Nesta coluna, que cai muito afortunadamente no Dia das Mães, não pretendo dizer absolutamente nada de novo. Esta mensagem, que transmito agora a todas as mães, não tem a pretensão de trazer nada inovador, nenhum preceito revolucionário nem qualquer insight arrojado que mude para sempre a sua vida. Quero falar da maternidade muito simplesmente, de novo, e de novo. Mas, antes que apertem os olhos com desconfiança, ou que deixem cair a língua para fora em sinal de desprezo, acusando-me de redundância e prolixidade, deixem-me perguntar: existe outra coisa mais arcaica na humanidade do que a maternidade? Com exceção dos primeiros pais, todos nós, dali em diante, nascemos de mulher, e se a humanidade chegou até aqui, é porque foram todos melhor ou pior embalados, aquecidos, amamentados, nutridos e limpos, e de um modo ou de outro, educados.
Por outro lado, se falar de maternidade com ares de inovação se assemelha a inventar novamente a roda, também não é verdade que ser mãe é, para cada mulher, reinventar por si mesma a roda, e que por mais que se diga e se ensine, é somente na experiência concreta e intransferível que se compreende do que se trata? Ademais, também não é verdade que, para todas as mães, cada novo dia no lar é um reinventar incessante da mesma roda, tal como a fé e a esperança, que se renovam com nossos atos livres, como se fosse sempre a primeira vez?
É bem por isso que, assim como se costuma presentear carinhosamente as mães com buquês de flores, com caixas de bombons ou com pequenas joias, desejo aqui fazer algo semelhante, compondo-lhes um pequeno buquê de verdades, ou uma caixinha com sete preciosas joias, que possam ter seu doce aroma ou seu brilho revisitados quando for conveniente, naqueles momentos cinzentos ou turbulentos, em que é mais difícil avistarmos sozinhas os pontos cardeais do nosso ideal. Lá vão:
Não é verdade que ser mãe é, para cada mulher, reinventar por si mesma a roda, e que por mais que se diga e se ensine, é somente na experiência concreta e intransferível que se compreende do que se trata?
1. Você nasceu para ser mãe. Isto, que digo em primeiro lugar, é para que você jamais dê ouvidos, em sua mente, aos pensamentos de dúvida, que questionam se, de fato, você serve para aquilo, se você realmente deveria ter tido filhos, se está à altura dessa tarefa ou se é capaz de superar as dificuldades que estão à sua frente. E para que jamais dê ouvidos, também, às vozes reais, de outras pessoas – seja as próximas, como os parentes, seja os desconhecidos, as pressões sociais – ou de instituições e mídias que queiram pôr em questão se você, de verdade, nasceu para ser mãe. Já faz décadas que se vem questionando o papel da mulher; depois, começou-se a questionar a própria natureza da mulher e dos sexos; e a coisa chegou a tal ponto que, hoje, vemos o cúmulo do absurdo em certas colocações, que nem convém comentar. Mas não importa; nós podemos dizer de novo, e repetir incansavelmente, a libertadora verdade: A maternidade faz parte da própria natureza da mulher, faz parte da personalidade feminina, mesmo das mulheres que não podem, por qualquer razão, gerar filhos biológicos.
Não existe mulher que não nasceu para ser mãe; há somente aquelas que ainda não assumiram a sua responsabilidade como tais – e algumas, por conta disso, ao se furtarem de educar os filhos, se frustram. A maternidade é um traço da natureza da mulher, seja em que circunstância e de que modo ela for se desenvolver. Não permita que esse traço da sua personalidade fique sem desabrochar, nem tenha medo de assumir essa responsabilidade, que vem para realizar e engrandecer o seu próprio ser. Você nasceu, sim, para ser mãe.
2. Primeiro vem o encargo; depois vem a capacidade de executá-lo bem. Quando eu tive meu primeiro filho, se um personagem onisciente se aproximasse e dissesse que eu teria outros seis, eu enlouqueceria na hora, porque ainda não fazia a menor ideia de como cuidar daquele primeiro. Mas esta é a ordem das coisas. Junto com o primeiro filho, vem o encargo de cuidar dele e de educá-lo e, juntamente com o encargo, vem a graça de conseguir fazê-lo – ou, como no dito popular, vem o frio, e com ele o cobertor. A capacitação para a imensa tarefa que nos é dada vem com a prática, e a prática de algo novo envolve, certamente, medo, e uma porção de erros e fracassos. Ninguém crê, de antemão, que está pronta e que será uma boa mãe. Só se é uma boa mãe quando se torna realmente uma, no presente, com o filho que se tem diante. Quando vemos que aquela pessoa pequenina precisa de nós, tiramos forças de onde não parecia haver, e as nossas forças aumentam na proporção da necessidade. Tenha coragem, você vai conseguir. Se persistir, você será uma boa mãe.
3. Seu filho será mais parecido com o que você é do que com o que você deseja que ele seja. Eu sei bem que há muitas coisas a respeito da educação das crianças que é preciso saber e, para saber, é preciso aprender – ouvir, ler, refletir, ponderar e escolher. Se não fosse assim, eu não dedicaria a isso tanto do meu tempo, estudando e ensinando, e não seria este, no fim das contas, o meu trabalho. Entretanto, nem tudo o que esclarecemos em nossa cabeça tem um caminho fácil até ser absorvido em nosso coração, e mesmo aquilo que já carregamos dentro do peito nem sempre conseguimos pôr em prática e plasmar em nossas ações. Somos falhos, todos sabem. E ocorre que, para a criança (traço que, na verdade, não some totalmente no adulto), muito mais vale o exemplo, aquilo que se vê com os olhos da cara e se sente no calor do momento do que aquilo que é dito, pretendido, pensado, planejado. Por isso eles serão mais como nós do que como compreendemos que seja o ser humano ideal, virtuoso, bom.
E é por isso que o nosso primeiro encargo, como pais, numa proporção que ecoa o mandamento do Mestre (Mt 22, 37-39), é primeiro ser, crescer e progredir profunda e concretamente no bem, para que os nossos filhos nos vejam ser, e que a nossa presença e o nosso exemplo sejam o primeiro e o grande professor. Quando ouvirem nossas palavras, então saberão do que estamos falando, porque nos terão visto sendo honestos, generosos, pacientes e amorosos. Mas sem perder de vista o seguinte: devemos sempre tentar acertar, mas vamos, com toda a certeza, errar muitas e muitas vezes. Nesses momentos, vai nos restar ensinar-lhes a humildade, e dar-lhes o exemplo de como se assume as faltas e se pede perdão. Assim vencemos o mau exemplo com um bom exemplo. Lembro-me do que dizia Santa Teresinha, menina, quando seu santo pai, na igreja do Carmelo, lhe dizia para ouvir o padre com atenção: “Realmente, eu estava escutando bem, mas olhava mais vezes para o papai do que para o pregador. Seu belo semblante dizia-me tantas coisas!...”.
4. O tempo não volta. É uma frase tão batida, uma verdade arquissabida, entretanto tão difícil de assimilar. Nós achamos que sabemos disso, mas deixamos tantos minutos escorrerem por entre os nossos dedos, ou melhor, por entre nossas ilusões, preguiças, tristezas... Aproveitar o tesouro de tempo que nos é dado (como falamos outra vez) é uma questão de administração, de ordem. Planeje sua rotina, estabeleça o que vai fazer conforme as prioridades que você tenha naquele dia. Você se sentirá mais segura, e estará mais desperta e atenta para agir quando os imprevistos aparecerem – ao passo que, quando não planejamos nada, o nosso dia é composto 100 por cento de imprevistos.
Ninguém crê, de antemão, que está pronta e que será uma boa mãe. Só se é uma boa mãe quando se torna realmente uma, no presente, com o filho que se tem diante
Mas, para que nós possamos estabelecer as prioridades do nosso dia a dia e assim organizar a nossa rotina, é preciso ter critérios: é preciso saber quais são as nossas prioridades, não somente para o dia de amanhã, mas para a vida como um todo. Muitas mulheres têm verdadeira necessidade de trabalhar, e são diversas as situações que uma família pode enfrentar. A estas digo que não lancem fora tempo algum, e que não tenham medo do cansaço, pois mesmo 15 minutos que passamos com nossos filhos podem fazer toda a diferença, pois nós somos os seus pais, nós somos as suas bases seguras e os seus intérpretes da realidade. Porém, para aquelas que, sem necessidade grave de sair de casa, ficam em dúvida sobre onde estará sua realização, sua verdadeira vida, copiando o dizer de uma senhora que, muito arrependida aos 70 anos, se lamentava: “Eu alinhavei a minha vida”, eu recomendo: não alinhave a sua vida também. Medite, reflita, e pese cada coisa que está diante de você, e faça uma escolha – e não olhe para trás. Tenha coragem de bancar a sua escolha, e confie na providência. Fazemos nossa parte, mas o futuro pertence a Deus – e em que melhores mãos ele poderia estar?
5. O casal é o fundamento da família. Eu sei que não é simples ouvir isto nos dias de hoje, e muito menos viver. Mesmo quando os dois cônjuges estão comprometidos, são fortes os ventos que querem nos tirar do caminho, e faltam-nos referências, auxílios, conselhos confiáveis. E sei, também, da realidade difícil das mães solteiras, ou das que têm um marido inteiramente alienado da educação das crianças, sem falar na situação de alguns pais – que existem! – que ficam, do mesmo modo, sem o apoio de mães que vão embora. Sei também do drama dos casais divorciados. Infelizmente, nenhuma dessas situações dolorosas anula esse princípio, que terá de ser cumprido pelo avesso, de uma maneira ainda mais desafiadora. Posto de maneira bem simples e direta: o amor conjugal, o amor que une o homem e a mulher, é este que funda uma família, e é ele que será, sempre, a base, o fundamento daquele lar.
Isso não representa, para as crianças, nenhum tipo de desprezo ou de desamor. Ora, é o amor conjugal que gera o amor filial, pois os filhos vêm como fruto daquele amor, e serão certamente mais felizes ao sentirem, embaixo de si, a segurança desse firme alicerce. Por isso respondo sempre, quando as pessoas têm dúvida, que a mãe não deve jamais preferir os filhos ao marido, nem prejudicar seu relacionamento com ele numa “cama compartilhada” ou algo do tipo. Também não se pode permitir uma rotina em que o casal nunca tenha tempo junto, a sós. A criança será feliz ao saber e ocupar o seu devido lugar na família, ao ser amada como o filho que é. E a pior coisa para ela – pior que muitos erros dos pais! – é assistir à sua desarmonia.
6. Sempre é possível amar mais. Como eu já disse acima, nós vamos aprendendo a ser mães melhores na mesma medida em que as crianças nascem, e crescem, e precisam de nós. Mas um ponto é crucial: Não resista. É absolutamente necessário que você entre de cabeça nessa grande aventura, sem concessões, sem negociações. A maternidade nos amadurece, nos faz mais generosas, nos instala na realidade da vida e nos faz ver, cada vez mais de perto, a maravilhosa dinâmica entre os convites da graça e a resposta do ser humano. Mas você precisa permitir que essa transformação aconteça em você, lançando-se de peito aberto num abismo imenso – num abismo infinito de amor.
Não resista: quando sentir que o seu limite chegou, quando tatear as fronteiras, as divisas da sua limitação, não pare, não retroceda, não se desespere, não se enraiveça, não ponha a culpa em outra pessoa, não desista. É neste exato momento que a providência vai fazê-la crescer e alargar, não sem dor, o seu coração. O amor não tem limites, e por isso é sempre possível amar mais, e mais, e mais – e mais. Deixe-se destruir, por assim dizer; deixe-se matar, pois, como sabemos pelas parábolas, é dando a vida que se vive. Deixe-se espremer, como um limão!
7. A alma é imortal. Isso não é uma hipótese, uma opinião, um objeto de fé. Isso é um fato consumado, que está aí para ser compreendido por quem quiser ver. Olhe fundo nos olhos do seu esposo ou do seu filho e veja, com os olhos do seu próprio espírito imortal, que aquela pessoa não pode morrer com o corpo perecível. E, por conta disso, você só amará os seus filhos verdadeiramente se os amar como as almas imortais que são. Amar de verdade não é agradar, nem afagar os desejos; é dar o que é realmente bom. E o ser humano, iludido em seu íntimo, às vezes deseja o pior para si, e por isso educar é tão difícil.
Muito se fala sobre não podermos criar nossos filhos numa bolha, para nós mesmos, mas sim criá-los para o mundo. Eu, porém, vos digo: não criem os seus filhos para o mundo; criem-nos para Deus
Naturalmente, devemos primeiro saber o que é realmente bom, e aqui está, novamente, o preceito de sermos melhores, de erguermos nossas faculdades à altura de nossa missão, com a ajuda da graça. Pois é fácil saber que alguma coisa é boa, mas isso não basta. É preciso saber o que é melhor – e algo bom que toma o lugar de algo melhor torna-se, no páreo, algo relativamente ruim. Muitos ideais de educação, e coisas que visamos ao escolhermos isto ou aquilo para os nossos filhos, não são maus em si, mas são menores; não são o melhor, não são o ser humano inteiro. Portanto, podem e devem ser sacrificados, quando estiverem no páreo com algo infinitamente melhor. Tudo o que eles aprenderem somente para este mundo será, em algum momento, destruído, quando for destruído este mundo. Tudo o que eles aprenderem para a vida eterna seguirá com eles para a vida eterna. Muito se fala sobre não podermos criar nossos filhos numa bolha, para nós mesmos, mas sim criá-los para o mundo. Eu, porém, vos digo: não criem os seus filhos para o mundo; criem-nos para Deus. Foi Ele quem os confiou a nós, é a Ele que daremos conta no último dia, e é n’Ele que devemos confiar, em nossas necessidades.
Desejo que, embrulhadas no meu mais sincero carinho, estas sete verdades alegrem e encorajem todas as mães, e que vocês possam guardá-las em seu coração, como numa caixinha de joias. Assim, sempre que quiserem, bastará fechar a porta e, recolhendo-se em seu íntimo, contemplá-las de novo, quantas vezes quiserem.
Feliz Dia das Mães! Com amor,
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