Nomes: Vanessa Longoni (cantora), Angelo Primon (viola caipira e violão), Luke Faro (bateria e percussão) e Marcelo Corsetti (guitarra). Quarteto potente. Referências na cena gaúcha, cada um dos integrantes possuem bons metros quadrados de ocupação. Incensados.
Por conta das conjunções musicais construíram a Realidade Paralela. Uma banda cuja sonoridade estilhaça formalidades e sinaliza conceitos estéticos interessantíssimos. Cruzamento do acústico e tecnológico.
Ok, muitos fazem isso, se dão bem e coisa e tal. No caso da banda Realidade Paralela o diferencial está no contraste de timbragens, no modo de preencher canções, na assinatura legível de quem quer fazer – e faz – algo agradável sem recorrer a clichês.
O primeiro CD – independente, com tiragem inicial de mil cópias – está na roda e agrupa canções aparentemente distantes, mas que no todo passam por um processo de reformatação. De desconstrução. São clássicos nacionais e internacionais ou mesmo um mantra hindu. Assim: Vinicius e Edu convivem com Bono Vox, a nova bossa com solavancos nordestinos.
Que nome dar? Classificações são necessárias? Se alguns acham necessário rotular, o quarteto faz MPeB. Ou seja, Música das Pessoas de um Brasil nas palavras de Vanessa Longoni. “O álbum é livre! Música livre para livre pensar e sentir. Respeitamos nossos ouvintes, deixamos seus arquétipos internos definirem a intensidade da sua degustação sonora”, diz a intérprete com recursos admiráveis e inteligência musical concedida a poucos.
Sim, a Realidade Paralela tem boa voz. Tem também levada roqueiro por conta da guitarra incisiva de Marcelo Corsetti em consonância com as cordas acústicas de Angelo Primon, que vai também à rabeca e ao sitar. A efervescência se dá também nas baquetas de Luke Faro – encadeamento de ritmos vários. Os três provêm da banda Terratrônix com trabalho calcado nas experimentações tecnológicas e acústicas., Todos do Realidade Paralela vêm de trabalhos distinto e, no entanto, há tempos se entreolham.
O primeiro batismo da banda aconteceu em novembro do ano passado, na Feira do Livro de Porto Alegre. Repertório testado e aprovado, o disco. Nove faixas. Apenas uma inédita, a confessional “Perfume, pente, pensamento” (Vanessa Longoni e Richard Serraria) em levada de bossa. Bacana!
A pungente feitura de “Arrastão” (Edu Lobo -Vinicius de Moraes) vem sob o signo da modernidade. Da atualização.O hino riponga “Aquarius” (eternizado pelo 5th dimension) vem no balanço de um possível ijexá. Boa sacada!
“All because of you” (U2) tem lá seus encantos, mas nada tanto assim. Recaem sobre “Atirador” (Lula Queiroga) e “Luz da nobreza” (Pedro Luis – Zé Renato) argumentos suficientes para se ter o disco da Realidade Paralela.
Se bem que “Gírias do norte” (Jacinto Silva-Onildo Almeida), atravessada por rock pesado e dos bons,também contenha fortes motivações para se atentar à destreza e à pluralidade do respeitável quarteto.
A seguir, trechos da entrevista que a cantora Vanessa Longoni concedeu ao blog Sintonia musical.
CD lançado como fica a trajetória da banda? Permanece ou depois do projeto cada um volta ao próprio espaço?
A banda começou de forma totalmente leve. Assim têm sido as dinâmicas de comunicação interna, com as pessoas que se aproximaram e com o público em geral. Entendemos que, de forma natural, os desdobramentos deste encontro sejam por horas ilimitadas. Existe sempre uma realidade paralela a tudo que acontece ou que fazemos. Portanto estamos sempre acontecendo paralelamente e juntos.
Há uma reformatação de canções nas searas acústicas e elétricas. Esse expediente é bastante utilizado. Portanto, quais nuances diferenciadas vocês buscam? As experimentações como proposta estética seriam a principal assinatura do Realidade Paralela?
Sim. Começamos por duas liberdades básicas: a de termos a instrumentação que formamos com guitarras pirotecnológicas, violas caipiras, violões, rabecas, afinações não convencionais, uma bateria tocada com requintes estratosféricos de polirritmia e interpretações viscerais da nossa bruxinha Longoni; a outra liberdade que nos outorgamos é a de tocar as músicas que gostamos ou gostaríamos de tocar. A junção destas duas coisas aliadas à química interpretativa na performance ao vivo torna o som do grupo uma digital, uma personalidade ímpar pela diversidade.
Há canções aparentemente distantes, de mantra hindu a U2. Bem como nuances sonoras que vão desde o ijexá até Bossa Nova, sem perder a pegada roqueira. A narrativa é fragmentada, digamos assim. A costura, o possível conceito estaria no estofo?
Nós temos, pessoalmente, motivos muito claros para entender que fazemos música com arte. Explicamos: a arte é tudo aquilo que transforma, que choca pela beleza ou pela feiura, pela simplicidade ou pela complexidade. Pelo choque de paradigmas. Isso é o que causamos em algumas pessoas, pois a música que construímos consegue sentido em gêneros opostos, se podemos dizer assim. Consegue sonoridade não tendo uma formação instrumental convencional.
A pergunta que nos fazemos é: até que ponto nós como ouvintes ou fazedores de música estamos cristalizados em conceitos estáticos iniciais sobre estática, gênero, formação instrumental, emoções e sentimentos? A resposta para nós pode parecer emergir da simplicidade do divertimento.
Um CD de inéditas demoraria mais para as pessoas compreenderem qual é a de vocês?
Sinceramente achamos que não. Só entendemos isso como parte de um processo de auto-conhecimento do grupo. Este CD de estreia tomou esta configuração por situações particulares, mas não podemos perder de foco que a maioria destes arranjos soa como que uma composição do grupo também. Entendemos a composição como um processo em vários sentidos.
Descortinou-se para a Realidade Paralela, em primeiro plano, a reinvenção das músicas que registramos neste CD, possivelmente a composição em forma de canção tenderá a ganhar espaço nos movimentos criativos futuros do grupo.
Aliás, o disco sai de forma independente. Houve busca por gravadoras ou a independência foi planejada para ter autonomia musical?
Estamos abertos a todas as parcerias que respeitem nossa maneira de fazer música. Acho que até mesmo as gravadoras mais tradicionais do sistema “grandes vendagens, baita negócio” tenderiam a não ter uma visão de interferência artística no trabalho que fazemos.
Para concluir, o que dizer da cena gaúcha? Como vão vocês?
A cena existe, desorientada, mas existe. Bom, nem sabemos se existe orientação. É diversificada, porém alguns estilos que são sucesso do sudeste para cima não vigoram por aqui. Isso talvez nos dê uma sensação de identidade. Temos projetos individuais como pesquisas, lançamentos de CD e DVD,mas nosso foco é a divulgação deste novo trabalho – Realidade Paralela – que tem nos dado muito prazer.
Mais informações sobre a banda Realidade Paralela clique www.realidadeparalela.com.br e www.myspace.com/realidadeparalelars
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