Ansiedade e expectativa faziam sombras. Técnicos, músicos, garçons e fãs quase se esbarravam. Espera, espera, espera. Tarde calorenta e muitos aguardavam Rita Lee para a passagem de som.
De repente, ao lado de um reforçado segurança, Rita caminha para o palco. O silêncio não se instaura porque os músicos já estavam há quase uma hora disparando sons. “Tá altíssimo”, reclama ela. Tudo se resolve. E Rita passa uma, duas, várias músicas.
Satisfeita, volta ao camarim ao lado do guarda-roupa, ops, segurança. Suada e ofegante, Rita concorda em conversar. Um pouco. O assessor pede
para esperar. Um pouco.
De repente a porta se abre e lá está ela sentadinha, abanando-se com um imenso leque vermelho. Bonita imagem. Ela é gentil. Mas objetiva nas respostas. Diz, por exemplo, que não tem mais saco para turnês. Nem saco e nem idade.
Ah…Fôlego não falta para essa tal de Rita Lee que comemora 40 anos de carreira e está prestes a completar 60 anos de idade.
Enquanto o novo disco não sai – e ela parece não ter muita pressa – vai fazendo breves apresentações aqui,ali, acolá. No repertório, sucessos e mais sucessos. Para a platéia fazer corinho mesmo. Com mãozinhas para cima e tudo o mais.
Foi o que aconteceu no último sábado, em Londrina, no Centro de Eventos. Um tantão assim de gente!
A seguir os principais trechos da entrevista que Rita Lee concedeu com exclusividade.
Esse show é uma espécie de Rita Hits, intermediário entre um novo espetáculo e um novo disco?
Estamos com várias músicas inéditas. Estamos querendo entrar em estúdio “ontem” porque está dando aquela coceirinha de fazer coisas novas. Mas ao mesmo tempo sabemos que as pessoas quando vão a um show gostam de ouvir músicas conhecidas. Então, na medida do possível, estamos infiltrando coisas novas. Nos shows estamos tocando “Tão”, que é em homenagem às pessoas chatas; e “Dinheiro”. A primeira é parceria com Roberto (de Carvalho) e a segunda é só minha.
Vocês estão gravando o novo disco aos poucos? Como está a produção?
É…Você sabe que agora tudo é feito em casa. Posteriormente negociaremos com uma gravadora ou lançaremos pela internet e a criançada baixa.
Você disse estar com aquela coceirinha de entrar em estúdio. Mas e as turnês, ainda há tesão?
Turnê eu não tenho mais saco, não. Nem saco, nem idade, nem saúde… É que a gente está morando numa casa no meio do mato, na Granja Viana, perto de São Paulo. É muito bom…Cheio de bichos, de plantas, minha neta… Então, para sair de lá só se me pagarem muito bem. Não tenho vontade de fazer mais turnês não… Um ou outro show sim, porque eu adoro palco… Mas aquela coisa cigana fiz muito e não quero mais.
Você está mais caseira, é isso?
Ó, quando estou no palco também estou em casa. É muito familiar, me sinto bem, é prazeroso. Mas em casa é diferente. Mas dizer que estou caseira…Nunca fui muito caseira não.
Mas tem a neta agora, um bom motivo para ficar mais em casa, né?
Tem a neta, tem uma coisa do lugar ser muito gostoso… Eu saí daquela loucura que é São Paulo, daquela doideira de parabólicas… Estou no meio do mato escutando grilinhos, sapos e isso me inspira a fazer música.
Já dá para olhar para trás e fazer um balanção da vida artística, inclusive?
(pensativa) Muito boa, minha vida foi excelentemente boa, maravilhosa. Só tenho a agradecer. Mas I can´t get no satisfaction…
Roqueiro brasileiro ainda tem cara de bandido?
Não, esse papel agora cabe aos políticos…
Você elogiou a Pitty da nova geração de roqueiros. No entanto, você continua sendo a tia, a rainha do rock…
(interrompendo) A avó do rock. Ser avó é muito bom. Se eu soubesse eu nem teria sido mãe, pularia essa etapa (risos)
O que você ouve? Ou que tipo de som não bate bem em você?
Em casa, fora as músicas que estamos compondo e ensaiando, na hora em que estou sozinha lendo um livro, por exemplo, só música instrumental. Música que não tenha a palavra, o discurso. Estou cansada da palavra, do discurso…
Você não pensa em escrever uma autobiografia?
(risos) Autobiografia não…Olha, tem um um rapaz que escreveu uma biografia (“Rita Lee Mora ao lado”, de Henrique Bartsch, que mescla realidade e ficção)… Mas eu acho que biografia só é completa quando a pessoa morre.
Portanto, enquanto você está viva, cheia de graça…
Talvez ainda faça um monte de gente feliz!