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AVE, ELIS! AVEDUO, NO PAIOL!!

LUFF/DIVULGAÇÃO
COM PROPOSTA ESTÉTICA PARTICULAR, O AVEDUO, FORMADO POR ANDRÉA BERNARDINI E VIVIANA MENA, APRESENTA NESTA SEXTA E SÁBADO O ESPETÁCULO “ESSÊNCIA ELIS”, NO TEATRO PAIOL DE CURITIBA: “NA NOSSA ESCOLHA DE REPERTÓRIO PRIMOU O `SENTIR´ PARA DEFINIR AS MÚSICAS”

A partir daquele dia estilhaçado – 19 de janeiro de 1982 – o Brasil aprendeu a dizer saudade. Meio mundo também. Não foi fácil dar adeus a Elis Regina, a mais complexa intérprete, alquimia entre técnica e emoção que resultava em seiva espessa – ela!

Aos 36 anos de idade deixou 27 discos, 14 compactos simples e seis duplos. Tudo crepita na memória, tudo arde ainda. Evocações! Elis está viva nas cordas vocais dos que buscam compreender sua imensidão. E mistérios.

O AVEduo, formado pela brasileira Andréa Bernardini e pela argentina Viviana Mena, ocupa nesta sexta e sábado (dias 22 e 23 de maio)o espaço do teatro Paiol, em Curitiba, para realçar nuances de Elis Regina. Elas vão atuar no mesmo local que há 36 anos a intérprete gaúcha fez temporada.

A emoção vai escorrer por todo o ambiente porque a proposta das duas artistas concentra-se no nome do espetáculo: “Essência Elis”.

No repertório, 20 canções submetidas ao crivo do AVEduo. “Modinha (Tom Jobim – Vinicius de Moraes) abre o espetáculo com um arranjo “bluseado”. Outras também, como “Basta de clamares inocência” (Cartola), “Mucuripe” (Raimundo Fagner – Belchior), Cais (Milton Nascimento –Ronaldo Bastos) “Corsário” (João Bosco –Aldir Blanc) sem se esquecer dos primórdios – “Arrastão” (Edu Lobo- Vinicius de Moraes). Há “O sonho” (Egberto Gismonti), bela e tão pouco relembrada.

A seleção se deu pela memória da pele. “Outros critérios foram: qual a música que, dentre as tantas do repertório de Elis, por alguma razão, cala mais fundo na emoção. Na nossa escolha de repertório primou o `sentir´ para definir as músicas”, explica Viviana Mena.

Viviana, aliás, tem sentimento especial por Elis Regina. Tomou contato com a obra dela quando ainda morava em Buenos Aires – não compreendia o que vinha do vinil, mas dilatava-se em emoção quando a ouvia. Foi uma professora de canto, admiradora de música brasileira, quem indicou os sulcos.

“Posso afirmar que houve um antes e um depois em minha vivência como cantora ao ouvir Elis. Durante meses a fio não queria ouvir outra coisa”, relembra. Uma das referências maiores, conta, é o DVD do programa “Ensaio”, de 1973. “Mucuripe” foi a primeira canção interpretada por Viviana no Brasil, no Festival de Intérpretes de MPB, no Sesc da Esquina. Isso em 1997.

No espetáculo, o AVEduo estará acompanhado do pianista Sérgio Justen e das cantoras Giovanna de Paula e Elaine Vieira. Andréa Bernardini estará ao violão e também na percussão. A dinâmica de “Essência Elis” passa por solos, duetos e backing vocals. A interação com a platéia deverá ser imediata por conta das canções e de fatos relevantes narrados pelas intérpretes.

O formato é inédito, embora a dupla tenha apresentado, em 2005, uma homenagem a Elis Regina através de canções gravadas em espanhol como “Gracias a la vida” (Violeta Parra) e “Los hermanos” (Atahualpa Yupanqui). Anteriormente, em 1995, Viviana e um violonista argentino conceberam espetáculo, em Buenos Aires, para amigos.

Surgido em 2003, AVEduo expande linguagens. Além de pesquisa e seleção de repertório, arranjos, direção de shows e oficinas e palestras, Andréa Bernardini e Viviana Mena atuam em outras áreas culturas.

A dupla se enveredou por projetos interessantes como “Mujeres Latinas” (2006) – tributo a cantoras e compositoras do cenário musical do continente -; Cantos Sagrados (2007) – música sagrada indígena e de outros povos, que resultou num CD – ; e Ave, Crianças! (2008) – música de tradição oral com cantigas de roda e composições próprias.

Duas mulheres, ambas arte-educadoras, inclusive. “Temos um nobre e claro objetivo: sensibilizar o ser humano por meio da música e do canto”, diz Viviana.

Com tais palavras alguém duvida que “Essência Elis” tem tudo para ser um espetáculo com conteúdo e, claro, sensibilidades a toda prova? Certamente não.

A seguir, a entrevista que Viviana Mena concedeu ao blog Sintonia musical em que se percebe, através de raciocínio bem articulado, uma artista extremamente ciente do seu ofício, a exemplo da parceira Andréa Bernardini.

O espetáculo tem por nome “Essência Elis”. Qual seria a essência? Qual diferencial o AVEduo apresenta em relação a apresentações que enveredam pelo universo musical de Elis?

A palavra “essência”, no nome do nosso show, faz referência àquilo essencial, no sentido de profundo, da revelação do que há de mais verdadeiro na expressão de um artista, o seu eu profundo, o seu ser. Acredito que Elis Regina seja uma referência para muitas cantoras, brasileiras e estrangeiras, por muitos motivos. O que me tocou profundamente ao conhecer o trabalho da Elis foi a verdade que ouvia na sua voz, mesmo sem entender totalmente a letra, a poesia da palavra; eu sentia claramente que havia nessa voz uma conexão direta com a emoção e uma total liberdade na sua expressão como intérprete. Foi isso que me encantou, que me cativou. Eu já estudava canto fazia uns dez anos, cantava jazz, música folclórica, pop-rock argentino e até tango, mas não conhecia Elis. Mesmo estando tão perto, durante muito tempo houve muita distância entre a vida cultural argentina – e sul-americana em geral – e a cultura brasileira. Enfim, tema para outro bate-papo…

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AVEDUO NO ESPAÇO OCUPADO POR ELIS REGINA HÁ 36 ANOS: ESPETÁCULO CONTARÁ COM PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS E TERÁ 20 CANÇÕES QUE TENTAM EXTRAIR NUANCES DA INTÉRPRETE GAÚCHA, A MAIS COMPLEXA DA MPB

Viviana, achei interessante saber que tomou contato com a obra de Elis quando ainda morava em Buenos Aires. Em quais circunstâncias isso ocorreu, através de qual disco ou música?

Eu estudava canto quando uma professora, Inés Riglas, que tinha morado um tempo no Brasil e conhecia bastante de música e cultura brasileiras, dispunha de um material na época raro na Argentina. Um dia, numa aula, me disse: “você tem que escutar esta cantora!” Foi um divisor de águas para mim. Mudou minha forma de cantar, minha forma de sentir o canto. Posso afirmar que houve um antes e um depois em minha vivência como cantora ao ouvir Elis. Durante meses a fio não queria ouvir outra coisa que não fossem suas canções! Um dos primeiros discos que ouvi foi “Elis & Tom” e uma das primeiras músicas que aprendi a cantar desse disco foi “Modinha”, que está no repertório do nosso show, num arranjo “bluseado”, com duas vozes e violão.

Se você nunca pensou, gostaria que pensasse agora. Elis buscava sempre autores novos. Quem, a seu ver, dos autores surgidos depois que ela se foi, poderia ter gravado e feito maravilhas?

Em relação a novos autores, não sei dizer, não conheço muito, escuto música mais antiga, os clássicos; às vezes tentei imaginar como seria Elis hoje, como estaria cantando… Mas tem uma coisa tenho certeza que teria ficado maravilhoso na voz da Elis, com a força interpretativa que o estilo exige: alguns tangos. Principalmente (Astor) Piazzolla, que teve uma maravilhosa produção também nos anos 60/70, vanguarda do novo tango.

Interessante o nome AVEduo. Por que esse nome e desde quando está em atividade? Na cena curitibana – se preferir, paranaense –qual a metragem que vocês buscam ocupar?

AVE significa muitas coisas que, sintetizadas, dizem muito sobre nós e a nossa proposta artística. AVE! – saudação que significa Salve! – salve a música, salve o canto, salve a arte. Chamamos alguns shows com esta saudação: AVE, Crianças! AVE, Mujeres!, AVE, Curumins! AVE, Maria! Pedindo as bênçãos de Nossa Senhora, como símbolo representativo do divino feminino. AVE como anagrama de EVA, a primeira mulher. As Aves – segundo as tradições indígenas – são animais sagrados que fazem a conexão, por meio do canto e da beleza, entre o plano divino e o plano terreno. A de Andréa e V de Viviana. AVE: Arte, Voz e Educação: nossa metodologia na área de arte-educação.
Começamos nosso trabalho musical com AVEduo em 2003 e nosso desejo é poder levar nossas propostas artísticas às principais cidades do PR, aos Estados do Sul do Brasil e também, por que não, aos países vizinhos que admiram e apreciam muito música brasileira. Desde nosso começo, em 2000, com outra formação, o Trio Ameríndia, que pesquisava música folclórica e contemporânea da América do Sul, tivemos o objetivo de trabalhar pela integração cultural dos povos do nosso continente, começando pelo Sul do Sul. E continuamos tentando.

O AVEduo expande linguagens e eu gosto de quem assim procede. Você diria que há uma preocupação com a arte-educação? A que o AVEduo se propõe?

Nosso trabalho com arte-educação tem um nobre e claro objetivo: sensibilizar o ser humano por meio da música e do canto, que chegam aos corações. No caso de alunos de ensino fundamental e médio, o papel da música é primordial para auxiliar no desenvolvimento do ser como sujeito ativo, cidadão consciente e / ou artista potencial. De alguma maneira, nas diferentes linhas do nosso trabalho artístico, procuramos resgatar raízes culturais ancestrais, brasileiras e sul-americanas, visando à união e a amizade dos povos; conhecendo a cultura do outro conhecemos a “essência” do outro e poderemos nos identificar e reconhecer como iguais. Sonhamos em contribuir, mesmo em pequena escala, para aparar as arestas político-economico-esportivo-culturais entre Brasil e Argentina, principalmente.

Fiquei particularmente interessado nos projetos Cantos Sagrados e Mujeres Latinas. Como se dá esse processo de pesquisa?

“Mujeres Latinas” foi o primeiro show que apresentamos com o AVEduo como homenagem às grandes cantoras e compositoras da América Latina, como: Totó (Colômbia), Chabuca Granda (Peru), Violeta Parra (Chile), Mercedes Sosa (Argentina), Elis Regina, Clara Nunes, Clementina de Jesus (Brasil) e destacando o feminino na música. “Cantos Sagrados” surgiu como resultado de dois anos de pesquisa de música sagrada indígena e de outros povos e como parte de nossa busca espiritual. Em 2007 gravamos nosso CD do mesmo nome, em forma independente. Atuamos principalmente em Curitiba, apresentado diferentes modalidades de shows em teatros, eventos culturais, celebrações xamânicas, entre outros.

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VIVIANA E ANDRÉA EXPANDEM LINGUAGEM EM PROJETOS ESPECIAIS E TAMBÉM COMO ARTE-EDUCADORAS: “PROCURAMOS RESGATAR RAÍZES ANCESTRAIS, BRASILEIRAS E SUL-AMERICANAS, VISANDO À UNIÃO E A AMIZADE DOS POVOS”

Para concluir: fazer arte é bom. O que poderia ser feito – em nível municipal, estadual ou federal – para melhor acolher os “fazedores” de cultura?

Em primeiro lugar, facilitar o acesso dos novos artistas às leis de incentivo e outros editais de mecenato, diversificando grupos e propostas. Mas acho que, antes disto, os representantes dos governos – municipal, estadual e federal – deveriam ter plena consciência da importância da cultura na formação do seu povo. E não estou falando de “artistas famosos” e “marketing”, e sim de uma verdadeira e efetiva ação de incentivo á cultura do país e aos seus representantes, os “fazedores de arte”, os artistas populares, músicos, atores, bailarinos, cineastas, escritores, fotógrafos, etc. que expressam sua arte com amor e verdade.

SERVIÇO

** Show “Essência Elis”, com AVEduo e convidados. Nesta sexta e sábado (dias 22 e 23 de maio), às 21 horas, no Teatro Paiol (Praça Guido Viaro, s/n, Prado Velho), em Curitiba. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Ingressos promocionais para doadores de uma lata de leite em pó: R$ 15 e R$ 7,50 (meia).

Mais informações no www.myspace.com/avemujeres

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