Nunca o tinha visto em cena até então. Nunca esquecerei o tamanho que ficou no palco quando verteu-se em voz e corpo e timbres e espessuras. Rubi atravessa figuras de linguagem com o espetáculo “Paisagem humana” apresentado no último final de semana no Teatro da Caixa, em Curitiba.
O canto de timbres vários apóia-se em performances que não excedem e nem ficam à rasura de movimentos; tudo é minuciosamente construído. Quem lá estava a revolver sensações alheias não era uma divindade ou qualquer outra forma de expressão mais carinhosa ou exagerada. Quem estava diante de uma platéia encantada era – é! – um artista de raiz profunda, sólida arquitetura mesmo que fincada na subjetividade – eis o grande mistério.
“Paisagem humana” é espetáculo conceitual. Através de melodias e letras, Rubi canta as fragilidades e cotidiano – interno e externo – de cada um que não se esquiva em atravessar a vida. Fluida narrativa composta por catorze canções e alguns breves textos. Contém pegada pop, de fato, mas elaborada sem cacoetes ou crivos radiofônicos.
Aliás, o estofo sustenta-se na inteligência musical de Estevan Sinkovitz (violão, bandolim e guitarra), Luciano Barros (violão sete cordas e baixo) e Luiz Gayotto (percussão). Incrível a interação de Rubi e o trio; audível e visível o prazer de todos.
Rubi vai mais aos registros delicados da voz, embora também percorra regiões agudas e/ou pungentes – até rasgos de rouquidão há – quando quer imprimir dramaticidade. A expressão da palavra cantada é desenhada em nuances confortáveis e reconfortantes. A incomum voz alterna-se tantas e muitas vezes – em todas há inclassificável beleza.
Performances cênicas – o teatro como matéria prima – feitas de pequenas, mas marcantes atitudes: o caminhar macio, a evocação aqui e ali de passos de dança clássica indiana, mãos, olhos, alma. Cenário austero (é bom frisar que o espetáculo em Curitiba teve cortes na estrutura) e iluminação eficiente – ou seria suficiente? – a serviço de paisagens humanas.
Rubi apropriou-se devidamente bem de canções de tamanha delicadeza como “Gira de meninos” (Ceumar – Sérgio Pererê) e “De onde vem a calma” (Marcelo Camelo), que abrem e fecham o espetáculo, respectivamente. Do disco homônimo, levou “A ilusão da casa” (Vitor Ramil), “Elevador” (André Abujamra), “Santana” (Junio Barreto), “Inverno” (José Miguel Wisnik), mas não “Infinito meu”, de onde foi extraído o nome do espetáculo.
“Mar interior” (Maria Tereza) acaba tomando um rumo mais reflexivo ao alinhar-se a “Barco Negro” (David Mourão – Ferreira), um dos fados eternizados por Amália Rodrigues e regravado na década de 70 por Ney Matogrosso. “Fica comigo essa noite” (Adelino Moreira – Nelson Gonçalves), com deliciosa roupagem, sucede “Iluminada” (Roberto Mendes- Jorge Portugal), extraída do repertório de Maria Bethânia e cantada a capella.E no masculino – bonito, viu?
Se há dramaticidade na leitura de “Mortal loucura” (melodia de Wisnik sobre versos de Gregório de Matos) há despojamento e alegria incontida em “Vai desabar”, de Gero Camilo. Do ator, compositor e dramaturgo – uma espécie de alter ego de Rubi – há um texto lido em cena – interação bacana com a platéia – sobre um comprador de versos de Shakespeare.
Intérprete e músicos cantam a levemente desconstruída “Cotidiano” (Chico Buarque): funcionou bem esse expediente, assim como Rubi percorrendo o espaço da platéia.
Tudo expande-se em “Paisagem humana”. O espetáculo encaminha-se aos campos sensoriais. Rubi provoca vertigens ao construir imagens.
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