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Assim, de supetão, se alguém perguntasse qual música de Geraldo Azevedo você mais gosta o que responderia? “Dia branco”, “Bicho de sete cabeças”, “Caravana”, “Táxi lunar”?

Pois bem, essas e outras tantas – inclusive inéditas e outras não tão assentadas na memória coletiva – estarão no repertório do show que o cantor e compositor pernambucano fará neste sábado (dia 29), no Teatro Ouro Verde, de Londrina. Gosto muito de “Canção da despedida”, feita em parceria com outro Geraldo, o Vandré. Deve constar também no programa. Tomara!

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Formatado em voz e violão, o espetáculo tem viés intimista e interativo já que a platéia certamente fará corinho nessa ou naquela canção. Assim acontece nas apresentações que o artista faz nos quatro costados.

Geraldo Azevedo gosta de cair na estrada – são mais de 40 anos de trajetória – levando a platéias diferentes seu estilo em que os elementos nordestinos estão entremeados de urbanidade e leves vibrações de Bossa Nova.

Hábil instrumentista e requintado melodista, ele sabe como valorizar as palavras advindas de parceiros como Carlos Fernando, Renato Rocha, Alceu Valença, Capinam e Fausto Nilo, para citar alguns.

No show, promovido pelo projeto cultural ConstruSom, da construtora Vectra, Geraldo Azevedo deverá incluir canções de seu mais recente disco “O Brasil existe em mim” (2007) e, provavelmente, do próximo “Salve São Francisco, álbum temático a ser lançado no início do próximo ano junto com um DVD em forma de documentário.

Ah, sim: em breve também estará na roda outro registro audiovisual, feito no dia 14 de novembro, no Circo Voador (Rio de Janeiro), contendo seus clássicos. Trata-se de uma parceria com o Canal Brasil.

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Nascido há 63 anos em Petrolina, às margens do rio São Francisco, Geraldo Azevedo é violonista desde os 12 anos. Em 1963, no Recife, integrou o grupo folclórico Construção, quando travou contato com Naná Vasconcelos e Teca Calazans, primeira cantora a gravar uma de suas obras, no caso “Aquela rosa”.

Acompanhando a cantora Eliana Pittman, conseguiu dar maior visibilidade ao seu trabalho no Rio de Janeiro. Isso em 1967. Foi na tal Cidade Maravilhosa que Geraldo juntou-se a Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Franklin e criaram o Quarteto Livre para acompanhar Geraldo Vandré. Claro, o faro de dobermann da repressão militar conseguiu dissolver o grupo e Geraldo Azevedo sentiu na pele as garras da ditatura: foi preso duas vezes, em 1969 e 1975.

Sobreviveu e levou adiante seu lirismo que ninguém tirou nem sob tortura. A seiva delicada escorre numa discografia constituída de 21 títulos solos e coletivos, entre eles o clássico “Cantoria”, de 1984, ao lado de Elomar, Xangai e Vital Farias, que teve um desdobramento quatro anos depois.

A coerência da obra o tornou um artista independente, fora do foco das grandes mídias. E assim mesmo seu público se renova. Há, sim, muita gente interessada em boa música. Geraldo sabe disso. E como sabe! O Ouro Verde deve se arrepiar nesse sábado.

Fale um pouco sobre o disco temático, o “Salve São Francisco”.

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É uma maneira que encontrei de chamar a atenção para o rio São Francisco que é da integração nacional, muito usado e que está muito descuidado também por causa das barragens, da transposição das águas… O São Francisco já foi majestoso e fico preocupado se ele se acabar. Nasci na beira desse rio, ele passa no meu coração.

Tem algo de protesto também?

Não chega a ser protesto, mas algumas visões críticas. No entanto, a maioria das canções é positiva. É um disco até romântico porque o São Francisco inspira muitos compositores. Todas as faixas têm participação especial como Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Djavan, Dominguinhos, Fernanda Takai e artistas novos como Márcio Porto e Vavá Cunha. Há canções inéditas e quatro regravações, entre elas “Petrolina Juazeiro”, feita com Moraes Moreira que anta comigo, e “Riacho do Navio”, do Luiz Gonzaga, que eu canto com o Alceu Valença.

Você se considera melhor melodista e harmonizador do que letrista?

Rapaz… Olha, eu sou muito exigente com a poesia, mas sou muito mais ligado à melodia, ao ritmo brasileiro. Essa diversidade brasileira me encanta muito, porém a harmonia ligada a uma boa melodia sempre me seduziu mais. E foi a Bossa Nova que eu absorvi e me tornou um profissional, um artista.

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Interessante isso. Para mim você era mais ligado a Luiz Gonzaga do que à Bossa Nova…

Olha, é inegável que Luiz Gonzaga foi importante para minha formação como compositor, mas foi a Bossa Nova que me fez interagir com a música de uma maneira mais estudiosa, de pesquisar harmonias, acordes. Agora, Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Dorival Caymmi foram importantes quando comecei a compor. Eu sabia muitas canções deles sem saber que eu sabia porque estavam ligados ao meu universo.

Olha só!

Talvez, no princípio, não valorizasse tanto pois dava mais valor à Bossa Nova porque era uma coisa diferente. Quando comecei realmente a compor Gonzaga, Jackson e Caymmi foram marcando minhas influências e passaram, assim como Tom Jobim, a ser importantes na minha carreira.

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Elba é sua cantora oficial, né?

É sim, não tenha dúvidas disso.

Qual outra intérprete você gostaria de ouvir cantando suas músicas?

Rapaz, o Brasil possui muitas cantoras bacanas. Das veteranas e famosas tem a Maria Bethânia, que eu considero muito importante. Das cantoras novas, tem a Monica Salmaso, que canta muito bem, sabe muito de música.

Você gravou com Elomar, Xangai, Vital Farias o “Cantoria”, clássico disco de 1984. Tem notícias do Elomar?

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Então, eu tentei resgatar o “Cantoria” novamente mas é complicado… Todo artista é complicado (risos). Tenho o maior amor, maior carinho pelo Elomar, que é um mestre, mas ele tem muita dificuldade em cair na estrada. Fica no meio do mato. De vez em quando, nas dificuldades financeiras, ele cai na estrada. Ele compõe muita ópera. Não é um artista popular, mas tem uma verve de compositor que é atemporal: vai do século 15 ao século 23.

Na época do projeto “O grande encontro” (junto Com Elba, Zé Ramalho e Alceu Valença) não faltou o Fagner?

O Fagner tem muita autonomia, chegou a ser diretor da gravadora (a antiga CBS), tem aquela coisa de ser produtor também… Não é uma pessoa fácil, mas é admirável a atitude dele em relação à força que deu a pessoas importantes como Amelinha e o próprio Zé Ramalho. Mas dividir trabalho com ele é muito difícil (risos).

Você tem uma canção com Geraldo Vandré, “Canção da despedida”, que eu adoro. Esse sumiu do mapa. Você ainda mantém contato com ele?

Rapaz, não tenho mais contato com ele. É uma pessoa complicada demais, é difícil chegar a ele. Eu sei que continua compondo, mas a dificuldade de me comunicar com Vandré foi tanta que eu desisti de procurá-lo. No DVD que Elba Ramalho acabou de lançar (“Raízes e antenas”) ela quis botar “Canção da Despedida”, mas não conseguiu a autorização dele.

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Falando em DVD, você vai lançar um também, né?

Olhe, repare: gravei um DVD que sai junto com o disco do Rio São Francisco. E gravei um show para DVD, que eu fiz para o Canal Brasil, ao vivo, com duas músicas novas, mas que abrange principalmente os grandes clássicos.

Você se diz um artista independente. A mídia foge de você, não lhe dá espaço suficiente?

É muito difícil entrar nas grandes emissoras de televisão… Não sou badalado pela mídia, nunca paguei jabá (risos). Na minha carreira as coisas acontecem por conta da minha obra, minha coerência e minha relação com boas harmonias. Eu me preocupo em fazer algo ligado à cultura nacional, mas com qualidade. A mídia, hoje em dia, não quer saber muito dessa coisa disso.

Prefere coisas para consumo imediato…

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Exatamente. Quase tudo passa pelo supérfluo. Eu tenho um grande público que é alternativo e se renova muito porque há muitos jovens com carência de algo que tenha consistência. Então a gente tem que ir aonde o povo está, como diz os versos do Fernando Brant na canção com Milton Nascimento. Eu viajo muito, sou um artista que vai pelas estradas desse Brasil imenso e também no exterior Mas eu gosto mesmo é do Brasil e vou a lugares longíquos com o maior prazer.

SERVIÇO

Show com Geraldo Azevedo.Sábado (dia 29), às 20h30, no Teatro Ouro Verde, de Londrina. Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (mediante doação de um quilo de alimento não perecível; os alimentos serão enviados às vítimas das enchentes em Santa Catarina. Pontos de venda: Pátio San Miguel, Brasiliano Bar e Cozinha, Capezio e nas bilheteria do teatro.Promoção: Vectra Construtora, dentro do projeto cultural “ConstruSom”

Mais informações sobre o artista no site www.geraldoazevedo.com.br