Sabe os bolachões? É, aqueles de 78 rotações feitos de goma-laca? A sensação de estar ouvindo um desses antigos e pesados discos percorre “Pixinguinha e seu tempo”, CD lançado pela Biscoito Fino com 14 faixas registradas entre 1919 e 1941. Compilação do projeto “Princípios do choro”, lançado em 2002.
O acervo completo – o livro “A Casa Edison e seu tempo” e cinco CDs digitalizados e remasterizados com aval da Petrobras, pertence ao Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro.
Tá, a tecnologia foi até o possível, mas o som “abafado” ainda é o grande atributo de “Pixinguinha e seu tempo”. A genialidade de Alfredo da Rocha Vianna (1897 – 1973) vai desde o intérprete até o arranjador dos “choros orquestrais” como gostava de ser designado.
Pixinguinha sobrepõe-se a todos os rótulos. Foi ele, sobretudo, um experimentador ao mesclar elementos da cultura européia e africana à música brasileira.Um criador, um estilista, isso sim!
É só deixar os ouvidos – sensibilidade também conta, viu? -passearem pela inventividade melódica, encadeamento harmônico, contrastes, modulações e improvisações. Ah, os improvisos! O Brasil precisa se atentar mais à música instrumental!
“Pixinguinha e seu tempo” mostra também o flautista – foi aclamado como o maior da MPB – atuando para a “sofreguidão” dos acompanhantes, no caso músicos da Orquestra Pixinguinha e o do mítico conjunto “Os Oito Batutas”.
Interessante ouvir o violonista – com marcação perseverante – dando o que tinha para acompanhar as sinuosidades e improvisos de Pixinguiinha nos choros “A vida é um buraco” e “O urubu e o gavião”, por exemplo. No encarte não há menção dos instrumentistas, uma pena.
Um dos destaques, aliás, fica por conta de “Mi dêxa serpetina”, de 1923, com os Oito Batutas, com o qual Pixinguinha viajou por todo o Brasil e França. Há também os clássicos: a polca “Lamentos” (1941) que receberia letra de Vinicius de Moraes em 1962; o choro “Carinhoso” (a gravação é de 1941, mas a melodia teria sido composta entre 1916 e 1917, gravada instrumentalmente pelo Pixinguinha e seu conjunto e eternizada,em 1937, por Orlando Silva, com letra de Braguinha).
Há a valsa “Rosa” (1919) num arranjo envolvente. Anos depois, a canção ganharia letra de Otávio de Souza – mecânico e um dos mistérios da música brasileira por não se ter referências de outras letras por ele composta – e gravada em 1937 por Orlando Silva e, em 1991, relida por Marisa Monte quando ainda se preocupava com resgate e não só pops radiofônicos. Pois é…
As três últimas faixas do álbum – “Mexe com tudo” (1940, Levino Ferreira), “Urubatan” (1919, co-parceria com Benedito Lacerda) e “Sururu na cidade” (1934, Zequinha de Abreu) apresentam o mestre à frente da Orquestra Victor Brasileira e Típica Victor. Naipes de metal acentuados e percussão bem explorada, dinâmica evolutiva, tudo ao mesmo tempo. Genial!
“Pixinguinha e seu tempo” é tão histórico quanto agradável de se ouvir. Vem de Pizindin, mas podem chamá-lo de mestre, gênio ou São Pixinguinha, como tão bem “canonizaram” os Hime em “Cada canção”.
Ah, sim, Pizindin era o apelido de Pixinguinha.
Mais informações sobre Pixinguinha podem ser obtidas no site www.pixinguinha.com.br
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