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DEU NO QUE DEU!

LUIZ GIOPE/DIVULGAÇÃO
O GRUPO AQUILO DEL NISSO COMEMORA 20 ANOS DE FORMAÇÃO COM “PIRATININGA”, TRIBUTO INSTRUMENTAL A SÃO PAULO: HARMONIAS ELABORADAS, MOSAICOS BEM CONFECCIONADOS E INTELIGÊNCIA MUSICAL

Vinicius cunhou: “São Paulo é o túmulo do samba”. Tem razão. Ora, Sampa tem sambódromo – flor do lácio plantada em concreto -, mas não possui índole sonora afirmada. São Paulo agrega diversos gêneros, sotaques, é fato. Samba sampa não tem. A capital paulista propicia jazz.

Nesse ponto o Aquilo Del Nisso uma de suas melhores traduções. O grupo paulistano está comemorando 20 anos de formação com Piratininga,instrumental e jazzístico. Projeto de altíssimo teor. Para quem gosta de harmonias elaboradas, intrincado fraseados. Distinções!

Pois bem, “Piratininga” (Tratore)é o sexto disco do grupo, que homenageia São Paulo através de 10 faixas, apenas uma com letra. Chama-se “Praça da Sé”. Aliás, cada faixa de do disco – o nome é uma referência à aldeia que deu origem à cidade – é uma homenagem a um ponto turístico.

O Aquilo Del Nisso é formado atualmente por Ale Damasceno (bateria), Celso Marques (Flautas, pífano, saxofones tenor e soprano), Beba Zanettini (piano, aliás ele lançou recentemente o ótimo “Beba música”.) e Robertinho Carvalho (baixo).

Virtuosos! Construtores de módulos sonoros bem arquitetados, comentários instrumentais coniventes – jazz por essência, improvisações por extensão. Ou melhor, solavanco jazzístico com elementos do baião, bossa, samba, funk, ritmos latinos, gêneros que revestem a grandiosidade da capital paulistana. Textura sonora que abrange também etnias. A maioria das faixas foi elaborada por Beba Zanettini e Celso Marques, com exceção de “Súbita canção” (Robertinho Carvalho).

Reprodução
DISCO CONTÉM 9 FAIXAS INSTRUMENTAIS E “PRAÇA DA SÉ”, A ÚNICA COM LETRA: FUSÃO DE JAZZ COM ELEMENTOS QUE VÃO DO BAIÃO AO FUNK

De cara, “Forrobodó”, um baião com pífano a denotar nordestinidade, mas com referência metafórica musical à agitada 25 de março, rua “polifônica”. Há alusão ao pobre Tietê, em “O Rio”. Modulação sensacional do piano, o acento pungente do baixo, a costura do sax e a bateria a marcar contratempo instigante chegam a “projetar” imagens. Ao lado de “A lagarta”, é a faixa mais bem elaborada.

Em “Piratininga”, diga-se, nada é gratuito ou resvala em clichês ou cacoetes sonoros. É denso e distintamente agradável. Há breves “respiradouros”, mas não esperem facilidades em temas instrumentais como a bossa (meio pop) “Mar à vista” ou 171 (ambas de Beba Zanettini,a última registrada no disco solo com letra por Paulo Padilha). Aparentemente, “Súbita canção” é a mais acessível aos ouvidos comuns. Aparentemente, porque a construção melódica vai se avantajando aos poucos.

“Praça da Sé” (Celso Marques – Beba Zanettini), a única com letra, sintetiza o tributo do Aquilo Del Nisso a São Paulo. Mosaico melódico e literário a um dos mais conhecidos cartões postais de capital paulistana. “Tem água de cheiro/Erva do Pará/ Ponto de bicheiro/ Tem boné maneiro/Santo milagreiro/Pó de guaraná/ Pastel, tapioca/ Tem acarajé/ Rolex de ouro/Tem show de calouro/ tem mesmo de tudo/ Na Praça da Sé/ Tem home, tem muié/ Tem home, tem muié”.

Sabe o tem de bom mesmo em “Piratininga”? Inteligência musical. Precisa dizer mais alguma coisa?

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