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Desde um ano de idade Carmen é nossa e ninguém tasca. Nasceu em Marco de Canavezes, Portugal. Mas onde foi que aprendeu o gingado de quadris e olhos e o jogar das mãos para lá e para cá?

Não foi ao som de um fado. Tsc tsc tsc tsc tsc! Carmen se fez numa batucada brasileira, comeu camarão ensopadinho com chuchu (cá pra nós, melhores iguarias há) e colocou uma salada de frutas na cabeça.

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Nacionalidade: baiana. Estilizada. Universal. Exuberante. Hollywoodiana. Baiana que mercava muito bem seus borogodós, balangandãs e berenguendens. E vamos na velô da dicção tchu-tchu de Carmen Miranda, cujos olhos moviam-se, discos voadores fantásticos.09.02.09! Cem anos de nascimento!

Carmen Miranda seria uma centenária não fosse virar mito aos 46 anos de idade, fulminada pelo destino. Teria ela a força do século para segurar os monumentais turbantes? Gostaria dos tamborins sampleados, hein? As mãos desenhariam espirais? O batom teria grossas camadas? O mito estaria ereto, certamente. E o tico-tico continuaria comendo todo, todo o fubá.

Josué de Barros, o descobridor. Foi quem viu o inatingível: “Carmen, a princípio, não fala, ouvia-me apenas. Depois, como se estivesse fascinada pelo violão, ia ganhando ritmo e eu me lembro de seu gesto, de suas mãos, de seus dedos agitando-se no ar como que impelidos por uma corrente elétrica. Antes de ouvi-la cantar, tive nitidamente a impressão de estar diante de alguém que trazia uma mensagem nova, nos olhos, no sorriso, na voz”, depoimento dado por Barros em 1928.

Elétrica Carmen. Fez o Brasil cantar seus modos. O que é que a baiana tem? Tem Caymmi que, reza a lenda, para lembrar-lhe a letra, fazia gestos nos bastidores: torço de seda, brincos, bata, saia rodada, sandália, correntes. Graça como ninguém!

1938, nascia a “baiana” Carmen no filme “Banana da terra”. Como vaes você? Boneca de Piche, eu dei. Uva de caminhão!! Adeus, batucada porque o mundo não se acabou. Ary Barroso, Joubert de Carvalho, Assis Valente e Lamartine Babo os compositores mais recorrentes.

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Centenário de Carmen Miranda. E tem gente que insiste em escrever Carmem com M de Migué. É com N de Ney, o Matogrosso que captou os borogodós e levou aos palcos e discos.

Taí: Ney é a Carmen Miranda que todo o homem deveria ser – alguns põem pra fora, outros se satisfazem com bananas e não se notabilizam, outros então…

Ney reverberou em Eduardo Dusek – Do you like pipoca? “Pop, popular” – que está em Marília Pêra, que diz ter perdido as contas de quantas bananas e abacaxis de plásticos equilibrou na cabeça para encarnar a Brazilian Bomshell.

Lá nos estates fez fama mundial. O Brasil –ufanista com seus símbolos – torceu o nariz. Voltara americanizada. A Urca – em evento filantrópico – fez frios ventos com as palmas. O povo a amava. Os fãs nunca deixam seus ídolos na geladeira.

Voltou, tempinho depois, à Urca e foi ovacionada. Ufa, né? Nas telas brasileiras também se projetou. Nos Estados Unidos consagrou-se como cantora, atriz, bailarina.

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O sorriso enorme, os quadris, tudo soava made in export. Carmen pouco mudou. Talvez se enquadrou ao american way of life. Mas mantinha a pulsação do south american way. E vende vatapá, caruru, mungunzá, umbu. Baiana boa! Ganhava dinheiro em pencas e o imposto do Tio Sam descolava bufunfas mil de seus cachos.

E a Pequena Notável – apelido dado pelo radialista César Ladeira – crescia. Tinha 1,54 metros de altura – uns e outros a diminuíam em um centímetro. E ela aumentava-se em imensos sapatos de plataforma, sua tribuna.

Os trajes exuberantes, colados ao corpo. Não usava calcinha para não marcar suas, digamos, montagens vestuais. Apareceu seu segredo mais íntimo numa jogada de perna, coreografia. Não teve filhos.

Era jovial, queria ser jovial. Sempre jovial. Exalava alegria com largos sorrisos e danças. Todo mundo gosta de gente feliz. Não era bem assim. O mito sucumbiu ao peso do amor e valia-se de barbitúricos, antidepressivos e álcool para estar feliz aos olhos alheios.

O coração mastigado por um canalha bêbado. Carmen foi – é ! -o que se dispôs a ser: a alegria espalhafatosa, dona de um balacobaco que até hoje – não o dia, o tempo – ninguém reproduziu com fidelidade.

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Gestos intransferíveis. As músicas de Carmen – tamanha apropriação que a tornava co-autora, mais de 300 – eternizadas também nas regravações de todos os portes e provocações como Ney Matogrosso (o primeiro da lista), Caetano Veloso, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia, Gal “Balancê “ Costa, Dusek, Adriana Calcanhoto, e muitos e muitos e muitos.

A cores de Carmen! Absolutas. A rainha da quitanda, chattanooga choo choo. O espelho a exibir lantejoulas e irreverências. O carnaval, o glamour das travecas, os babados. Viva a banda da, da/ Carmen Miranda da, da, da, da. Tropical. Have you ever danced in the tropics?

I make my money with banana, cantou. “Banana is my business”, documentário de 1995, escrito e dirigido por Helena Solberg. Aurora Miranda, a irmã, é a chave dos mistérios que se podem revelar. Carmen é vivida pelo transformista Eric Barreto. Tá certo! Divas sempre serão espelhos.

Cem anos de Carmen lalalalalá Miranda. Carmen do Brasil, claro. Deixem os portugais a verem navios – já nos descobriram, está de bom tamanho, corte brava.

Carmen não é dos fados, dos ais. É dos uis! Da batucada da vida.

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Informações valiosíssimas (datas, músicas, fotos, filmes, frases, entre outros detalhes) sobre o mito podem ser lidas e relidas no Museu Virtual Carmen Miranda através do endereço www.carmen.miranda.nom.br

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Confira abaixo vídeos com releituras de sucessos de Carmen Miranda na interpretação de artistas de vários estilos. Entre eles, uma música de Rita Lee feita especialmente para “La Miranda” e Marília Pera