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Sergio Moro

Sergio Moro

Atentado contra Trump

Um tiro na democracia

O ex-presidente dos EUA Donald Trump é levado às pressas para fora do palco pelo serviço secreto após ser atingido por um tiro durante um comício de campanha em Butler, Pensilvânia, EUA, 13 de julho de 2024.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump é levado às pressas para fora do palco pelo serviço secreto após ser atingido por um tiro durante um comício de campanha em Butler, Pensilvânia, EUA, 13 de julho de 2024. (Foto: David Maxwell/EFE/EPA)

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Escrevo ainda sob o impacto do atentado a tiros contra Donald Trump na Pensilvânia. O atirador não acertou o tiro fatal contra seu alvo, mas fez suas vítimas. Consta que o bombeiro Corey Comperatore, ao ouvir os tiros, tentou proteger sua família e foi atingindo, vindo a falecer. Outros dois indivíduos foram alvejados e estariam em condição grave. Já o ex-presidente e candidato foi atingido de raspão, na orelha, a revelar o risco enorme que correu. Em reação do Serviço Secreto, o atirador foi morto em combate.

Infelizmente, não se trata da primeira vez que um presidente ou candidato à presidência sofre um atentado. A vítima mais célebre foi Abraham Lincoln, seguido de John F. Kennedy. James Garfield e William McKinley completam a lista dos presidentes assassinados. Atentados também foram cometidos sem sucesso contra Theodore Roosevelt e Ronald Reagan. A lista de assassinatos políticos nos Estados Unidos infelizmente é longa, podendo ser citado dois casos famosos como Martin Luther King e Bob Kennedy. Felizmente, Trump sobreviveu ao atentado.

Por mais lamentáveis que tenham sido esses crimes, a democracia norte-americana persistiu resiliente, não se somando às vítimas. Abalos ocorreram, mas, apesar do clamor e drama, os alicerces da democracia norte-americana permaneceram sólidos.

É urgente acabar com a rotulação do adversário político como um inimigo da democracia a ser aniquilado. É preciso ser solidário ao adversário em episódios inaceitáveis

Nada faz crer que agora será diferente. Não se imagina que os Estados Unidos seguirão para alguma espécie de regime de exceção, com cerceamento das liberdades. As eleições correrão normalmente e a democracia norte-americana seguirá verdadeiramente inabalada. No curto prazo, a consequência política imediata será o aumento do favoritismo de Trump para as eleições presidenciais.

No Brasil, a lista de atentados políticos contra presidentes ou candidatos à Presidência é menor, mas ainda assim significativa. O caso mais notório consiste na facada desferida contra o então candidato Jair Bolsonaro em 2018. No distante 1897, o presidente Prudente de Morais foi também vítima de tentativa de assassinato, mas foi salvo pelo ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, que se interpôs entre a vítima e o algoz, recebendo os golpes fatais. Na lista de atentados contra outros agentes políticos relevantes, temos o assassinato do senador Pinheiro Machado, na República Velha; do ex-governador da Paraíba João Pessoa, causa imediata da Revolução de 30; e o famoso atentado contra Carlos Lacerda na Rua Tonelero, que levou ao posterior suicídio do presidente Getúlio Vargas. Cada um desses crimes teve consequências enormes na vida política do país, reverberando como abalos sísmicos.

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Toda essa violência leva a crer que os meios da política e a guerra podem se confundir e não estão tão separados como no célebre adágio do general prussiano Carl von Clausewitz (“a guerra é a continuação da política, por outros meios”). Há uma lição a ser extraída. O ideal seria que todos esses episódios de violência, em especial o atentado contra Trump, favorecessem a diminuição da polarização política e a intensidade dos ataques verbais dirigidos aos agentes políticos. Destaco aqui a frase dita pelo governador da Pensilvânia após o atentado: “todos os líderes precisam baixar a temperatura e superar a retórica odiosa que existe e buscar um futuro melhor e mais brilhante para esta nação”. É necessário repudiar a violência política sem condicionantes ou ressalvas. É urgente acabar com a rotulação do adversário político como um inimigo da democracia a ser aniquilado. É preciso ser solidário ao adversário em episódios inaceitáveis. Lembro, aliás, tratando aqui de questão pessoal, que, quando foi descoberto o plano de ataque do PCC contra mim, muitos minimizaram ou desqualificaram o episódio, o que foi lamentável.

No Brasil, a polarização política é uma realidade, mas o país não se encontra em risco de ser destruído ou transformado em uma ditadura. O governo Lula é um desastre, mas pode-se aguardar 2026 para substituí-lo. Doutro lado, não há mais qualquer justificativa – se é que já houve – para atropelos legais em nome de um salvacionismo da democracia. O que o atentado na Pensilvânia nos ensina é que o passo seguinte ao excesso é a violência.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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