O nome pode não soar familiar, mas o cantor e compositor Sergio Augusto pertenceu ao primeiro escalão da Bossa Nova em São Paulo. Ele integrou o núcleo criador e difusor do movimento onde se localizam Johnny Alf, Alaíde Costa, Zimbo Trio, Paulinho Nogueira, para citar alguns.
A história musical de Sérgio foi atravessada pelo violão de João Gilberto. Como tantos, foi tocado com a gravação de “Chega de saudade” e desde então resolveu dedicar-se à Bossa Nova. Cravou seu nome na noite paulistana.
A primeira canção, “Barquinho diferente” – alusão direta ao “Barquinho” de Menescal e Bôscoli – , escrita aos 15 anos de idade, teve gravações do Zimbo Trio, Claudette Soares e até uma certa cantora chamada Hebe Camargo. Pois é…
Seguinte: Sergio Augusto, radicado atualmente no Colorado (EUA), retorna aos discos com “Quatro estações” via gravadora Lua Music. São treze faixas (no total 15 canções) em que relê clássicos da Bossa Nova e também composições próprias. A exemplo de João Gilberto, o canto de Sergio é macio e quase sussurado.
O violão não se apega tanto a levadas sincopadas ou acordes invertidos como faz João por excelência, mas a cadência não deixa dúvidas: isso é Bossa Nova, isso é muito natural para ele.
Trata-se de um disco à base de voz e violão – Sergio conta com o auxílio luxuosíssimo de Natan Marques nos solos ao violão. Amigos há anos, os músicos atuaram no palco e também no ramo da publicidade com as composições e arranjos de jingles a trilhas para comerciais de rádio e Tv.
O repertório de “Quatro estações” abriga canções não pertencentes ao movimento como a rancheira (ou ranchera) “La Bikina”, do mexicano Ruben Fuentes, “Something” (George Harrison) ou mesmo “Atire a primeira pedra” (Ataulfo Alves – Mario Lago). Nessa última, o resultado não soa muito bem por não oferecer nada além de um andamento mais lento, canto macio e empenhada combinação de acordes. Há também uma certa palidez na releitura de “Dindi” (Tom Jobim – Aloísio de Oliveira).
Sergio se sai melhor em “E nada mais” (Durval Ferreira – Lula Freire), “Nossa primavera” (dele com João Garcia e Egídio Leitão) ou reinterpretando a primordial “Manhã de carnaval” (Luiz Bonfá – Antônio Maria) ou mesmo “Wave/Triste”, de Jobim. A cadência quase sincopada pode ser conferida na deliciosa “Vê” (Roberto Menescal – Lula Freire), um dos bons achados do disco, a exemplo de “De onde vens” (Dori Caymmi) emendada a “Bonita” (Jobim – Ray Gilbert).
“Quatro estações” vem na esteira das comemorações dos 50 anos de surgimento da Bossa Nova. “Acho que nosso movimento vai perdurar por muito tempo pois sua maior qualidade é ser atemporal.De qualquer maneira, sempre teremos poucos e ótimos ouvintes”, declarou Sergio no material de divulgação.
De fato, o álbum ratifica a relação estreita do artista com o movimento através de um repertório orientado pela preferência do público que vem conquistado nos EUA. Nesse ponto, o artista acertou por não escolher canções tão batidas da Bossa Nova, expediente levado à exaustão por quem está de olho – gordo – no mercado internacional. Sergio imprime seu estilo e não cai em repetição a exemplo da nipo-brasileira Lisa Ono. Isso é muito bom!
No todo, “Quatro estações” é um projeto de verdades. Não poderia ser diferente em se tratando de Sergio Augusto, referência da facção paulistana da eterna Bossa Nova. Que, aliás, tem muito o que comemorar ainda.
Mais informações sobre o cantor e compositor no site www.sergioaugusto.com
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