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Durante a passagem de som: Tetê aquece seu versátil “instrumento”

Quem não foi, tente imaginar a platéia transformando-se, repentinamente, numa floresta (mata que seja!).Ela deu opções para cada um escolher a ave que quisesse (arara, quero-quero, papagaio, acauã, etc). Onomatopéias. Festa.Ode aos pássaros!

Se o público ainda estava frio (e no começo estava mesmo), Tetê Espíndola fez os pólos se descongelarem no show ocorrido no último sábado, em Londrina. Pediu – e foi atendida – para todos imaginarem um círculo azul em torno do planeta. E todos vibraram: “Om pela Paz”. Eu vibrei em pelo menos três “ons”. Hehe! Bacana. Descontração. Seriedade.

Menos histriônica, Tetê abriu-se em agudos, mas manteve-se, no geral, em tons confortáveis. Sim, a voz continua extensa, bela e com modulações impecáveis. Sim, muita gente esperou “Escrito nas Estrelas”, que só veio no bis. Sim, teve corinho.

Não, não! Tetê Espíndola não apresentou um espetáculo óbvio. Entre canções pouco conhecidas, pulverizou sucessos próprios. Incisiva! Releituras interessantes como a desconstrução de “Trem das Onze” (Adoniran Barbosa), que uns e outros tentaram acompanhá-la. Assim, assim…


Flagrante no camarim: espelho reflete 30 anos de trajetória de uma artista sem retoques…

Deu versão “brejeira” para “O Meu Amor” (Chico Buarque), mesmo que precisasse recorrer às estrofes impressas e dispostas estrategicamente em pontos do palco. Só faltou correr o dedo para seguir a letra.

Abriu brechas populares em “Carinhoso” (Pixinguinha-Braguinha), interpretada da maneira mais recorrente possível. Hum! Estava leve. Com direito a brincadeiras sobre a venda de Cds na portaria do Teatro Marista, onde foi aplaudida, após o show, por quem queria um autógrafo.

Os discos evaporaram-se rapidamente. Inclusive o mais recente “E VA POR AR” (LuzAzul/Tratore), do qual apresentou algumas músicas. A delicada “Semente de Som” (parceria com Chico César).

Trechinho:”Semente do som do sim/Vem dizer a mim/ quem te plantou no Jardim do Éden/ Somente teu som de sim/Vem dizer a mim/ quem me plantou no jardim, no Éden/Somente teu som pássaro raro, raro, rare, rare). Notas simples, acordes simples, mas as modulações, ah, as modulações de Tetê…

Ao palco, subiu acompanhada dos seguintes músicos: Adriano Magoo (teclado e sanfona), Marcelo Ribeiro (baixo) e Sandro Moreno (bateria). Ela, com a inseparável craviola. Exímia instrumentista.


Com os músicos: prontos para os aplausos no show que aconteceu sábado, em Londrina

Produção local eficiente de Roberta Nunes e Fábio Mansano, da Vectra Construtora, promotora do show. A iluminação – correta e elogiada em cena por Tetê – sob cuidado do jornalista Renato Forin Jr., que já roteirizou e dirigiu dois shows da cantora londrinense Joyce Cândido.

Interessante a trajetória de Tetê Espíndola, viu?! Poderia ter cedido aos açoites das gravadoras multinacionais depois do estouro “Escrito nas Estrelas”. Chegou a fazer um álbum pós “Festival dos Festivais”,vencedora. Chama-se “Gaiola” (Polygram,1986).

Poderia ter se rendido ao mainstream, embolsado bons trocados e descolar o rótulo de vanguardista. Pior: com o tempo tornar-se uma caricatura. Tomou as rédeas. Será sempre contemporânea pelas verdades!

Três décadas de estrada… Puxa! O tempo serenizou as ânsias vocais. A tessitura da voz permanece arrojada.Vai do sopraníssimo aos registros médios. Tudo tem boa emissão. Investe atualmente no volume, na respiração e não somente – como quer a turma do pão e circo – na extensão vocal.

Não precisa provar mais nada. Não “comete” mais exageros como a gravação de “Saia do Meu Caminho” (Custódio Mesquita-Evaldo Ruy), em dueto com Nelson Gonçalves,1986.

Tetê Espíndola fez o próprio tempo. Soube preservar seu versátil instrumento. O essencial reside na garganta dessa mulher. Os pássaros estão em sua garganta.

Ela os solta quando deseja. E todos voltam… Voltam mesmo! Por azuis caminhos… A “floresta”(mata que seja!!) viu, ouviu e aplaudiu. Gorjeios!

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