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Ela é família demais. E cheia de bossa!

MARCO MÁXIMO/DIVULGAÇÃO
SAMBAS, BOLERO, CANÇÕES PRÉ E PÓS BOSSA NOVA ESTÃO NO NOVO DISCO DE CLAUDIA TELLES: INTÉRPRETE RELÊ COMPOSIÇÕES DA MÃE, SYLVIA TELLES, DO PAI, O VIOLONISTA CANDINHO, E DO TIO MÁRIO TELLES: FAMILIARIDADE E DELICADEZA

A princípio seria um projeto com canções pouco incensadas, o tal lado B de Bossa Nova. Os rumos se alteraram durante a escolha do repertório, mas as insinuações sonoras do maior movimento musical brasileiro instaura-se em “Quem sabe você”.

O 11º disco de Claudia Telles contempla peças pré e pós Bossa Nova, de fato, mas abre-se a sambas, bolero e até mesmo um tema da Jovem Guarda: “Não quero ver você triste”.

Não está lá à toa. Foi a última canção registrada por Sylvia Telles (1935-1966), feita por Roberto e Erasmo Carlos com letra de Mário Telles (1926 -2001), tio de Claudinha, como é carinhosamente chamada. “Quem sabe você” (Lua Music) tem mais envolvimento familiar através da bela e pouco conhecida “Sem você pra quê” (1957), de Sylvia (precursora e diva da Bossa Nova) com o bissexto compositor Chico Anysio. Maravilha de se ouvir!

Para completar o núcleo, Candinho – pai e violonista – comparece com a inédita “Biquinho azul” em coautoria com Ronaldo Bôscoli. Emílio Santiago solta o vozeirão viril na faixa.

Sim, Claudia Telles, intérprete de timbre harmonioso, acionou a memória afetiva. E aproveitou a ocasião para abrir em público a faixa-título, presente dado há um tempinho por Roberto Menescal. Que não se furtou em descrever no encarte a emoção de ver a menina que conheceu aos três meses de idade se transformar em cantora de grande estatura. Da turma da Bossa, há ainda Carlos Lyra e Vinicius reverberando ao lado de Johnny Alf (imenso!!) em elegante samba registrado apenas no mercado japonês.

Porém, Claudia Telles e o produtor Thiago Marques Luiz não ficaram apenas nas reminiscências de um cantinho e um violão. Foram buscar “Felicidade vem depois” (1962), uma das primeiras canções de Gilberto Gil. Que encontra ressonância em “Tamanco do samba” e no tributo a Miltinho (maravilhoso!) em pot-pourri. Na levada coube também preciosas releituras de “Reza” e da aboleirada “Juras”.

“Quem sabe você” reafirma o compromisso de Claudia Telles, assumido na década de 90, com discos embelezados por canto e som maiores e melhores. Tributos a Nelson Cavaquinho, Cartola, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Sylvia Telles. Universos bem distantes de quando ela na década de 70 com baladas românticas apegadas aos dials das rádios como “Fim de tarde” e “Eu preciso te esquecer”.

Claudia Telles cresceu. A inteligência musical não se fixou apenas na afinação: ela sabe redescobrir nuances sonoras,dividir frases musicais de forma natural e, principalmente, emocionar.

Claudia tem bossa própria. Precisa ser mais notada. Ou melhor, apreendida! “Quem sabe você” é um bom caminho para quem assim deseja.

A seguir trechos da entrevista que Claudia Telles concedeu ao blog Sintonia Musical.

Claudia, você estourou na década de 70 com canções românticas, radiofônicas. Até que ponto você realmente queria ser uma cantora popular? Houve imposições de gravadoras?

Eu me vejo como uma cantora, uma intérprete e sempre gostei de pop romântico, mas em quase todos os meus discos regravei Bossa Nova. No primeiro, havia “Dindi” e “And I love her” dos Beatles, mas as pessoas não tomaram conhecimento e acham que eu simplesmente mudei de estilo. Nunca me preocupei em ser popular ou não, gravei o que gostei e o que era verdade para mim.

Você fez backing em discos para vários artistas. Algum em especial lhe deu prazer imenso em trabalhar? Algum fato bacana que você guarda?

Fiz vocal em vários discos de artistas queridos. Nunca fiz shows só gravava em estúdio com arranjos vocais belíssimos. Tenho um carinho especial pelo disco “Soy latino americano” (1976) do nosso Zé Rodrix . Vocal em disco de amigos é uma coisa que gosto e faço até hoje, embora as pessoas não entendam muito essa minha postura. Há pouco tempo fiz vocal num CD do Ivan Lins, que ele me deu autografado. Ivan fez vocal junto com a gente e também no novo CD do Diogo Nogueira onde tive a oportunidade de estar com o Chico Buarque e lhe mostrar o violão de minha mãe que ele assinou em 1966. Comecei fazendo vocal em discos. Tenho amigos queridos como Márcio Lott, Zé Luiz Mazziotti, Viviane Godoy, Zélia Duncan (que também fazia vocais com a gente), Jane Duboc. É sempre um prazer estar reunida com eles para matar a saudade e embelezar as canções com nosso trabalho.

Houve um hiato – ao menos discográfico – entre os anos 80 e 90 quando você passou a ser uma cantora com, digamos, zelo maior na feitura de álbuns. Podemos chamar de maturidade artística?

Esse hiato aconteceu porque nunca gostei de gravar por gravar, para ter mais um disco ou registrar músicas impostas por conta de um momento musical. Sempre gravei músicas que me diziam alguma coisa ou se encaixavam em meus momentos.

O fato de ser filha de Sylvia Telles “pesou” em algum momento? As portas se abriram facilmente ou você precisou batalhar ainda mais para superar esse rótulo?

Ser filha de Sylvinha nunca me pesou. Houve cobrança por eu não fazer o que ela fazia, mas com o tempo as pessoas foram vendo que eu tinha meu valor e as portas foram se abrindo.

Aliás, quais recordações mais fortes você tem de sua mãe? Fale um pouco sobre seu pai.

Convivi pouco com minha mãe, mas intensamente. Via seu amor pela música, seu respeito e carinho com os colegas, seu profissionalismo. Ela me levava a programas de TV, a shows, ensaios. Ela me ensinou violão, me colocou para estudar piano, balé. Ela respirava música. Uma das lembranças mais fortes que tenho foi quando ela voltou de uma excursão longa pela Europa e fui recebê-la no aeroporto e passei por de baixo das pernas do guarda para ir abraçá-la. Meu pai é uma figura! Excelente compositor. Era um exímio violonista e hoje está aposentado tanto da música quanto da advocacia.

Já dá para olhar para trás e fazer um balanço de sua trajetória? O que você gostaria de fazer em disco e que ainda não foi possível?

Eu sempre fui honesta em meus trabalhos e quando gravo um disco coloco ali todo o meu sentimento, respeito e admiração pelas canções que interpreto. Uma música é um pedacinho da alma do compositor e alma a gente trata com muito carinho e respeito. O que quero fazer em disco é regravar músicas da década de 70 que me marcaram e também composições inéditas de compositores como Hyldon, Carlos Daffé, Gilson, Eduardo Souto Neto e tantos outros.

MARCO MÁXIMO/DIVULGAÇÃO
“UMA MÚSICA É UM PEDACINHO DA ALMA DO COMPOSITOR E ALMA A GENTE TRATA COM MUITO CARINHO E RESPEITO”, DIZ CLAUDIA TELLES SOBRE O ZELO QUE RONDA O REPERTÓRIO DE SEUS DISCOS

REPERTÓRIO

Reprodução
“QUEM SABE VOCÊ” CONTEMPLA MÚSICAS INÉDITAS,RELEITURAS, RARIDADE DE GILBERTO GIL, TRIBUTO A MILTINHO E ATÉ TEMA DA JOVEM GUARDA

* Reza (Edu Lobo e Ruy Guerra)

* Quem sabe você (Roberto Menescal – Abel Silva)

* Tema de Não quero ver você triste (Roberto Carlos- Erasmo Carlos- Mário Telles)

* Sem você pra quê (Sylvia Telles – Chico Anysio)

*Tamanco no samba (Orlandivo – Helton Menezes)

*Carta ao Tom 74 (Toquinho e Vinicius de Moraes)

* Felicidade vem depois (Gilberto Gil)

* Só mesmo por amor (Carlos Lyra)

* Juras (Rosa Passos- Fernando Oliveira)

* Minha namorada (Carlos Lyra – Vinicius de Moraes)

* Ai saudade (Johnny Alf – Rômulo Gomes)

* Biquininho azul (Candinho- Ronaldo Bôscoli)

* Pot-pourri: Solução (Raul Sampaio – Ivo Santos)/Mulher de trinta(Luis Antonio)/ Palhaçada (Haroldo Barbosa – Luiz Reis)
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Mais informações sobre a artista no site www.claudiatelles.com.br
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