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O que foi aquilo?! Guardo até hoje na memória. Salvador, 2000, PercPan, Panorama Percussivo Mundial, Teatro Castro Alves. Público e jornalistas de várias partes do Brasil e do exterior aplaudiram de pé aquela mulher que adensou o palco.

“Faraó – divindade do Egito (Luciano Ribeiro) veio de uma voz potente e performance cênica arrebatadora; o microfone a chicotear espaços. Longas palmas, assovios. Gilberto Gil, diretor artístico do festival, disse emocionado: “Margô…”

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Margô, Marga, Margareth Menezes é avassaladora em cena. Está com disco novo, o décimo em 20 anos de carreira. Chama-se “Naturalmente” (MZA Music), pegada pop a buscar ouvidos mesmo com alguns arranjos entremeados de clichês sonoros. A produção e direção artística são de Marco Mazzola, que explorou bem a versatilidade da intérprete baiana.

Inflexão controlada, voz tônica, Margareth realça letras e músicas em voltagem bem mais resolvida que “Pra Você” (2005), onde o flerte com o pop deu quase em nada. “Naturalmente” é outra conversa.

Onze Faixas, três inéditas: “Gente” (Arnaldo Atunes-Marisa Monte – Pepeu Gomes, esse último toca guitarra), a radiofônica “Febre” (Zeca Baleiro) e “Lua no mar” (dela e Robson Costa), sambinha cheinho de bossa, assim, assim, sabe?

Regravações pertinentes: “Os cegos do castelo” (Nando Reis), a “Por que você não vem morar comigo?” (Chico César) e “Matança” (Jatobá), resgate precioso do antológico disco de Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai. Arrojo vocal, de 1984. A força da natureza aí se encontra.

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Gil e “Margô” abrem o disco com “Mulher de coronel” (dele, também participante da faixa) numa levada deliciosa. Desalinhos: “Abuso de poder” (Marquinho PQD- Carlito Cavalcante) e bocejante “Um caso a mais” (do português Luis Represas, em dueto). “Foi Deus quem fez você” (Luiz Ramalho) também está: sem maiores comprometimentos.

No todo, “Naturalmente” é um grande acerto de Margareth Menezes. Que precisa ser diferenciada das rainhas e musas da axé-music pela nobreza do canto e verdades nas incursões quando se distancia do afro pop brasileiro, onde finca sua história. Uma intérprete arrojada caminha sobre tetos sem quebrar telhas. Ela!

Confira alguns trechos da entrevista que Margareth Menezes concedeu ao blog Sintonia Musical

O disco está bem pop, né?

É… Ficou meio MPB pop. É um projeto especial, uma das propostas da minha performance artística. Comecei minha trajetória fazendo teatro onde eu cantava. Cantei na noite durante muito tempo também. Depois disso, comecei a trabalhar nos trios elétricos de Salvador. Em 20 anos de carreira já fiz muita coisa. Eu tenho esse sincretismo no exercício da minha profissão.

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Gostei do termo “sincretismo”

Não é? Esse disco resgatou um pouco o meu lado “cantriz”

Sua voz é bonita e forte, mas no disco não está tão “pra fora”. É impressão minha?

Como intérprete que sou, busquei um outro tipo de inflexão para cantar esse repertório, é isso.

“Naturalmente” não é para se levar para cima de um trio elétrico, certo?

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Sei disso, mas a proposta não é essa não. É um projeto especial como disse. É comum no Brasil, por exemplo, um cantor de samba faz um tipo romântico, cantor de rock fazer um disco de Bossa Nova, como a Fernanda Takai cantando Nara Leão. Ora, cantores internacionais fazem muito isso… No meu caso é uma questão de ampliação de repertório e discografia.

Não leve como crítica é apenas um apontamento!

Imagina! Eu até entendo esse questionamento, mas não estou me desligando da base do meu trabalho que é o afro pop brasileiro. Tenho esse ecletismo, como por exemplo, um de voz e violão, que as pessoas não conhecem e que já levei para os Estados Unidos e Europa. Tenho essa mobilidade dentro da minha performance artística. Como agente atuante da música tenho várias facetas que muitas pessoas não tiveram oportunidade de conhecer.

Como vai a carreira no exterior?

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Para mim o exterior é muito legal porque foi onde eu tive uma abertura boa. Quando sai do Brasil eu abri mais de 70 shows para o David Byrne (ex-líder do Talking Heads), isso em 1991…Nos últimos quatro anos decidi investir mais no Brasil e, por isso, venho trabalhando mais aqui do que lá fora.

Qual sua religiosidade? Alguma relação com o candomblé?

Sou espírita, acredito na reencarnação. Acredito em Jesus que é uma luz divina que veio à terra para nos mostrar uma oportunidade melhor de viver. Quanto ao candomblé tenho um grande respeito porque é uma religião milenar e que se identifica com a natureza. Aqui na Bahia é muito importante o trabalho que os grandes terreiros fazem na socialização do povo afro-descendente. É maravilhoso.

Estive algumas vezes em Salvador e constatei algo interessante: Ivete e Daniela são muito populares, você além de popular recebe uma reverência muito distinta por parte das pessoas. Prestígio, quero dizer.

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Eu fico muito feliz com esse carinho do povo de Salvador. Quando saio na rua, as pessoas chegam de forma carinhosa mesmo. Na minha música eu procuro preservar, enfatizar o que temos na Bahia. Eu gosto muito daqui, somos um povo amável.

O que é que a baiana Margareth tem de especial?
(risos) Rapaz… Acho que a baianidade nagô. Sempre digo que minha casa é a Bahia, mas o mundo é meu lugar. E por onde vou deixo bem claro que sou baiana.

Mais informações sobre a artista podem ser obtidas no site www.margarethmenezes.com.br