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Há cerca de dez meses, publiquei nesta mesma Gazeta do Povo coluna intitulada “Os boatos sobre a minha morte”, na qual, imitando o escritor Mark Twain, que teve a sua morte noticiada erroneamente por duas vezes, alertei que ficariam, no fim, frustrados aqueles que davam como certa a cassação de meu mandato como senador.
Dito e feito. Primeiro, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), em julgamento técnico, impecável e amplamente divulgado, rejeitou as ações que buscavam a cassação de meu mandato. O TRE, como já disse antes, honrou a independência da magistratura, pois pressões políticas não faltaram.
Tendo ganho no Paraná, logo começaram os boatos de que no Tribunal Superior Eleitoral seria diferente, e que a decisão do TRE seria revertida. Nesta terça, os rumores foram definitivamente sepultados. O TSE, demonstrando independência, realizou um julgamento técnico, o que tornou inevitável jogar na lata de lixo as acusações falsas e mentiras produzidas pelos autores dos pedidos de cassação.
Em todas as ocasiões apostei em seguir em frente, mesmo diante daqueles que afirmaram que a tarefa era impossível
Ouvi muitas vezes que seria impossível preservar o meu mandato.
Nessas ocasiões, lembrei-me da Operação Lava Jato e de quantas vezes ouvi que era impossível combater a grande corrupção no Brasil. Não era: crimes foram descobertos, corruptos foram presos e dinheiro desviado foi recuperado em escala nunca antes cogitada. Os reveses atuais, decorrentes de um revisionismo político e não jurídico, diminuem, mas não excluem os impactos da maior operação contra a corrupção já feita no Brasil. O exemplo está ali para ser um dia retomado.
Lembrei-me do meu período como ministro da Justiça e Segurança Pública. Diziam que era impossível combater o crime organizado no Brasil. Em particular, diziam que transferir os líderes do PCC para presídios federais geraria rebeliões e ataques terroristas em todo o Brasil. Não era verdade. Aprovamos a lei do confisco alargado, atingimos recordes de apreensão de drogas, transferimos e isolamos as lideranças do crime organizado em presídios federais. Em 2019, o número de crimes caiu em todo o Brasil, em porcentuais inéditos – para se ter uma ideia, os assassinatos caíram 22% de 2018 para 2019, segundo o Atlas da Violência. O país ainda é violento e o crime organizado é poderoso, mas não é impossível enfrentar, com eficiência, o problema.
Lembrei-me de quando resolvi ingressar na política. Depois de ser forçado a deixar a pré-candidatura presidencial, por ser abandonado pelo Podemos, muitos me sugeriram tentar a candidatura a deputado federal. Para o Senado, a disputa no Paraná seria acirrada pela polarização política. Seria uma missão impossível no meio do conflito entre Lula e Bolsonaro. Não teria, ainda, o apoio do governador do estado. Descartei a sugestão e insisti no Senado. Apostei que os paranaenses prestigiariam meu histórico no serviço público e que, apesar das mentiras do PT sobre a Lava Jato, tinham eles orgulho do fato de a operação ter sido realizada a partir deste estado. No fim, fui eleito com 1.953.188 votos, que carrego no coração, com muito orgulho e gratidão ao povo paranaense.
Em todas essas ocasiões apostei em seguir em frente, mesmo diante daqueles que afirmaram que a tarefa era impossível.
O mesmo fizemos, eu e minha equipe, frente aos desafios da Justiça Eleitoral. Sabíamos, em primeiro lugar, que tínhamos razão. As ações que buscavam a cassação do mandato foram movidas pelo rancor do PT e pelo oportunismo de duas lideranças locais do PL paranaense, Fernando Giacobo e Paulo Martins. As acusações eram falsas e absurdas. Minha campanha eleitoral foi limpa; seguimos estritamente todas as regras, como um manual. No fundo, os autores das ações contavam com o clima político de revanchismo contra a Lava Jato e esperavam ganhar mesmo contra os fatos e a lei. Entre outros absurdos, chegaram ao ponto de alegar que os gastos com a minha segurança configuravam abuso de poder econômico e que eles teriam influenciado a eleição. Ora, o meu passado de combate à corrupção e ao crime organizado mais do que justificava, em uma eleição polarizada, o uso de seguranças, e é evidente que esse gasto não mudou o voto de nenhum eleitor.
Nem a descoberta, já após a eleição, de um plano pretérito do PCC contra mim e contra minha família comoveu os autores das ações a abandonar o esdrúxulo argumento. Mais fantástica ainda foi a alegação de que eu teria usado uma pré-candidatura presidencial de fachada para me tornar conhecido para a eleição ao Senado no Paraná. Ora, além de ser conhecido no Paraná desde a Lava Jato, eu desisti da pré-candidatura presidencial apenas por causa da traição do Podemos – movimento pessoal e politicamente doloroso.
Sigo firme no Senado, representando todos os paranaenses. Sou oposição ao governo Lula, mas não quero alimentar uma polarização raivosa, que embota o raciocínio e só beneficia o próprio governo
O julgamento do TSE foi emblemático ao rejeitar esses e outros argumentos absurdos e ao prestigiar a escolha de quase 2 milhões de paranaenses. A soberania popular precisa ser preservada. As divergências em uma democracia devem ser resolvidas na arena própria da política, sem que os partidos ou agentes políticos apelem à judicialização.
Sigo firme no Senado, representando todos os paranaenses. Sou oposição ao governo Lula, mas não quero alimentar uma polarização raivosa, que embota o raciocínio e só beneficia o próprio governo. Pretendo me opor a políticas públicas ruins, como as de aumentos de gastos do governo ou de elevação de impostos sobre a população. Quero aprovar ou colaborar com bons projetos de lei, como o do fim das saidinhas dos presos nos feriados, um primeiro passo para melhorar a segurança pública. Queremos construir a nossa Fortaleza Paraná para preservar o nosso estado contra o modelo ruinoso de gestão pública que o governo do PT vem oferecendo ao país.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos