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MARIA SOB O CRIVO CIENTÍFICO
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LEO AVERSA/ DIVULGAÇÃO
OS PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS DE MARIA BETHÂNIA SERÃO DEBATIDOS EM CONGRESSO CIENTÍFICO EM FEVEREIRO DE 2010, EM SALVADOR: EVENTO, QUE CELEBRA OS 45 ANOS DE TRAJETÓRIA DA INTÉRPRETE, TERÁ PARTICIPAÇÃO DE JORNALISTA E PESQUISADOR PARANAENSE

Santa, Maria não é. Bethânia, verdade, tem seguidores tocados, pós-letrados, cristalizadores de épocas, carbonos, cambonos, apocalípticos, integrados, centrados, próximos, encantados. Uns mais, outros menos a serviço de profusões analíticas de uma divindade da música e artes cênicas brasileiras. Rosa em contínuo desvendamento, o fato: de 4 a 6 de fevereiro de 2010, os preceitos estéticos da intérprete baiana serão submetidos ao crivo científico.

Trata-se do “Congresso brasileiro sobre o canto e a arte de Maria Bethânia em 45 anos de palco”. Isso mesmo, um congresso com acentuação inédita e que deverá reunir pelo menos 200 pessoas em Salvador. O local do encontro ainda está sendo definido.

“Somos gratos pelo trabalho que Maria Bethânia desenvolve e por que não retribuir isso de forma científica? Além do mais, 45 anos de trajetória é uma data muito especial”, analisa Neide de Jesus, coordenadora do evento e presidente da Associação Cultural Rosa dos Ventos Bahia.

A entidade, fundada oficialmente em 6 de fevereiro de 2004, tem estatuto próprio e agrega 1,6 mil associados de vários pontos cardeais do Brasil e do exterior. Todos em sintonia ao que provém de Bethânia.

A sede da Associação Rosa dos Ventos, que tem como braço forte o fã-clube do mesmo nome, fica em Santo Amaro da Purificação onde há 63 anos nasceu Maria Bethânia Vianna Telles Velloso. Entre outras atividades relativas à artista, a entidade lançou algumas publicações como “Maria Bethânia Dona do Dom” (livro com poemas, crônicas e textos feitos por fãs), Dicionário Bethanês (com 800 verbetes) e até mesmo um livro de oração (feito por admiradores das mais diversas vertentes religiosas).

Neide de Jesus conta que Bethânia gostou da ideia. Ficou feliz. Agora, se ela dará o ar da graça no congresso paira o mistério. “Existe uma possibilidade, sim”, responde Neide laconicamente, que sublinha a seriedade do evento. “O congresso serve também para desmistificar que fã-clube existe só para fazer oba-oba. Nosso trabalho é direcionado para a ótica da cultura”, afirma.

Representante paranaense – A programação científica do Congresso Maria Bethânia contempla conferências, oficinas (uma de cordel), mesas redondas, colóquio e até uma visita à terra natal da intérprete. Entre os convidados, compositores (Roberto Mendes, Gerônimo, Capinan, Roque Ferreira,alguns dos nomes de linha de frente), estudiosos e pesquisadores como Marlon Marcos (jornalista e antropólogo), Ana Franco (teatróloga) Vânia Pinto (filósofa), para citar alguns.

O Paraná estará representado pelo jornalista e pesquisador Renato Forin Jr. que, em 2006, defendeu a monografia “O show Rosa-dos-Ventos: desvendando o processo de significação implícito no espetáculo musical de protesto”.

O trabalho foi contemplado como melhor monografia no Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense e irá se transformar em livro-reportagem. Revolucionário, o espetáculo “Rosa-dos-Ventos” estreou em 1971, com direção de Fauzi Arap.

“Estudei Rosa-dos-Ventos enquanto espetáculo de resistência política, enquanto um grito que chamou a volta de Caetano e Gil do exílio. Ao longo da pesquisa o trabalho cresceu e, a partir das fontes entrevistadas, fui encontrando, fragmentados no tempo, pedaços de uma história fascinante, mística, existencial”, diz Forin, para quem Maria Bethânia, há tempos, superou o patamar da fruição estética para se transformar em objeto de observação acadêmica.

LEO AVERSA/ DIVULGAÇÃO
BETHÂNIA LANÇA SIMULTANEAMENTE “TUA” E “ENCATERIA” QUE VERSAM, RESPECTIVAMENTE, SOBRE O AMOR E A FÉ. NOVA TURNÊ COMEÇA DIA 23 DE OUTUBRO NO RIO DE JANEIRO E APORTA EM DEZEMBRO EM CURITIBA

“A nossa diva” – Bethânia segue impávida rumo aos 45 anos de trajetória (a serem oficialmente assinalados no dia 13 de fevereiro do próximo ano) sendo saudada como a mais incisiva artista da música brasileira nos palcos.

A nossa diva, como a credenciou a reportagem de capa da edição de outubro da revista Bravo!, acaba de lançar simultaneamente dois novos projetos discográficos: “Tua” e “Encateria” através, respectivamente, da Biscoito Fino e Quitanda, selo próprio. Ambos foram gravados entre março e junho deste ano.

“Tua” com 11 canções inéditas (algumas com citações de canções a amarrarem uma narrativa), celebra o amor. O tema, outrora bastante recorrente em seus álbuns, não se verte às paixões desbragadas, aos amores e suas controvérsias fatais. Não, não.

Em 11 faixas, Bethânia toca em palavras com a mansidão dos sentidos pertinentes aos maduros . Delicadezas harmônicas envolvendo palavras – aliás, manuscritas pela cantora no encarte.

Confessional, “É o amor outra vez” (Dori Caymmi – Paulo César Pinheiro) dá logo no início a visão atual que Bethânia tem do amor, com a densidade do piano de João Carlos Assis Brasil a provocar inicialmente reflexões para que o samba-canção de burilada forma se alastre. Instrumentistas de fino trato, dialogam bem com o canto de Bethânia.

É o caso do bandolim de Hamilton de Hollanda em “Remanso” (Moacyr Luz – Aldir Blanc), o acordeonista Toninho Ferragutti em “Até o fim” (César Mendes – Arnaldo Antunes) e o acordeon ou Paulinho Trompete em “Fonte” (Saul Barbosa- Jorge Portugal) com direito a falsetes. Bela!

Roberto Mendes e Capinan entregaram “O nunca mais”, um dos raros momentos de saudade do que poderia ter sido. Não à toa, “Lamentação” (Mauro Duarte), feita em 1968, serve de prólogo à valsa. Lenine participa de “Saudade” (Chico César – Paulinho Moska).

“Encanteria”, o outro disco, versa sobre a fé em 11 onze faixas, entre inéditas e regravações. Roque Ferreira abre o trabalho com três faixas seguidas. As manifestações se dão incisivamente em (“Linha de caboclo”, Paulo César Pinheiro-Pedro Amorim), reverencialmente (a Dona Edith do Prato em “Saudade dela”, de Roberto Mendes e Nizaldo Costa; Caetano e Gil lá estão), melancolicamente interiorana (“Doce Viola”, de Jaime Alem) ou mesmo alegoricamente (“Ê senhora”, Vanessa da Mata).

“Tua” e “Encanteria” estão intimamente ligados. Se o primeiro álbum foi elaborado com amorosa linha poético-musical, o outro celebra impulsos devocionais que ajudam, inclusive, a formatar melhor os pensamentos. E sentimentos.

A cisão de amor e fé será melhor esclarecida no show de lançamento da turnê, que se inicia no dia 23 de outubro, no Canecão (Rio de Janeiro). O espetáculo terá direção de Bia Lessa. Dia 5 de dezembro as afeições de Bethânia passam em Curitiba. Bom saber!

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