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A postagem era outra. Aí, me lembrei que o teto já foi católico, o ori tornou-se de Oxum e o dia pertence à Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A quem Antônio, meu pai, junto à imagem grande, levou-me embrulhado – eu miúdo de poucas horas e muito choro – para me entregar à vida.

Sob suas bênçãos, senhora maior, tornei-me mais um brasileiro. Um Antônio qualquer sob a perplexidade da metafísica. Maria das aparições, Nossa Senhora de Aparecida. Das águas doces e das redes que, em vez de peixes, colheu imagem. Negra senhora do manto azul marinho.

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Santa negra do Brasil mestiço, estática e engessada e reproduzida, adornada com lantejoulas douradas e pano de veludo: olha, hoje, como o Brasil reforça cantilenas e pede e pede e pede com beiços grossos e finos seu antemparo. Homens de cantos grossos e mulheres em simetria assustadora. Eis o mistério da fé!

Eu peço paz! Não a paz de atônitas intenções, que faz gente vestir branco e abraçar lagoas e árvores e monumentos e chamar a televisão para deixar tudo às claras. Peço paz às causas do coração, aos desejos mais simples e sussurrados. Aos clamores espontâneos.

Nossa Senhora a zanzar na medalhinha – Desatadora dos Nós também – tão baratinha quanto afetivamente me é cara a correntinha de ouro dada por minha Eurídice, brava e devota, “mãe da manhã, de tudo eu faria/ pra conservar vosso amor”.

Negra Senhora de uma parcela do Brasil com pretensão a europas. Aparecida! Deus nunca se mostra, não se deixa colher em vão e, pregam alguns de seus funcionários públicos, não estabelece contatos imediatos, só com hora marcada ou quando a água beira a boca ou o poço seca.

E, dizem ainda, ser Deus um brasileiro. Minha intimidade é mais com Aparecida. Senhora, um pedido, agora por escrito: olhe pelo João que ao pó está retornando mais cedo do que se poderia imaginar…

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Nossa Senhora! Mais que expressão, nossa senhora! Das águas doces, cujo sincretismo doura minha cabeça (ora yê yê), valha-me como homem, o todo. Velas e flores aos seus pés, mão direita em seu manto azul, o sinal da cruz, os sentidos pertinentes.

O cheiro de parafina empestando o ambiente, as flores de plástico e pano, rosas azuis plantadas em cimento, fitinhas para os punhos, frituras embaçando estufas, a água benta nos carros, o foguetório: “Salve, Nossa Senhora de Aparecida”.

Salve! A religiosidade no formato necessário. Eu a dobrar joelhos, a ficar em pé no último banco da igreja, as missas impressas servindo de leque e os olhos mirando a senhora. Tudo está no devido lugar. A coisa, o ato e a fé. O ato, mais precisamente!

MINHA NOSSA SENHORA
(Fátima Guedes)

Que que é isso que se costura

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na minha alma

doce sutura, futura calma

que a prece alcança na paz de Deus.

E até mesmo se há alguém que pense

que a morte é sonho,

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melhor viver nessa vida um sonho

que eu possa ver pelos olhos teus.

Pois sabendo que um dia é sempre

chegada a hora,

eu peço, oh Minha Nossa Senhora,

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que estenda a mão sobre o meu país.

Quem te implora é outra Maria,

a Maria qualquer, a Maria aprendiz.

Eu também quero ser

– quem não quer? –

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quero ser feliz
……..

(ouça a canção no www.fatimaguedes.com.br .Clique no link discografia/ CD Grande tempo/Faixa “Minha Nossa Senhora)……