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Espetáculo da imaginação. O que pedem em silêncio? O que se passa na cabeça das duas mulheres segundos antes do roçar de vozes e público? Percussão!

Omara agita os braços e murmura algo: pode ser uma oração, um cântico, um ponto ou apenas o repassar rápido da primeira música. Bethânia faz o sinal da cruz e verifica o plug do microfone com fio. Sempre com fio.

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O tom do maestro. Prontas para cantar. Abrem-se as cortinas. Lado a lado, a cubana Omara Portuondo e a brasileira Maria Bethânia são acolhidas por uma platéia calorosa e cantam em português e em espanhol de “O cio da terra”.

A primeira das 32 canções – duas instrumentais – do espetáculo que os dois mitos da música latina apresentaram em diversas capitais brasileiras e também Argentina e Chile, de março a junho deste ano.

Belíssimo, colorido: araras, flores, chitas e muito brilho no cenário interessantemente kitsch concebido por Gringo Cardia. Show de teatro com momentos intimistas e solares. Para quem não Omara e Bethânia, um DVD gravado nos dias 4 e 5 de abril, Palácio das Artes, Belo Horizonte, Minas.

Sai pela Biscoito Fino. Sem extras, making of ou curiosidades dos bastidores . A não ser uma firulinha no correr dos créditos com diálogo espontâneo e fragmentado e até engraçado. A palavra-chave: Marambaia.

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Trechinho de “Só vendo que beleza (Marambaia)”. No correr do espetáculo, inteira a canção está sem a levadinha rap de Omara. As duas: “Gente humilde”… Omara oscila no tom. Passa batido como se modulação fosse. Deve ser, ela é grande.

As vozes. Os metais e graves de Bethânia. A extensão, segundas e terças de Omara, que habilmente perpassa divisões e compassos. Os vibratos, um show a parte.

O suor dos músicos: João Carlos Coutinho (piano) e Jorge Helder (baixo) mais os percursionistas Cláudio Brito (Brasil) e Andréas Coayo (Cuba). À frente de todos, os maestros Jaime Alem e Swami Jr., aos violões. Precisou de mais ninguém não, viu?

Bethânia contida. O magnetismo e elegância cênica e memória tantas são os grandes trunfos. Mãos e pés e leve gingar enfaticamente registrados. Como tirar os olhos dessa mulher?

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Omara Portuondo, 78 anos, quase não arreda os pés de perto do pedestal a fazer-lhe vistas às músicas. Performática em “Lacho/ Drume negrita”. Toda prosa fica quando vê alguém na platéia segurando a bandeira de Cuba.

Solo, Maria Bethânia hasteia suas bandeiras musicais com releituras de sucessos próprios (“Negue”, em versão mais contida) ou de compositores gratos a ela: Chico Buarque (“Partido alto” ficou bem bacana), Dolores Duran (na quase desconhecida “Arrependimento), Caetano Veloso (“ O ciúme) ou na rasgada “Escandalosa”.

A inédita “Doce” (Roque Ferreira), louvação a Caymmi, agora um orixá (“Quem cantou a Bahia foi Oxum/ foi Oxum quem encantou/ mas quem embalou a Bahia e adoçou/ foi Caymmi, ioiô”) vem junto com “A Bahia te espera” registrada por ela em 1976 e extraída do repertório de Dalva de Oliveira.

Só em cena, Omara Portuondo é direta: “Recordemos ahora Buena Vista Social Club”: “Viente años”, “Mil Congojas”, “Dos Gardenias” e… Jesus amado, que linda “Nana para um suspiro (semillita)”. Chorei no Teatro Guaíra – quando a turnê passou por Curitiba-, comovo-me em casa.

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Omara Portuondo e Maria Bethânia, uma áfrica vibrando na carne e nos primórdios de Cuba e Brasil. A sublimidade, o entre. O DVD explica o porquê.

O repertório do DVD e os respectivos autores podem ser conhecidos no seguinte endereço: http://www.biscoitofino.com.br/bf/cat_produto_cada.php?id=405

MARIA DOS ATOS – Desde que foi para a gravadora Biscoito Fino, em 2002, Maria Bethânia já lançou sete discos, quatro DVDs (alguns produtos em parceria com o próprio selo, Quitanda), além de colocar em catálogo projetos audiovisuais que lhe dizem respeito.

Produtora, pôs no mercado um disco de Mart´nalia e está às voltas com o CD do cantor e compositor baiano Jota Velloso, seu sobrinho. Para 2009.

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Em novembro, a intérprete baiana deve entrar em estúdio para novo trabalho com canções inéditas para, provavelmente, celebrar 45 anos de carreira, o mesmo número que assinala sua discografia. Trajetória longeva e bem-sucedida porque contém verdade essa Maria.

Em setembro, Bethânia foi homenageada no 28º Prêmio Shell de Música, na condição de primeira intérprete a ser agraciada com a honraria. Na quarta-feira (dia 22 de outubro), outra reverência: cedeu o nome para o palco da tradicional gafieira Estudantina, no Rio de Janeiro.

A senhora de 62 anos, cujo canto atravessa gerações, vai longe. As comunidades do Orkut (“Seita da Iluminada”, “Maria Bethania Reverso, dois exemplos), sinais de templos. A rosa, Lufã, desabroche a rosa!

Bethânia há de fazer muitos ventos nos palcos, sob domínio de Iansã e doces olhos de Oxum, a qualidade das ayabás quando absolutas. A soberania além dos mistérios originais. Entende?

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Sugestões de comentários:

– Você gosta de Maria Bethânia? Por quê?
– Quais músicas ou discos de Bethânia marcaram sua vida?

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Mais informações sobre Maria Bethânia no site www.mariabethania.com.br

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