto e ele descobriu que eu tinha gostado, bem ficamos amigos de infância naquele exato instante.
Depois descobrimos que nascemos praticamente no mesmo dia e na mesma maternidade e temos o mesmo tipo de personalidade complexa e contraditória dos piscianos – não que a gente acredite em horóscopo.
Ao longo desses quase 20 anos de amizade, acompanhei o desenvolvimento de seus textos, seus contos e o árduo caminho até chegar ao primeiro livro. Abaixo, uma entrevista com o soturno Glauco Delinski:
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01 – Os contos que compõem esse seu primeiro livro foram escritos especificamente para serem publicados no Facebook? Por isso eles são, na maioria, curtos?
Começou como uma brincadeira. Escrevi um conto curto e resolvi publicar. O resultado foi melhor do que eu esperava. Então, escrevi mais e mais. O mais interessante é que os argumentos foram surgindo e a escrita cada vez mais suave, redondinha.
02 – Os primeiros textos seus que li, já falavam sobre morte. E percebo que ainda hoje, passados quase 20 anos, esse é um tema que continua recorrente nos seus contos. Você tem medo da morte? Escrever sobre é uma maneira de lidar com ela?
Bem, dizem que só temos medo da morte quando ela está ali pertinho batendo na porta. Ainda não sei por que escrevo tanto sobre ela. Talvez pelo fato de não me dar bem em temas românticos, certinhos, cheios de esperança. Aí vai uma curiosidade sobre o livro: a princípio iria se chamar Do Outro Lado da Linha e Outras Histórias, algo como um linha que separa a vida e a morte. Mas existe um filme homônimo, por isso ficou Inerte Por Opção e Outras Histórias.
03 – O que seus textos têm de autobiográficos?
Felizmente nada. A editora pediu uma resenha curta sobre o livro. Descrevi meus contos recheados de existencialismo, com uma boa dose de humor negro e, claro, mórbidos. E ninguém iria se interessar se eu escrevesse contos autobiográficos, pode acreditar.
04 – O primeiro texto seu que li foi em 1995, num fanzine chamado Squeeze Wax, sobre o conflito árabe / israelense. Você ainda escreve sobre temas políticos?
Dificilmente. Prefiro criar as histórias. Num fanzine é interessante um texto político e opinativo. Para isso que eles servem, certo?
05 – Lembro que você era o maior fã de J.D. Salinger que conheci. Outro, se não me engano, era Saramago. Quais outros autores influenciam diretamente no seu estilo de escrever?
Inevitavelmente, depois de um bom período de leitura, a influência vem dos autores que estamos lendo. Geralmente algo que gostamos. Pelo menos é assim que deveria ser. Gosto de Salinger, Saramago, Fitzgerald, Camus, Sartre, Bellow, Paul Auster, Nelson Rodrigues, Mailer. E por aí vai… Difícil escapar desses caras.
06 – Já está pensando no próximo livro?
Tenho um conto que rende um livro. Mas antes preciso me organizar, criar uma doutrina de escrever todo dia ou quase. Para elaborar uma obra é necessário respirar o argumento vinte e quatro horas por dia. Assim conseguiria produzir um romance.
07 – Algum autor nacional que você gosta de ler? Há vários escritores da sua geração em Curitiba que também estão lançando seus primeiros livros, como Luis Felipe Leprevost e Luis Henrique Pellanda. Você mantém algum tipo de contato com outros autores da sua geração?
Dos escritores nacionais não fujo do óbvio. Nelson Rodrigues, Fausto Wolf, Cony, entre outros. E, infelizmente, não tenho contato com escritores da minha geração.