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Pequena História de Natal

Ilustração para o livro Réquiem para Dóris, de Oneide Diedrich

Ilustração para o livro Réquiem para Dóris, de Oneide Diedrich

Noite de Natal, a mesa está posta e, faltando alguns minutos para a meia-noite, o casal resolve abrir os presentes.

Rachel: – Oh, que lindo, vou abrir meu presente, Vincent.

Vincent: – Não é nada assim, muito especial, é uma lembrancinha…Você sabe, tá na moda dar lembrancinhas e…

Rachel: – Oh, Vincent. Você é maravilhoso. Você já é meu presente e…orelha?!?! Uma orelha???

Vincent: – Que foi? Você não gostou?

Rachel: – Vincent! Já é o quarto natal seguido que você me dá orelha de presente!

Vincent: – Rachel…você não entende o simbolismo, é um pedaço de mim…

Rachel (falando sem parar): – Orelha no natal. Orelha no aniversário. Orelha no dia das mães, orelha na Páscoa…tem um saco de orelhas guardado no quarto, Vincent. O que eu vou fazer com tanta orelha??? Pra que que eu quero tanta orelha?

Vincent: – Rachel…você não entende…é o gesto, é o significado

Rachel: – Cotonetes. Por que você não me dá cotonetes de natal, então? Eles significam muito mais!!!

Vincent: – Mas olhe, esta tem lóbulo gordinho…tá vazando um pouco, mas é um orelha bonita. Fica bem em você, combina com seu cabelo.

Rachel: – Vincent. Sabe o que a Isadora ganhou do marido?

Vincent: – Ah, lá vem você querer comparar com os outros…

Rachel: – Um nariz, Vincent. Uma nariz! Lindo, oblongo, com duas narinas incríveis…isso é que é ser sensível…Um nariz! Perfeito, perfeito! Um jantar à luz de velas no restaurante e, quando ela vai comer a sobremesa…tchã-ram: tem um nariz de presente dentro do pudim!

Vincent: – Sensível! Por que você não casa com aquele bastardo? Aposto como ele é pervertido que se masturba pensando em próteses de madeira. Você tem ideia de quanto custa um nariz daqueles?

Rachel: – Você sabe o que a Odeta ganhou do marido? Um esfíncter novo em folha!

Vincent: – A nossa condição não permite que você saia por aí esbanjando um esfíncter novo em folha, Rachel. Ponha-se no seu lugar!!! Eu não posso te dar um esfíncter. Não posso te dar um nariz. Não posso sequer te dar um cotovelo esfolado ou um calcanhar rachado. Não posso!!!

Rachel (chorando): – Eu sei Vincent…

Vincent: (abraçando Rachel): – Mas posso te dar o meu amor. Posso te dar proteção, posso te dar um lar humilde, mas aconchegante e quentinho. Posso te dar um ombro amigo, posso te dar…meu coração! E ele é grande, cabe nós dois dentro…

Rachel: – Oh, Vincent. Você é o homem que eu amo, me desculpe por exigir demais…eu te amo, eu te amo!!!

Vincent: – Oh, Rachel. Um dia eu vou te dar o que você merece, vou te dar coisa melhor, eu prometo, eu prometo. Um quadro que eu venda e…estamos feitos! Mas pra isso eu preciso de uma máquina do tempo, para ir ao futuro, receber o que me é de direito…

Rachel: – Vincent, venha. Já é meia-noite, vamos comer a Ceia…

Vincent: – Não vejo a hora, estou morrendo de fome. Um peru quentinho, castanhas, ponche…

Rachel: – Peru? Castanhas? Ponche? Mas só tem…

Vincent: – …língua? A gente vai comer língua na ceia de natal? Rachel, todo ano a gente come língua no natal. É língua no natal, língua na Páscoa, língua no réveillon…Eu não aguento mais comer língua!!!

fade e FIM!!!

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