Teresa Cristina: disco novo e DVD “Ensaio” dão visibilidade maior e merecida à cantora e compositora; sambista por excelência
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Vamos falar de gente boa. Teresa Cristina!!! Está nas prateleiras com dois projetos bem bacanas: o CD “Delicada” (Emi) e o DVD “Ensaio” (Deckdisc),no qual gravou depoimento e cantou no programa da TV Cultura, em 2002. A cantora e compositora – sambista por excelência, pois – amplia a visibilidade.

Intimista, voz sem afetações(firme!) e a isenção de maiores preocupações cênicas poderão ser conferidos nos registros audiovisuais. Nota-se alguma evolução como intérprete? É…Teresa vai aos sambas com serenidade.

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Falta-lhe emoção? Não. É técnica por vezes, é fato, Mas na “calmaria” se faz valer sem precipitações ou maneirismos. Isso é bom!

Teresa canta do jeito que gosta. Há quem goste. Eu gosto. Há quem torça o nariz atribuindo-lhe possível falta de frescor nas interpretações. Bobagens.

Teresa conquista pela suavidade. E, principalmente,pela noção exata de que quanto mais “econômica” no canto mais a dizer. É a principal expoente feminina da nova geração de sambistas.

Compará-la às veteranas do gênero é tolice. Os novos ainda têm muito a dizer, inclusive ela. Roberta Sá, Juliana Diniz ou Fabiana Cozza, três exemplos, ainda buscam confirmações e/ou formatações, mas sabem o que querem. Tão boas quanto Teresa. Já Maria Rita não passa de uma sambista com hora marcada. Datada…


“Delicada” contém composições próprias e releituras exatas
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ORGÂNICA – Em “Delicada”, quarto álbum, Teresa Cristina mostra-se novamente como autora (a começar pela faixa-título, reverberações “bossanovistas”, feita em parceria com Zé Renato). Versos aparentemente simples, inflexivos como em “Cantar” (“cantar é vestir-se com a voz que se tem”).

Elegantemente responde aos críticos que encafifam com o jeito dela interpretar com os olhos fechados. “Me aconselharam a abrir os olhos, do contrário eu fechava uma janela com o público (…) Diziam que eu não tinha emoção, que cantava parada, não trocava com o público. Resolvi responder a essas pessoas sem agressividade. Cantando, como gosto”, diz a intérprete no material de divulgação assinado por Tárik de Souza, o mais respeitado crítico musical brasileiro.

“Delicada” contém religiosidade. Umbandista, a cantora detém-se em saudações na autoral “Senhora das Águas” e no resgate de “Nem Ouro, nem Prata” (Ruy Maurity- Julio J. do Nascimento- Olívia S. de Carvalho).

No entanto, Teresa Cristina faz-se (por enquanto)compreender melhor através de autores de vertentes distintas do samba. Paulinho da Viola está na – agora – orgânica “A Gente Esquece” (de 1968; compositor teria “renegado” a canção pelo excessivo acento orquestral originalmente imposto).

Candeia. Foi ele o responsável por Teresa tornar-se sambista.Ela o ouvia através dos discos do pai. A voz tributa gratidão em “A Paz do Coração”, uma das melhores do disco.

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As releituras fixam-se também em três bons momentos: “Gema” (Caetano Veloso, com interpretação mais cadenciada que a gravação do próprio autor e, principalmente, a de Maria Bethânia); “Carrinho de Linha” (Walter Queiroz, que Fafá de Belém conseguiu emplacar no início dos anos 80, tempo em que ainda tinha noção de boa música) e “Pé do Lajeiro” (João do Vale-José Cândido- Paulo Bangu), fantástica!

Saibam: “Delicada” não é apenas Teresa Cristina. O grupo Semente, que a acompanha há dez anos, tem relevância na feitura do disco (podem conferir, na capa está escrito “Teresa Cristina e Grupo Semente”).

Músicos: Pedro Miranda (pandeiro e voz), Bernardo Dantas (violão), João Callado (cavaquinho) e Mestre Trambique (percussão).Esse último é quem canta sozinho “Quebranto” (Alfredo del Penho -Zé Luiz).

O Semente ainda mostra virtuosismo na instrumental “João Teimoso” (João Callado). No total,14 faixas. Termina com um pot-pourri. Três canções, entre elas “Rosa Maria” (Aníbal da Silva -Éden Silva).

Curiosidade: o disco poderia ter outros nomes como “Sete Cantigas” ou mesmo “Cantar” (faria associação instantânea a um título de Gal Costa, pós-Tropicalismo). Foi batizado “Delicada”. Que explica o projeto em exato adjetivo.

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Delicadezas se expandem sutil e marcadamente! Ah, Teresa…

CONFESSIONAL – Lá vem Teresa acompanhada pelo Grupo Semente, respondendo às perguntas em off ao utilíssimo Fernando Faro. Conta um pouco da sua trajetória. Era ela, até então,uma promessa que provinha da Lapa, bairro carioca.

Ano, 2002. Havia acabado de lançar seu primeiro disco dedicado às obras de Paulinho da Viola. Confessional, câmeras buscando detalhes, gestos, olhos muitas vezes fechados… Enxerga “por dentro” cada música.

Teresa e algumas composições próprias (“A Vida me Fez Assim”), porém rende-se prazerosamente aos mestres do samba. Muitos: Candeia e Casquinha (“Falsas Juras”), Manacéia (“Quantas Lágrimas”), Nelson Cavaquinho (“Juízo Final”), Zé da Zilda (“Um Calo de Estimação), e por aí vão surgindo outros… De Paulinho da Viola, entre tantas, “Tudo se Transformou”. Imenso. Imensa!

Tudo começa com “Samba do Pescador”, de Hilda Macedo, mãe da artista, que criava canções enquanto lavava roupas. “Minha mãe faz música como eu, pega o gravador e sai cantando”, revela.

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Fala do pai, Lula, ex-feirante. “Meu pai me mostrava sambas de Candeia, minha mãe escutava Roberto Carlos”, confessa.

Para quem quiser saber os porquês de Teresa Cristina, o DVD “Ensaio” é um bom começo.Teresa faz jus à fama de ser quem melhor recicla a história do samba. Feminina voz!

O samba está completando 90 anos de existência. Ciata, Donga, primordiais. Teresa, essencial!