Precisamos ter a paciência do agricultor, que espera e não colhe o fruto que ainda não está maduro.| Foto: StockSnap/Pixabay
Ouça este conteúdo

“É para ontem!” Esta frase, com nuances de cobrança ou traços de desespero, é dada como resposta nos mais diversos contextos da nossa vida contemporânea. Tudo é para ontem, nada pode esperar. Se falamos, em outra oportunidade, do valor do tempo como a matéria da nossa vida, e portanto da necessidade extrema de bem utilizá-lo, de respeitar o tempo dos outros e de prestar contas de cada um dos nossos dias, não é de todo inútil voltarmos a atenção, também, para a outra face da questão: a afobação, a pressa ansiosa, é a irmã gêmea do tempo desperdiçado, assim como são gêmeas a vã ociosidade e a irritação, a explosão impaciente.

CARREGANDO :)

Nós estamos imersos numa cultura imediatista, que está em crescente aceleração, com uma larga medida de ajuda, como já sabemos, do frenesi das telas, do marketing e das redes sociais. E falo isso sem dúvida principalmente com relação ao trabalho, ao consumo, aos serviços, à informação, à solução dos problemas e desconfortos; mas não só: isso se reflete também nas relações pessoais, inclusas as relações familiares. Não temos paciência com as pessoas, não damos a elas o tempo de se desenvolverem, de se corrigirem, de decantarem as coisas e pensarem, nem de amadurecerem, como amadurecem os frutos, aos quais não se pode apressar. Nós perdemos esse cuidado semelhante ao do lavrador, que tem consciência de que é forçoso esperar o tempo da terra. Queremos que a pessoa ao nosso lado resolva para ontem os seus problemas e defeitos, e que nossos filhos aprendam para ontem aquilo que “eu já disse trezentas vezes!” Mas não é assim, nem com maçãs, mangas e abacates, e nem com filhos, maridos e esposas. É necessário um tempo de maturação, conforme um ritmo que transcende e se impõe à nossa ansiedade, além de uma série de condições e elementos para que o fruto venha a dar, e a adocicar. É preciso ter paciência.

É difícil, eu sei. Mas muita gente acredita que a paciência venha de uma misteriosa fonte mágica, instantânea, ou que seja um dom nato, exclusividade das pessoas de temperamento tranquilo e mais caladas. E, sabendo das dificuldades e provações que vêm na vida conjugal e na criação dos filhos, acreditam que só podem se casar e ter filhos aqueles que já tem conquistada uma sólida, uma estoica impassibilidade. Não é bem assim. Antes de mais nada, porque impassibilidade não é o mesmo que paciência, e às vezes se fracassa porque se busca a coisa errada: a indiferença estoica aos reveses, a impassibilidade, é o justo oposto da paciência, como veremos claramente na etimologia das palavras.

Publicidade

Ser paciente exige de nós pensarmos em soluções eficazes para os problemas das situações e os defeitos dos outros, soluções que não sejam meramente tempestivas e violentas

Em segundo lugar, porque a dinâmica própria desses progressos, desse gênero de aprimoramentos pessoais, é outra: primeiro vem a dificuldade, e no processo de superá-la é que se conquista a virtude; ou, em outras palavras, primeiro vem o encargo, e depois vem a capacidade de executá-lo bem. Hoje eu tenho sete filhos, e certamente não tinha a mesma “quantidade de paciência” que tenho hoje quando nasceu o primeiro, e o segundo, e o terceiro. Ao longo do tempo, pelejando com cada uma das novas circunstâncias, é que fui paulatinamente desenvolvendo essa virtude, e crescendo muito modestamente, sem deixar, é claro, de meditar sobre sua importância e de desejá-la. Afinal, para desenvolvermos qualquer virtude é preciso termos em mente algo do ideal aonde queremos chegar, mirar com os olhos brilhantes para aquele bem e dizer, com o coração: “eu não sou; mas eu quero ser assim”.

E, por fim, seja ou não uma tendência facilitada conforme o temperamento da pessoa, a virtude em si não é um dom nato: é um dom, de fato, mas um dom pelo qual devemos pedir. Quem tem fé deve pedir ao Pai das luzes, de quem “provém toda dádiva excelente e todo o dom perfeito” (Tg 1,17), que lhe dê mais paciência e, com suas boas obras, aceitar, efetivar a recepção dessas graças. Em todo caso exige esforço, sim; o que não exime ninguém da empreitada, que é para todos, sem exceção. Por quê? Porque todo ser humano foi feito para amar, e a paciência nada mais é do que o rosto cotidiano do amor. O amor que sentimos e que desejamos devotar àqueles que queremos bem, especialmente os mais próximos como nosso marido e nossos filhos, nós o expressamos nessa linguagem, nós o concretizamos nessa matéria cotidiana que é a paciência. E de fato só o amor é causa de paciência.

Então, minha falta de paciência com as crianças, por exemplo, é falta de amor para com elas? De algum modo, sim, a impaciência tem a ver com falta do amor. Mas o problema não é tanto a “quantidade” de amor que você tem para com seus filhos, em absoluto, mas sim a proporção: o problema é o amor demasiado que você ainda tem em relação a si mesma. E isso não é porque você é especialmente má, e chegou a esse ponto por culpa própria, não: todos os seres humanos somos assim em princípio, por uma infeliz tendência desviada que, como é de domínio público, a religião chama de pecado original. Nós sem dúvida fazemos muito pelos nossos filhos, em muitos âmbitos e em muitos sentidos: acordamos cedo e durante a noite, e sentimos dores para amamentar, e nos gastamos em mil e uma tarefas domésticas, e os levamos para aqui e acolá, e muito, muito mais. Mas com que espírito fazemos tudo isso? De murmuração, de obrigação, de... impaciência?

Quando nos irritamos ou somos impacientes, é o nosso amor-próprio que grita; é o nosso amor desordenado por nós mesmos que nos compele a reclamar, é ele que se debate quando a situação pede que troquemos nosso bem pelo do outro; em suma, é ele que nos leva a rejeitar o sofrimento. “Paciência” vem do latim patientia, sendo a raiz pati “sofrimento”, “padecimento”; ou seja, significa “capacidade de sofrer”. A virtude da paciência é o bom hábito de padecer de maneira digna, é a capacidade de suportar as contrariedades com elegância e de boa vontade, fazendo valer o seu ganho espiritual. Não se trata de uma mera resignação, ou de uma impassibilidade (impatibilitas) – que seria não sofrer nada, uma insensibilidade. Não é a resignação de quando não se pode fazer nada, e dizemos: “Paciência...”, como quem diz “... remediado está”. É algo além do esforço de aguentar, de suportar os outros: a paciência é um esforço por ser suporte para os outros. Ser paciente exige de nós pensarmos em soluções eficazes para os problemas das situações e os defeitos dos outros, soluções que não sejam meramente tempestivas e violentas. O impaciente quer resolver tudo na base da força e do grito, mas só consegue, no melhor dos casos, uma aparência de solução muito provisória. Oh, como isso é importante no caso das mães e dos pais, e como é necessária a paciência na educação das crianças, digo, a verdadeira paciência.

Publicidade

É mais fácil identificar os pais impacientes que se expõem destemperados, que estão sempre de cenho franzido, e que por pouco apertam os dentes, gritam como trovões, ou então viram os olhos, praguejam, e dão braçadas alvoroçadas no ar, porque “não aguentam!”. Esses pais parecem estar sempre indignados com o fato de as crianças não saberem justamente aquilo que eles mesmos deveriam lhes ensinar, como que impacientes com o fato de elas ainda não terem se tornado adultas! Costumam apelar muito prontamente para castigos, inclusive castigos físicos, e logo perder a medida. Mas estes, assim como são facilmente identificáveis como carentes de paciência, são também, se tiverem boa vontade, facilmente convencidos de que precisam aprender a se controlar, a se esforçar mais, treinar e trabalhar por crescer nessa virtude.

Em comparação, têm mais dificuldade de se compreenderem impacientes, e portanto de trabalharem em si a virtude da paciência, aqueles pais que confundem a paciência necessária à educação com uma atitude neutra, a de inércia e impassibilidade. Essa atitude costuma ter algo a ver, a mim me parece, com a influência que tem sobre muita gente o mito do “bom selvagem”, e a consequente romantização da infância e da criança, como se a bondade emanasse dela naturalmente, e nós, representantes da “sociedade humana”, é que a estragássemos. Portanto, ser paciente com o tempo de desenvolvimento da criança seria simplesmente não interferir, não fazer nada além de aguardar que ela se resolvesse sozinha. Ora, ser paciente com a criança não tem nada a ver com “observar sem se envolver”.

A verdadeira paciência na educação é, enfim, com amor e ternura, sem em nada negligenciar a firmeza, orientar, dar o caminho e o limite

Eu disse que a paciência é o rosto cotidiano do amor, e não querer ensinar os filhos, não querer corrigi-los quando estão agindo mal, é uma bela obra de desamor. Deixar que façam tudo e que descubram tudo sozinhos é uma obra de desamor. O amor cotidiano, isto é, a paciência na educação, é ensinar a cada dia, com mansidão, como as coisas devem ser feitas, onde está o caminho que é preciso seguir, e corrigir quando não estão fazendo algo da melhor maneira. Muitos têm a intuição disso, mas na prática acabam se confundindo, e deixando que a criança faça sempre as coisas por si mesma. E pior: ao cabo de um certo tempo, essa impassibilidade se esgota e tornam-se os impacientes do primeiro tipo, e também terminam por cobrá-la de algo que não lhe ensinaram, ou em que não a corrigiram, e assim são injustos com ela.

Sermos pessoas pacientes significa que vamos padecer amorosamente, o que não é nem rejeitar o sofrimento e explodir de cobrança e irritação, nem ser apático e deixar de assumir seu papel. É colocar-se numa verdadeira posição de compreensão com relação às carências do outro, o que nos permitirá, de fato, dar-lhe aquilo de que precisa – nos permitirá orientarmos seus afetos, sua vontade, sua inteligência. A repetição, a incansável repetição, uma e outra vez, faz parte da educação das crianças, e quando temos uma reação do tipo “quantas vezes eu vou precisar dizer para fazer isto e aquilo?!” é sinal de que ainda não compreendemos bem o que é educar uma pessoa... Uma criança pequena anseia por conhecer os limites das coisas, por conhecer os padrões e as regras claras do funcionamento do mundo. Repetir sempre as mesmas orientações é parte essencial do processo educativo: repetimos agora, enquanto fornecemos os meios para que a criança as ponha em prática, e logo, dentro de poucos anos, não precisaremos mais repetir as palavras, que já terão plasmado hábitos. E para os pequenos, que não têm ainda em funcionamento a razão abstrativa e absorvem tudo o que toca os seus sentidos, a serenidade com que os pais se dirigem a eles é de extrema importância. Assim eles se solidificam como a confiável base de exploração do mundo que as crianças precisam ter, e são para eles uma âncora de estabilidade.

Publicidade

Se, ao presenciar uma birra, a mãe logo perde a paciência e ameaça, grita, castiga e oprime, sem nem mesmo tentar compreender a causa – qual regra ela está testando? Qual desejo foi frustrado? O que ela estaria dizendo, se soubesse como? Estaria, na verdade, com sono, cansada, ou com fome? Ou com outra carência afetiva?... –, nada de bom se tirará da situação. Do mesmo modo, se a mãe apenas se põe do lado e espera, com uma romântica pretensão de “deixar a criança se resolver sozinha” e “dar a ela o seu tempo”, supostamente tendo paciência com seu desenvolvimento, estará indo na contramão da educação. Pois a mensagem que ela transmite então é de impotência, de falta de empatia (notem a mesma raiz pati). Essa mãe está francamente assistindo à criança sofrer sem oferecer ajuda. E esse tempo de nada adianta, pois a criança continuará desorientada, sem saber o que deve sentir, o que deve fazer, como sair daquela situação.

A verdadeira paciência na educação é, enfim, com amor e ternura, sem em nada negligenciar a firmeza, orientar, dar o caminho e o limite. Muitas vezes, o caso é de fornecer os recursos de linguagem e de vocabulário, ou de esclarecer sua consciência moral, definindo exatamente o que é certo e o que é errado. É aí que começa a verdadeira educação, é aí que apenas tem início todo o nosso trabalho. É uma obra de amor ensinar os ignorantes, e corrigir as pessoas que erram. Ignorar e errar é próprio das crianças, e por isso ensinar e corrigir é a obra de misericórdia própria das mães. Mas isso exige tempo, exige... paciência.

Temos de ser pacientes como o lavrador da terra, que aguarda o precioso fruto que ela vai dar. Ele cuida do solo, lança a semente, rega e deixa o tempo regar, e espera que a mudança das estações faça valer o seu trabalho, e forme a planta, a flor, enfim o fruto. Nós temos de tratar as pessoas, não como coisas dadas, prontas e acabadas; temos de olhar para elas como se pudessem dar esse bom fruto que só amadurece com o tempo, e não podemos nos deixar dominar pela pressa de logo arrancar o fruto verde da educação que damos aos nossos filhos. E muito menos de esperar que, sem nossa interferência, a agricultura se fará sozinha.

Educar é como cultivar, portanto é trabalhar sobretudo para que se criem raízes, e para que fiquem cada vez mais profundas. É deixar passar o dia e a noite. Cada dia que desponta deve ser para nós a possibilidade fresca de um recomeço, uma nova esperança, um novo sulcar na terra, para colocar de novo a boa semente. E, durante a noite, confiamos ao mistério do sono o seu trabalho oculto de consolidar o dia de esforço, mesmo que ele tenha sido um dia árduo, ingrato, apenas retirando ervas daninhas. É bom, ao fim do dia, fazermos sempre um balanço do que fizemos de bom, e do que não foi tão bom assim. Ao fim das semanas, e ao longo dos anos, vai aos poucos sendo escrita com nossa ajuda a história, a biografia dessa criança, que um dia frutificará em autonomia. E a nossa, como pais amorosos e pacientes, vai sendo escrita com a inconsciente ajuda dela, que dorme como um anjo e faz subirem lágrimas aos nossos olhos fundos de cansaço. A paciência nos leva a compreender as almas e, como disse um santo padre, “aprender a esperar não é pouca ciência”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade